<Atualizado>
Com o sono um pouco mais leve, senti uma quente respiração contra meu rosto. À princípio tive um pouco de medo, mas quando comecei a abrir os olhos, pude ver ainda com a vista embaçada, que era Derick. O medo se foi.
-O que você está fazendo aqui?-Indaguei confusa.
-Eu acordei com o barulho e achei que você merecia saber o que está prestes a enfrentar.
-Do que você está falando? Será que da para ser claro?
-Hoje é um dos dias em que o seu namoradinho se diverte às nossas custas. Como você é mulher, vai receber tratamento de choque e possivelmente um abuso coletivo.
Talvez pelo sono, as coisas ainda estivessem muito confusas para mim, e isso provavelmente ficou perceptivo, pois ele resolveu explicar as coisas de uma maneira melhor:
-A sei lá quanto tempo me trouxeram para cá, por motivos particulares, eu sabia como as coisas funcionavam aqui, então eu fiz uma "birra" ate que me deixassem ficar com o violão. Foi a melhor coisa que já fiz na minha vida, pois garças a ele eu ainda não fiquei louco.
Enfim, eles começaram a me cedar e a me levar pra um lugar onde tudo de ruim te espera. Eu perdi a noção do tempo. Literalmente. E as vezes eu sequer sei se está de dia ou noite nesse maldito lugar.
Agora à pouco, eu ouvi um grito e um pedido de ajuda, então isso quer dizer, que hoje é um dos dias em que eles levam pacientes lá pra baixo e fazem o que querem. Esqueça tudo sobre dor que você já conheceu. Não importa o que seja, lá em baixo vai ter algo muito pior."
-Mas que porr... -Fui interrompida por ruídos humanos que me paralisaram. Mesmo sem ver, eu podia sentir o desespero naquela pessoa, o que me apavorou instantaneamente. Os ruídos eram distantes, porém claros e sofridos demais.
-Eu preciso voltar pro meu quarto, acho que minha hora está chegando. Esteja preparada para a dor July, e, sinto muito pelas coisas que vão acontecer lá em baixo.-Dito isso, Derick voltou para seu quarto, me deixando outra vez sozinha.
Eu podia sentir a pulsação acelerada por todo o meu corpo. Eu queria correr, mas meu corpo permanecia imóvel, aumentando cada vez mais, o medo de algo que eu ainda não conhecia.
Alguns longos minutos depois, consegui me mover. Os sons haviam cessado, porém ainda eram muito claros em minha mente.
Segui para o banheiro, onde tomei um banho na intenção de relaxar e me distrair um pouco. Funcionou. Eu havia entendido que sofreria em breve, mas me apavorar antes do tempo, não ajudaria em absolutamente nada.
***
Eu estava deitada na cama, fitando o teto quando Henrique entrou de repente.
-Pegue o elevador e vá até o salão principal. O Kevin quer falar com você.
Apenas assenti com a cabeça, e esperei até que ele tivesse ido embora para me levantar e ir até o elevador. Eu queria o mínimo de tempo possível com aquele homem.
De frente para o elevador aberto, me deparei com Derick estirado ao chão do mesmo. Havia sangue por quase todo o seu corpo. Seu rosto esteva inchado e assustadoramente ferido.
Me apressei em ajudá-lo a voltar para seu quarto, onde ele não estaria tão exposto, e eu poderia cuidar de suas feridas.
-Tenta fugir July... o Kevin vai matar você.
-Esquece isso. Se concentre em ficar vivo no momento.-Respondi com dificuldade, conduzindo-o.
Deitei o mesmo sobre a própria cama, e fui até o banheiro, onde busquei uma toalha e a humedeci, para limpar os ferimentos.
Durante esse processo, Kevin apareceu no quarto.
-Mas que merda aconteceu aqui?-O mesmo indagou surpreso.-Quem fez isso com você? Você precisa ser levado à um hospital!
"Quem diabos está mentindo aqui?"- Me indaguei.
-Venha July!-Kevin quase gritou.-Eles não podem fazer isso com você também.
Sendo puxada pelo braço, fui forçada à ir para o elevador.
-Eu não quero ir!-Protestei tentando escapar.
-Ora July, eu não que sei que mentiras aquele assassino te contou, mas eu estou do seu lado lembra? Eu vou te ajudar a fugir.
"Assassino? O Derick?"
Antes que eu pudesse me afastar ou dizer algo, o elevador se abriu. E com um arrepio descendo a espinha, eu percebi que tudo tinha acabado para mim.
Estávamos em um subsolo incrivelmente escuro. As únicas iluminações, eram algumas lanternas nas mãos de alguns homens.
-Mas que prazer recebe-la aqui July! Eu estive pensando neste momento desde que li sua fixa!-Henrique surgiu em meio à escuridão, com uma lanterna em meu rosto. Mas logo depois, o mesmo voltou a desaparecer na escuridão.
Kevin me sentou em uma cadeira, onde eu tive os braços e pernas amarrados.
O mesmo se posicionou em minha frente, colocando a lanterna no chão para que nós dois fossemos iluminados.
Ouvi um daqueles ruídos humanos, e o pânico se instalou novamente.
-O que foi isso?-Minha voz saía falha pelo medo.
-Isso July...-Kevin sussurrou se aproximando de mim.-É a canção do medo, ou, apenas um grito de dor, de desespero, de repulsa pela morte! Mas não se preocupe, você também participará desse coral de horrores.
Seu rosto parecia diferente. Seus olhos brilhavam com o prazer do medo que eu sentia. Seu coração estava acelerado, mas de puro ânimo e felicidade.
Se afastando um pouco, Kevin apanhou um pequeno controle que estava ligado à cadeira em que eu estava.
(Nota da autora: Lembrem-se sempre do que acontece nessa cena, para melhor entendimento de capítulos futuros!)
-Vai queimar por dentro, viu?-Dito isso, Kevin apertou o botão que fez a cadeira e meu corpo estremecer, porém sem nenhuma dor.
-Acho que seu brinquedo quebrou.-Gargalhei.
-Mas que diabos!-O mesmo apertou o botão inúmeras vezes, mas sem resultado.-O que você está fazendo sua vadia? Hein? Me fala!
Meu medo se tornou ódio. Um ódio incontrolável, que me consumia e me fazia querer feri-lo.
-Vou fazer com você, o que fez com sua mãe! Sua psicopata maldita!
-Eu não matei ela!-Meu grito pareceu percorrer por todo o lugar.
As lanternas pararam de funcionar, e o silêncio foi absoluto.
De repente, surgiram gargalhadas de todos os lados. Pareciam até feitas diretamente em nossos ouvidos.
Em pouco tempo o pânico era geral. Todos gritavam e tentavam encontrar algo em meio à escuridão.
Quando a luz voltou, para minha própria surpresa, eu estava dentro do elevador em movimento, subindo novamente, para o corredor de meu dormitório.
Continua...
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A Filha do Diabo
HorrorAs pessoas costumam atribuir atos perversos a entidades desconhecidas, eu as associo à humanidade. Vivendo no mundo, nota-se o quão infernal é a terra que muitos chamam de "lar", mas vivendo no inferno, nota-se o preço caro que se paga por uma vida...