A noite

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   A minha mãe morreu. O meu pai foi para o estrangeiro. Beijei o André. Demasiado para a minha cabeça, mas pronto, tenho de tentar lidar com isto.

   *Chamada On*

   -Amor?- pergunto.

   -Estou? Amor, diz- responde o Gonçalo.

   -Posso ir ter contigo a tua casa, preciso de falar contigo.

   -Os meus pais foram visitar a minha avó e vão ficar lá estes dias, podes vit cá dormir, se quiseres.

   -Ai, isso ja não sei.

   -Oh Amor, fogo, anda cá dormir, tenho saudades, não foste à escola hoje.

   -Ok ok, vou arranjar a mala, mas não vai acontecer nada, ok?

   -Sim, está bem!

   -Vá, até logo. Amo-te.

   -Eu também.

   *Chamada Off*

   Fui arranjar a mala para levar naquela noite. Precisava de falar com alguém, especialmente com a Bianca, mas não podia, porque ela estava mesmo chateada.

   Quando acabei de meter tudo para dentro da mala, mandei uma mensagem ao Gonçalo a dizer que ia apanhar o autocarro.

   *Telemóvel Vibra*

   -Oki. Até já.

   Fiquei quinze minutos à espera do autocarro, entrei e sentei-me ao pé de uma senhora com cerca de 50 anos.

   -A minha casa era ali- disse ela apontando.

   Para não ser mal educada respondi-lhe.

   -Hum, e onde vive agora?

   -Debaixo da ponte-respondeu, cabisbaixa e triste-o meu filho fez-me a vida negra depois de o ter proibído de namorar com uma prostituta, que me tentou assaltar uma vez. Desviou o dinheiro da minha conta e não consegui pagar as propinas. Despejaram-me.

   -E não tem mais filhos?-perguntei, chocada.

   -A minha filha mais velha morreu e a minha mais pequena não quer saber de mim. O meu outro filho está no hospital com cancro. Induzaram-lhe o coma até poder ser operado. Não consigo arranjar 35 mil euros do dia para a noite, vivendo de baixo da ponte, torna-se impossível. Tento pedir dinheiro, mas ninguém mo dá.

   -E conseguiu dinheiro para o autocarro?-interroguei.

   -Sim, uma boa menina deu-me 5 euros e consegui comprar uma caixa de cereais e uma garrafa de água de dois litros para esta semana e ainda sobrou para apanhar o autocarro e ir ao hospital ver o meu Diogo.

   -Que idade tem ele?

   -Tem 18 anos-a senhora deixou escorrer uma lágrima pelo rosto.

   -E o seu marido?

   -Divorciámo-nos e tentou matar-me!-ela começou a chorar.

   -Tenha calma minha senhora!

   Tentei acalmá-la, mas ela não parou de chorar. Às vezes faz bem chorar, limpar os olhos e aliviar o coração.

   -E tu minha filha, que idade tens-perguntou ela quando se acalmou.

   -Eu tenho 15.

   -E qual é a tua história?

Why?   *PT*Onde histórias criam vida. Descubra agora