Prólogo

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1985 

Em uma cidadezinha qualquer, uma garota chamada Katharine vivia o auge de seus quinze anos, rodeada de bebidas, drogas, sexo e qualquer outro prazer que o mundo pudesse lhe oferecer.

Sua família era muito mais tradicional do que um dia poderemos admitir: seu pai era um microempresário explosivo e constantemente alcoolizado, seu comportamento agressivo já era visto como uma característica forte de sua personalidade repugnante.

Sua mãe era uma dona de casa dedicada ao marido. Casando-se com apenas treze anos, foi ensinada a nutrir um amor unilateral por aquele que tanto a agredia, sempre ceder e nunca questionar. Hematomas e fraturas eram sempre vistos por todo seu corpo.

Sua família não era perfeita, e eles tampouco faziam questão de emular isso. Kate passava o tempo que podia fora de casa, entorpecida por qualquer coisa que a tirasse da realidade amargurante em que vivia. Ela nutria a fama de puta que recebera com fervor, e não se importava de ser tachada de tal forma, desde que estivesse em êxtase, tudo estaria bem.

Seus pais nunca tentaram intervir na destruição precoce da filha, era mais fácil e menos desgastante fingir não ver do que agir, desde que ela não lhes causasse problemas, pouco importava em quem ela sentava ou que porcaria usasse. Eles gostavam do conforto que a ignorancia oferecia.

Por uma atrocidade sem perdão, a década de 80 foi marcante para a família e, fundamental para a queda do mundo.

Chegando em casa em estupor de bêbado como de costume, o homem (se é que um verme de tal magnitude pode ser classificado assim), aproveitou-se da vulnerabilidade de sua filha inconsciente e da ausência de sua esposa.

A jovem Kate despertou horas depois com as marcas do abuso que sofrera daquele que nunca desempenhou o papel de pai, mas que nem em seus piores pesadelos apresentou tal monstruosidade.

Com as feridas físicas e emocionais que ela nunca poderia esquecer, ela chorou por horas tentando assimilar e reagir ao feito.

Para maior sofrimento da garota, sua mãe achou mais fácil culpá-la que aceitar que aquele que ela tanto chamara de amor, era, na verdade, um monstro.

Sendo expulsa de casa, ela por sorte — ou maldição —, foi hospedada por uma amiga que não mediu esforços, em lhe ajudar a se livrar daquela marca tão cruel semeada por seu pai: um filho.

Quando a gravidez se mostrou uma certeza, as tentativas de aborto tornaram-se um hábito. As tentativas frequentes de livrar-se "daquilo" perduraram por quatro meses, entretanto, as tentativas pareciam ferir apenas a Kate, e não a criança.

Ao quinto mês, ela foi apresentada a uma solução que parecia fantasiosa demais para ser real, e simples demais para ser ignorada. No entanto, para isso funcionar, a criança teria de completar seu ciclo, sendo assim, Kate arrastou sua gravidez até o nono mês, quando aquele que ela sempre chamou de "demônio" nasceu, dando início, ao fim de tudo e todos.

Continua...

A Filha do DiaboOnde histórias criam vida. Descubra agora