<Atualizado>
Antes que eu conseguisse indagar mais, ouvi o som de algo sendo raspado. Era um barulho bem desconfortável, e parecia vir de um comodo próximo.
Saí do banheiro e segui o som, chegando até um cômodo com a porta fechada. Bati na porta e chamei as meninas. Minha voz ecoou por todo o corredor suavemente, até cessar.
Olhei pelo buraco da fechadura na tentativa de ver o que causava o ruído, e me deparei com aquela figura horrenda que agora abrigava a alma de Derick.
Abri a porta abruptamente, mas só encontrei o vazio, a criatura parecia ter simplesmente desaparecido. Notei arranhões no piso, e adentrei o quarto para ver até onde iam.
Eles seguiam para a parte de trás da porta, e assim que a fachei, vi um recado escrito com arranhões sujos de sangue:
"Eles estão chegando, e eu já ouço os gritos;
Logo estarão entrando, se tornarão lendas, mitos;
Você não pode evitar, e logo te deixarão em casa;
Mesmo que tente fugir, por anos estará trancada;
Poupe a alma delas, e entregue a sua;
Ou dê adeus a vida delas, pois a sua vida, continua."
Meus olhos lacrimejaram e meu corpo todo paralisou. Fiquei lendo e relendo aquele recado, tentando decifrar cada palavra. Eu sabia que algo terrível aconteceria se elas continuassem ali, por isso os meus esforços, mas quem estaria chegando, e por quê?
— July! — Ouvi a voz de Tamara do corredor, o que foi suficiente para me despertar de meus pensamentos.
Fechei os olhos num profundo suspiro a fim de me recompor, e quando os abri, não havia mais recado algum, apenas um envelope, que ao abrir, descobri estar cheio de dinheiro.
Saí do quarto com aquilo em mãos, e o entreguei à Tamara.
— Aqui deve ter mais que o suficiente pra a mudança de vocês. Use o resto para se assegurar que Gabrielly terá um bom futuro, por favor.
Tamara parecia estar em uma ponte, indecisa entre aceitar uma grande quantia sem procedentes — por uma mulher procurada por todo o país — ou permanecer naquele lugar. Era uma decisão difícil, eu sabia, mas a pulsação de meu corpo e a inquietação de minha mente me diziam que eu não tinha tanto tempo para suas reflexões.
— Preciso ir ali fora checar uma coisinha. Sei que você fará a coisa certa, e salvará sua filha dessa casa. — Sorri tentando parecer segura de minhas palavras.
Desci as escadas pulando vários degraus de uma vez, e fui para o exterior da casa. Eu sentia um formigamento incomum por todo o corpo, e uma sensação incomoda de estar sendo observada.
Dei uma caminhada ao redor da casa e entre algumas árvores, mas não parecia haver nada de diferente. Caminhei mais um pouco e fui até o lago.
Me aproximei da água e fitei meu reflexo distorcido por seus movimentos sutis. Todos os meus instintos estavam a mil naquele instante, entretanto, tudo à minha volta parecia estar bem, estranhamente bem...
Continua...
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A Filha do Diabo
HorrorAs pessoas costumam atribuir atos perversos a entidades desconhecidas, eu as associo à humanidade. Vivendo no mundo, nota-se o quão infernal é a terra que muitos chamam de "lar", mas vivendo no inferno, nota-se o preço caro que se paga por uma vida...