<Atualizado>
Quando as duas levantaram de manhã, eu já havia limpado todo o sangue da casa, me trocado, e preparado o café da manhã. Felizmente Tamara havia separado várias peças de roupa que eu pudesse usar durante a minha estadia.
- Booom Diiaaa. - Gabi cantarolou adentrando a cozinha.
- Bom dia mocinha. - Respondi lhe servindo.
- Não precisava ter se incomodado July... - Tamara disse se servindo e sentando à mesa junto de sua filha.
- Não é incomodo algum.
-Ontem à noite eu fiquei tão atordoada que nem me toquei sobre aquele sangue, era seu né? Você precisa de curativos? Nós temos alguns remédios aqui.
- Não se preocupe, não foi nada preocupante. Na verdade parecem apenas arranhões. - Sorri ao mentir.
Na verdade eles haviam sido profundos, e hoje, fazem parte da minha coleção de cicatrizes. Cada um com uma história sobre minha vida na terra.
- Me desculpe de verdade, July. Eu não queria fazer isso. - Gabi choramingou. - Foi tudo culpa da Kate. Eu juro.
- Eu acredito em você. - Sorri.- Ela é muito malvada. Mas não se preocupe que em breve ela não te dirá para fazer mais nada.
Quando a pequena terminou de comer, subiu para seu quarto para brincar com suas bonecas. Em sua ausência, outra conversa difícil se fez.
- O que é essa tal de Kate?
- Ela... - comecei sem sabe como explicar um absurdo daqueles. - Era a minha mãe...
Tamara se engasgou com o café e me olhou perplexa.
- No noticiário diz que você matou ela, então, é verdade? É por isso que esse espírito maldito atormenta a minha filha?
- Eu não matei ela! Sempre tenho que repetir pra todos. Não fui eu. - Essa mesma questão me incomodava demais.- Nós vivíamos nessa casa quando eu era criança, e acho que aquela coisa que apareceu na noite em que o Derick... enfim, acho que aquela criatura foi a responsável pela morte dela. Mas talvez ele tenha sido apenas o mandante.
Claro que eu sabia da minha participação com a carta. Mas se eu fosse que as coisas teriam seguido esse rumo, jamais a teria respondido.
- E o que essa coisa é? Eu sempre tive medo de pensar a respeito, mas ter uma conclusão talvez me acalme mais.
"Ele é um demônio". - Pensei enquanto minha mente passeava pelo inferno que ele me mostrara.
- Ele é isso. Uma criatura apenas. - Tentei mentir, mas creio não ter sido convincente. Mudando o rumo da conversa, disse que precisava ir ao banheiro.
Subi as escadas tentando não transparecer os medos de meus próprios pensamentos. Eu não queria mentir para ela, mas também não queria lhe entregar o fardo de tantas informações loucas, e que pareciam sem conexão alguma.
Fiquei sentada no vaso fechado pensando sobre o Abalam, até ouvir batidas, mas que pareciam vir do espelho. Me levantei desconfiada e ao olhar no reflexo, vi o maldito que tanto me atormentava.
- Você deve matar as pessoas July, não tentar ajudá-las.
- O que você quer aqui? Deixe elas em paz! - Sussurrei entrando outra vez em desespero.
- Eu quero almas meu bem. Você com toda esse poder reprimido aí dentro, sempre manda elas direto pra cá, sem julgamentos, sem redenções, sem esperanças! É perfeito!
- Como assim mando direto? - Eu tinha entendido o que ele insinuava com tanta felicidade, mas uma ponta de esperança pedia por uma outra resposta.
- Isso mesmo querida. Todos que você mata vêm direto pra cá.
- Derick... - Sussurrei em choque.
- Você pode visita-lo sempre que quiser, não se preocupe. Mas acho que você não gostou muito da nova aparência dele. - Suas gargalhadas pareciam ecoar dentro de minha cabeça, me deixando ainda mais desnorteada.
- Do que diabos está falando?!
- O seu amado lhe serviu tão bem quando esteve aqui. Você não pareceu se incomodar de ter um assento tão importante nesse coraçãozinho...
- Não pode ser!
Levei a mão à boca para calar meu choro, e me agachei enquanto soluçava descontroladamente.
"Aquela criatura de quem tive tanta pena, tanto nojo. Era ele! Como eu pude ter feito algo tão cruel para alguém que tanto me ajudou!?"
Me levantei outra vez e encarei o espelho. Dessa vez apenas meu rosto inchado e banhado de lágrimas era refletido.
- Não toque nelas July... Não as machuque... - Sussurrei saindo do banheiro.
Continua...
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A Filha do Diabo
HorrorAs pessoas costumam atribuir atos perversos a entidades desconhecidas, eu as associo à humanidade. Vivendo no mundo, nota-se o quão infernal é a terra que muitos chamam de "lar", mas vivendo no inferno, nota-se o preço caro que se paga por uma vida...