Capítulo 16

2.8K 261 9
                                    

<Atualizado>

Assim que o elevador se abriu, corri para meu dormitório com medo de que estivessem atrás de mim. Entretanto, assim que abri a porta, me deparei com a caixa.

Haviam coisas dentro dela. Uma foto da minha antiga casa (agora abandonada), e uma carta que dizia:

"Sentiu saudades menina? Espero que não tenha pensado que estava livre, sua história está apenas começando!"

"Mas que merda será que vem agora?"

Larguei a carta sentindo a respiração voltar a se descontrolar. Por impulso, coloquei a cadeira de balanço na porta, na intenção de impedir outro encontro com aqueles homens. Eles estavam furiosos e era claro que logo viriam atrás de mim.

Ouvi um som de correntes vindo do início do corredor. Pareciam estar sendo arrastadas ao chão. A cada instante o som parecia mais próximo, e meu coração mais incontrolável.

De repente o barulho parou, e com um movimento bruto, a porta se abriu jogando a cadeira longe.

Fiquei paralizada encarando a figura que surgira diante da porta. Pedro. Ele tinha ódio nos olhos e correntes nas mãos.

-Outra vez, eu tenho que vir até aqui limpar a merda daqueles inúteis! Você acha que eu me divirto, me privando de um descanso pra limpar essa merda toda?-Ele se aproximava a medida que falava, aumentando ainda mais, o meu desespero.

O mesmo enrolou as correntes aos punhos, e começou a distribuir uma sequência de socos por todo o meu corpo. Quando me dei conta, ele já estava em cima de mim, batendo cada vez mais forte, enquanto gritava palavras de puro ódio.

-Mas que porra você pensa que está fazendo?-Henrique tirou Pedro de cima de mim.-Não era pra matar ela cara! Era só prender essa vadia ai!

Pedro estava ofegante e com os punhos pingando de tanto sangue. Eu, permanecia estirada ao chão, sequer conseguiria me levantar naquele instante, porém felizmente, isso não foi necessário.

Após um último chute em minhas costas, Pedro saiu arrastando as correntes por todo o corredor, deixando marcas de sangue em seu percurso.

-Merda!- Henrique disse desesperado e foi atrás de Pedro, como um velho cachorro obediente.

Não saberia dizer quanto tempo passei ali. Era a dor física mais insuportável que eu já havia sentido, e de forma inconsequente, essa mesma dor feria o meu emocional.

"Porra July! Outra vez você está nessa merda por culpa dessas pessoas! Aprenda a se defender e destrua quem te fere"-Eu gritava em meu subconsciente.

***

Depois de um tempo senti que meu corpo estava menos danificado e me arrastando, fui para o banheiro.

Liguei o chuveiro e permaneci ao chão, assistindo enquanto a água se misturava com meu sangue e descia pelo ralo, sabe se lá para onde.

Um homem entrou no quarto, se assustando ao me encontrar naquele estado dentro do banheiro. Seu rosto parecia familiar, mas naquele momento, eu não saberia dizer onde já havia o visto.

De repente ele estava me despindo e tateando todo o meu corpo. Eu estava destruída demais para fazer algo. Assim, apenas assisti ao meu próprio estupro.

Eu sentia como se minha garganta estivesse fora do lugar, e isso, estivesse direcionando a minha voz para algum poço dentro de mim. O que consegui fazer, foi emitir ruídos que eram abafados por aquela mão suja de pecados e impurezas humanas.

Após outra amostra do inferno, eu estava deitada em minha cama, adormecendo aos poucos graças aos sedativos. O meu corpo estava limpo, e eu estava com roupas impecáveis, mas a sensação que me consumia, era que minha alma estava mais suja do que nunca estivera antes.

Adormeci vendo aquele verme sair do quarto, me lançando um último olhar de pura satisfação, e aquilo foi o suficiente para que eu soubesse que ele tentaria novamente.

***

Acordei com o quarto abafado e o corpo suando. Os malditos construtores daquele lugar nem se deram o trabalho de colocar uma janela no quarto.

Para minha surpresa, consegui me levantar, sentindo apenas leves dores pelo corpo. Me dirigi para o banheiro, e só então, notei que haviam colocado outro espelho ali.

Estranhamente o meu rosto não estava ferido ou inchado, se não fossem pelas lembranças das horas anteriores, eu não acreditaria que tudo havia sido real, ou será que não?

Com todas aquelas cenas de horror passando em minha mente, me dirigi lentamente até o elevador, onde me encarei no espelho ao som daquela música irritante. O elevador se abriu, e me deparei com todos aqueles mesmos olhares de antes voltados para mim.

Me sentei em uma das cadeiras na grande mesa, olhando para qualquer lugar naquela imensidão de confusões. Sempre que eu achava que as coisas começariam a cessar um pouco, minha mente me jogava todas aquelas indagações que eu não tinha ideia de como encontrar as respostas.

-Achei que não te veria de novo.-Derick disse se sentando ao meu lado.

Encarei seu rosto e ele ainda estava com pequenos cortes e machucados espalhados.

-O que esteve fazendo nesse tempo todo? Todos achavam que já tinha virado presunto.-Ele disse sorrindo enquanto tomava chá.

-Desculpe mas, eu não entendi.

-Ora July, já se passaram treze dias desde que eles nos levaram lá pra baixo. Alguns precisaram de uns dois dias para aparecerem por aqui, mas treze dias? A lógica seria que você estivesse ao menos um pouco ferida, mas parece tão bem quanto quando chegou aqui. Aposto que o zelador cuidou muito bem de você.

-Zelador?-Senti um arrepio na espinha.

-Sim July, aquele ali.-Ele apontou para o homem que eu esperava não ter que ver nunca mais.-Não permitem mulheres trabalhando aqui por causa dos surtos dos pacientes, então ele é o mais próximo de uma enfermeira que nós temos. Mas até que ele leva jeito pra cuidar das pessoas. Foi ele quem te ajudou?

-Derick-Agarrei seu braço e disse enquanto sentia os olhos marejarem.-O Pedro me destruiu depois que eu voltei do subsolo. E eu não to falando de uma simples surra. Ele me destruiu com uma corrente! E depois esse homem me estuprou e me colocou para dormir! Eu não faria ideia de quantos dias já passaram se você não me dissesse!

-Puta merda!-Derick encarou o zelado perplexo, que percebendo os nossos olhares, saiu depressa.-O que nós vamos fazer? Nesse ritmo eles vão matar você!

-Eu não sei o que eu vou fazer, mas eu juro por todas as coisas que eu possar querer algum dia, que eles nunca mais vão me ferir!

Continua...

A Filha do DiaboOnde histórias criam vida. Descubra agora