<Atualizado>
Larguei o livro sobre o balcão e segui até o lado de fora.
Ao sair me deparei com sete viaturas e vinte e oito policias fortemente armados. Entre eles, estava Henrique.
-Você prefere me explicar de uma maneira fácil ou difícil?- Ele perguntou.
-Do que diabos você esta falando?-Indaguei confusa.
Com um sorriso cínico, o mesmo tirou algumas fotos de uma pasta. Olhei atentamente para cada uma e percebi que eram fotos minhas. Mais especificamente, fotos minhas entrando no apartamento de Jonathan e saindo horas depois, com sangue pelo corpo.
Senti um calafrio percorrer por todo o meu corpo, me fazendo não ter reação para aquele momento.
-Certo, será da maneira difícil.-O mesmo disse saindo.
Ainda parada no mesmo lugar, observei alguns repórteres ligarem suas câmeras e pegarem seus microfones. Junto deles surgiram vários "telespectadores" prontos para assistirem a minha queda.
"Em que merda você se meteu?!" - Minha mente gritava.
-Parece que é seu dia de sorte July.-Henrique reapareceu tomando minha atenção.- Você acaba de conseguir um advogado.- O mesmo disse gesticulando para Kevin.
-Como é?- Perguntei.
-Estou assumindo seu caso July, a partir de agora cuidarei para que sua inocência seja provada.-Kevin respondeu com um belo sorriso, voltando logo em seguida, para o Henrique. -Para onde pretende leva-lá?
-A principio para um manicômio de segurança máxima, onde será interroga por alguns psicólogos.
-Por que não leva-lá direto à uma delegacia?
-Convenhamos doutor, essa menina não tem a menor condição de ficar em uma simples delegacia. Ela precisa ser trancafiada numa sala onde possa ser vigiada vinte e quatro horas por dia, para sua própria segurança, e segurança de uma sociedade inteira. Ainda não compreendemos como ela fez tamanhas atrocidades, mas seja lá como for, nós precisamos nos prevenir de outras ocorrências. Agora com licença, preciso preparar a viatura.
-Certo July, como seu advogado, é melhor que me conte tudo que aconteceu. Caso ainda não tenha se dado conta, será um caso complicado até o fim.-Kevin disse calmamente.
Alguma coisa nele me transmitia paz. Era como se ele tivesse toda a serenidade do mundo dentro de si.
-Certo,- Comecei ainda um pouco desnorteada. -Eu apenas matei ele.
Aquelas palavras saíram numa naturalidade assustadora até para mim.
-E como você pode ter feito isso sozinha? Ou melhor, por qual motivo? -Ele passou a anotar minhas palavras em folhas presas à uma prancheta.
-Eu simplesmente matei ele por ser uma pessoa ruim.
-Mas como?-O mesmo me olhou confuso.
-Desculpe mas temos que ir agora. Vocês podem conversar mais tarde.
Entramos no carro e seguimos rumo a um outro cantinho do inferno. Confesso que a viagem foi mais longa do que eu poderia imaginar porém isso não foi um incomodo, já que eu passei todo o trajeto perdida na confusão de meus pensamentos.
Era nítido que eu outra vez eu tinha feito algo que mudaria tudo, mas de que maneira aquilo mudaria? Me traria benefício?
Apenas dois pensamentos eram certos em meio a toda àquela desordem. Primeiro: Minha vida não tem nem um por cento de chance de se concertar com alguns anos presa. Independente das minhas atitudes futuras, eu estarei condenada pelo assassinado de duas pessoas. Segundo: Já que tudo estava manchado e destruído pela morte de um miserável, que diferença faria se eu saísse acabando com todos os miseráveis possíveis? Por mais que as outras pessoas não fossem me ver como um bom ser humano, eu teria em minha mente, a consciência de estar limpando um pouco do lixo de todo o mundo.
***
Quando finalmente chegamos, me deparei com um manicômio não muito diferente do interior. As únicas coisas que pareciam mudar, eram o tamanho e o fato de ser localizado no meio de absolutamente "nada".
Puseram algemas em meus pulsos e me conduziram até o interior do lugar. Ele era definitivamente mais "protegido". Com policiais e câmeras por toda a parte.
Quando estávamos prestes a atravessar a porta da entrada, uma mulher agarrou um de meus braços. Ela definitivamente estava em um estado decadente e deplorante. Com machucados por todo o corpo, olheiras incrivelmente profundas, sinais de desnutrição, falhas capilares e lágrimas nos olhos.
-Cuidado! Não confie nele! Ele quer machuca-lá assim como todos!- Ela gritava repetidas vezes enquanto apertava meu braço com cada vez mais força.
Por fim um dos policiais a puxou pelos braços até o quintal, e de alguma maneira, eu sabia que ela estava prestes a ser agredida pelo o que quer que tenha tentado me dizer.
Ainda sendo guiada por Henrique, cheguei até a recepção, onde havia um homem a minha espera.
-Certo "July", -Ele disse lendo em uma folha.- Eu sou o Pedro. E a partir de agora serei o responsável por sua moradia nesse lugar.
Alguma coisa nele me causava uma insegurança absurda. Minha sensação de nudez só aumentava a cada instante, principalmente quando ele me olhava diretamente. Era a primeira vez que eu o via, mas parecia que eu já conhecia as impurezas de sua alma, talvez por ter descoberto um de seus segredos atravéz de Henrique. Traído pelo melhor amigo. Hilário.
-Aqui está a chave do seu quarto. -Ele disse me entregando uma pequena chave. -Sigam-me.
Fomos até um elevador e o vi apertar o botão que nos levaria até o ultimo andar. Alguns instantes depois, a grande porta se abriu e nos deu a visão de um pequeno corredor, com apenas três portas.
-Espero que goste do seu quarto. Ele foi escolhido e mobilado em sua homenagem.-Pedro disse com um longo sorriso no rosto.
Em cada porta haviam números gravados em metal. Na primeira porta havia o número 664, na segunda 665, e finalmente a ultima, 666.
-Isso é algum tipo de brincadeira?-Perguntei seriamente.
-Não fale, apenas destranque a porta.-Disse Pedro.
Não saberia explicar o motivo, mas eu simplesmente obedeci sem nenhuma objeção, e ao ver o quarto, me deparei com uma das imagens que mais me atormentaram durante a vida. Era um quarto quase idêntico ao de minha "mãe" na noite de sua morte. As únicas diferenças eram as paredes cor de sangue, um urso de pelúcia destruído na cadeira de balanço, e fotos do corpo de Kate espalhadas por todo o quarto.
-Nos deixem a sós.-Pedro disse me empurrando para dentro do quarto e trancando a porta.
Recebi um murro nas costas que me jogou direto ao chão, me tornando mais vulnerável aos golpes de Pedro. Levei chutes, socos e murros em todas as partes do meu corpo. Porém o mais estranho, era que por algum motivo, todos os seus toques me feriam. Nem mesmo eu havia conseguido me machucar, e ele fazia tudo com uma facilidade incrível.
-Parece que você não é tão perigosa quanto me disseram!-Ele gritou aumentando a frequência dos golpes.
Já que nem me defender eu conseguia, tentei dizer algumas palavras, porém fui interrompida por ele apertando o meu pescoço enquanto dizia:
-Eu vou te mandar direto pro inferno!
Continua....
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A Filha do Diabo
HorrorAs pessoas costumam atribuir atos perversos a entidades desconhecidas, eu as associo à humanidade. Vivendo no mundo, nota-se o quão infernal é a terra que muitos chamam de "lar", mas vivendo no inferno, nota-se o preço caro que se paga por uma vida...