<Atualizado>
-Eu acho que nem me apresentei pra você... meu nome é Tamara. - Ela disse notavelmente nervosa, mas tomando cuidado para ser gentil.
-Bom, você ouviu sobre mim no noticiário, então acho que não preciso me apresentar. Mas também não quero causar mais problemas para você ou sua filha, então, já vou indo. - Falei me levantando.
-Você me pediu pra confiar em você, e jurou que não machucaria nem à mim, nem à Gabrielly. Eu estou confiando! E também quero entender essa história toda, ou vou pensar que essa noite não passou de um surto.
-Eu adoraria te explicar o que aconteceu, mas eu também não tenho a menor ideia do que foi tudo aquilo. E pensando bem, não seria nada mal descobrir que isso foi um surto coletivo.
Ela deu um sorriso e a tensão pareceu diminuir um pouco naquele momento.
-Se aquele homem não tivesse aparecido ontem, talvez eu estivesse morta agora... Então, pra amenizar toda essa confusão, o que acha de entrar e tomar um banho? Eu preparo um café e você me diz quem era ele, e aquela, coisa também.
Aquela simples menção ao Derick foi o suficiente para marejar meus olhos novamente, mas por fim, eu aceitei o banho e uma cama para dormir antes de termos aquela conversa.
Fiquei no quarto da Gabrielly; e ele se assemelhava muito com o mini reino de uma princesa. E foi em meio à tantos brinquedos e fotos felizes, que eu me dei conta do quanto da minha vida eu já havia perdido.
Toda a minha infância carregada por sangue e histórias que naqueles dias, eu ainda não conhecia e sinceramente, preferia ter continuado assim.
Me deitei na cama fofa e repleta de pelúcias.
Mesmo com tantas coisas na cabeça, eu cedi ao cansaço e felizmente ou não, peguei no sono bem rápido.
"Abri os olhos incomodada com o suor que escorria de meu rosto. Fazia um calor inexplicavelmente absurdo, e tudo parecia tão claro que quase chegava a brilhar.
Ainda sentada na cama eu ouvi ao longe, uma voz suave acompanhada de um violão. Eu não pude identificar o que estava sendo dito, mas não demorou muito para que eu reconhecesse a voz de Derick.
Me levantei abruptamente e corri para fora do quarto. Desci as escadas depressa e adentrei todos os cômodos do andar inferior. A música parecia vir de todos os lados, e ao mesmo tempo não vinha de lugar algum.
Convencida de que ele não estava ali, corri para o lado de fora de casa e instintivamente, fui em direção ao lugar onde eu o havia enterrado horas antes.
Chegando próxima ao lugar, senti todo o meu corpo pulsar com tanta força, que se tornou possível ouvir os batimentos do meu coração.
Lá estava ele. Sentado onde deveria ser o próprio túmulo. De olhos fechados e cantarolando com seu violão. A canção ainda era indistinguível.
Na verdade parecia muito mais ruídos estranhos, como se algo estivesse dentro de sua boca impedindo o som de sair com clareza.
Me aproximei correndo e gritando seu nome, mas ele parecia não me ouvir, ou se podia, não demonstrava interesse.
Por fim toquei seu ombro. Após esse simples ato, ele se levantou num pulo derrubando o violão. Abriu os olhos que não possuíam sequer íris ou pupilas; e a boca, que produziu um grito temível.
Tapei os ouvidos e me abaixei de agonia, enquanto um líquido preto saía de seus olhos; dando a impressão de que ele estava derretendo para dentro do lago.
Instantes depois o silêncio era absoluto e o calor ainda mais intenso.
Engatinhando, me aproximei do lago na intenção de compreender o que havia acontecido.
Mas como se o horror até agora não tivesse sido o suficiente; a água fora dominada por uma coloração muito escura, em contraste apenas com uma mão, que parecia lutar para chegar até a superfície.
Num ato automático eu a segurei e tentei emergi-la, mas o contrário aconteceu, e eu fui engolida por aquelas águas tão gélidas.
Fui arrastada até o fundo. Não consegui sequer enxergar algo, apenas sentir.
Sentia texturas terríveis virem de encontro ao meu corpo. Como se puxassem, batessem e rasgassem ao mesmo tempo.
Na águas a canção anteriormente cantada por Derick continuava de algum lugar, e agora com um pouco mais de clareza, eu ouvi o que tempos mais tarde, descobri ser um canto para a invocação de Abalam.
Minha consciência foi se perdendo à medida que eu lutava para fugir daquela situação.
Tudo foi ficando ainda mais escuro, até que..."
Acordei novamente no quarto de Gabrielly. As mãos sem cor e dormentes, de tanto apertarem minhas próprias coxas, que agora tinham arranhões e pequenas feridas causadas por mim mesma.
Demorei alguns instantes para compreender que tudo não havia passado de um sonho, e que eu estava longe da água, e ainda mais longe de Derick.
Continua...
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A Filha do Diabo
HorrorAs pessoas costumam atribuir atos perversos a entidades desconhecidas, eu as associo à humanidade. Vivendo no mundo, nota-se o quão infernal é a terra que muitos chamam de "lar", mas vivendo no inferno, nota-se o preço caro que se paga por uma vida...