<Atualizado>
Meus impulsos foram mais fortes do que eu pude conter. Logo Derick e eu estávamos dentro da casa, onde parecia impossível encontrar as duas.
Reviramos cômodos e cômodos atrás das mesmas, mas tudo que conseguíamos contemplar era a escuridão, que parecia abraçar o local a cada passo perdido que dávamos na madeira velha.
O som de nossos passos ecoavam com uma altura inexplicável, e isso por vezes, nos tapeou naquela busca desesperada.
-July!-Derick disse ao me encontrar depois de minutos andando pela casa.-Elas simplesmente desapareceram!
-Ou talvez elas sequer estivessem aqui...-Uma voz suave e sedutora parecia ter sussurrado em nossos ouvidos.
-Não tem como isso ser possível! Elas estavam aqui! Eu vi e ouvi! Estavam!-Eu disse aquilo mais para mim do que para Derick, e voltei a vasculhar tudo.
Foi quando uma ideia surgiu e eu me senti a pessoa mais estúpida do mundo, por não tê-la cogitado antes.
-O porão!
-E onde fica isso?-Derick indagou.
Sem me dar ao trabalho de responder, eu apenas fui em direção à pequena portinha ocultada por um tapete de crochê.
Escancarei a porta e me afundei naquele lugar sem sequer imaginar consequências.
Para minha surpresa, lá dentro tudo estava calmo e arrumado. O chão estava coberto com um grande tapete de pelúcias, uma mesa de chá ao centro, e um suave piano ecoava de um pequeno rádio sobre a mesa, junto à um jogo de xícaras incrivelmente delicadas.
Gabrielly e sua mãe estavam sentadas à mesa. Uma de frente para a outra num completo silêncio. Eu poderia até dizer que suas almas não habitavam seus corpos naquele momento.
-Mas que diabos...-Derick sussurrou ao descer também.-O que é que está acontecendo aqui July?
-Eu juro que eu não sei...
Ficamos alguns instantes olhando para aquilo. Era sem dúvidas o cenário mais tranquilo que eu já vira, e ainda assim, o mais assustador.
Uma das xícaras do belo jogo de porcelanas explodiu, tirando as duas daquele "transe", e devolvendo o desespero à seus olhares.
-Mamãe eu tô com medo...-Gabrielly chorava.
Ouvimos três batidas na portinha e a música cessou. Outras três batidas pareceram vir de algum lugar na parte superior da casa. Outras três batidas que pareciam vir de dentro das paredes. Mais três batidas, mais três, mais, mais, mais...
-Mamãe,-A garotinha sussurrou paralisada.-Tem alguém atrás de mim.
A escuridão foi geral outra vez, só que agora nós ouvíamos passos por todos os lados da casa, alguns pareciam presentes dentro da minha própria cabeça, causando uma sensação insuportável.
O passos foram cessando à medida que vozes dominavam nossa atenção.
Pareciam várias pessoas falando ao mesmo tempo, e por fim, entraram em um consenso, pois ouvimos uma voz por vez.
"Derick meu amor eu voltei pra você!", "July... venha dar uma olhada na mamãe", "Gabrielly, o papai veio tirar você da mamãe má! E você querida, já nem tem mais marcas e feridas, precisa de novas!"
-Para!- A mulher se descontrolou caindo no chão e mergulhando num choro profundo. A garota a acompanhou, e fez o mesmo.
-July, temos que parar isso.-Derick disse ao me reencontrar no escuro.
-O que você quer que eu faça?-Gritei com todo o ar de meus pulmões, e após isso, as luzes voltaram a acender, revelando minha mãe, ou o que um dia fora ela, bebericando um líquido preto e fedido de uma outra xícara.
-A mamãe veio buscar você meu docinho...-Ela disse roucamente em minha direção, com seu rosto cadavérico, e sem globos oculares.-... veio pra realizar o seu pior pesadelo, e te levar pro inferno onde você me jogou!
Ela sorriu e seu corpo destruído foi aos poucos, derretendo. Escorrendo lentamnete da cadeira até o chão, onde sem pressa nenhuma, foi tomando a forma sempre encapuzada de Abalam.
-Olá minha filha, suponho que já saiba o que tem que fazer, certo?
Continua...
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A Filha do Diabo
KorkuAs pessoas costumam atribuir atos perversos a entidades desconhecidas, eu as associo à humanidade. Vivendo no mundo, nota-se o quão infernal é a terra que muitos chamam de "lar", mas vivendo no inferno, nota-se o preço caro que se paga por uma vida...