<Atualizado>
Movimentei as mãos no escuro, em busca de um dos cantos mais distante daquele odor insuportável, e li me deitei com os pés para cima, apoiados na parede. Ainda estava intrigada sobre como eu poderia ter matado aquele homem e não me lembrar. Derick parecia perturbado demais para estar mentindo, e agora ele também estaria em perigo por minha culpa.
Acariciando meu braço, senti que algumas partes estavam "inchadas", e mais duras do que deveriam. Encontrei as mesmas coisas na barriga e nas pernas, mas estava escuro demais para que eu conseguisse identificar o que quer que fosse.
A porta foi aberta com um ruido ensurdecedor.
-Olá.-Uma voz masculina vindo do escuro disse roucamente. Logo sua silhueta era visível atravéz do fecho de luz que entrou junto ao mesmo.-Henrique me contou que temos uma moça especial aqui, e me pediu para dar as boas vindas de sempre. Depois de um tempo comigo e umas coisas que eu sempre trago, as mulheres não aguentam. Ficam meio 'ocas' sabe?-Ele gargalhou.- E isso sinceramente, acaba com todo o prazer. Então quando chega uma garota tão nova e sem experiências como você, eu piro só de imaginar.
"De novo não"
***
Eu estava parada no meio do corredor. Um bisturi na mão e ainda mais sangue espalhado por meu corpo. Havia gosto de sangue em minha boca, e ao sentir algo 'sólido' dentro da mesma, cuspi quase que involuntariamente, notando então, que era um pedaço de carne humana.
Me assustei ao olhar em volta. Todas as pessoas me encaravam espantadas, mas uma em específico, se destacou em meio à toda aquela barbárie.
Nosso olhar se encontrou, e em instantes, tive a sensação de estar dentro de seu corpo. Vasculhei todas as suas memórias, encontrando então, uma bela noite que teria levado seu nome às letrinhas miúdas dos jornais, mas grandes o suficiente para chamarem a atenção de Henrique.
"Ela estava em um banheiro público.Sentia uma dor intensa, que variava os intervalos e vinha com cada vez mais força. A mesma se deitou no chão, e colocou toda a energia que lhe restava em 'empurrar'. Logo a criança já havia nascido, e ela não tinha ideia sequer, do que faria dali em diante.
Seu coração se encheu de ódio ao lembrar-se que o pai daquele bebê, o homem à quem ela tanto amava, jamais a transformaria em algo mais que amante. Ele a evitava desde que tivera conhecimento da gravidez, então talvez aquilo fosse a solução. Ela 'tinha' que acabar com a criança para voltar para ele.
E assim ela socou, esmagou, cuspiu e matou, o que deveria ter sido o seu protegido. O que deveria ser uma nova vida, amada e cuidada, mesmo que apenas pela mãe."
Retomei parte do meu controle, a outra parte estava cheia de ódio e ira.
-No fim...-Comecei me aproximando de sua sela.-Acho que você merece o destino que tomou. Ou não. O que você acha?
-Eu não mereço o que eles fazem comigo!-Ela já estava aos prantos àquela altura.
-Resposta errada.
Com um pequeno esforço a cela se abriu, me permitindo estar à poucos centímetros daquela maldita mulher.
-Por favor não....-Ela implorava, e isso me satisfazia de uma maneira absurdamente estranha.
-Shiiii...-Segurei seu rosto com uma mão, encostando o bisturi em sua bochecha com a outra.-Vai acabar rapidinho.
-Sai dai July!-Henrique gritou detrás de mim.
Ele e mais dois policiais estavam posicionados com armas nas mãos.
-Fazem tanta questão assim de um ser tão imundo? Que seja. Nosso destino já foi traçado.-Soltei o bisturi e olhei no fundo de seus olhos outra vez.-E um dia, eu irei mata-la.
Me virei e fui ao encontro de Henrique, permitindo sem nenhuma relutância, que prendesse outra vez naquele lugar.
Sem nenhum motivo aparente, ele apertou algum botão do lado de fora, fazendo com que uma luz se acendesse. Revelando assim, o corpo deformado do homem que me visitara minutos antes.
Olhando mais atentamente, notei diversas mordidas por todo seu corpo, que me deram a certeza de que eu havia feito aquilo, só restava saber como.
Acariciei outra vez o meu braço, mas ao invez de sentir um inchaço como anteriormente, senti minha pele rasgada. Parecia ter sido raspada até se abrir. Como se aquele buraco já estivesse ali anteriormente, e eu só tivesse que abri-lo, mas para que?
"Para tirar um bisturi?!"
Continua....
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A Filha do Diabo
HorrorAs pessoas costumam atribuir atos perversos a entidades desconhecidas, eu as associo à humanidade. Vivendo no mundo, nota-se o quão infernal é a terra que muitos chamam de "lar", mas vivendo no inferno, nota-se o preço caro que se paga por uma vida...