Capítulo 6

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Clara

Quando me levantei, estava decidida a ir embora naquele dia, mas Lorenzo me convenceu a ficar mais um dia.

Devia isso a ele e não pude recusar seu pedido de ficar mais um dia, porém blindaria meu coração. Sabia que aquela vida não era minha realidade!

As crianças foram para a escola e aproveitei realmente para descansar. Meu braço doía muito.

O gesso me causava coceira e um calor absurdo. Pedi ajuda para Dona Teresa e tomei um banho, recolocando as roupas de Lorenzo.

Resolvi sentar na varanda, que era incrível e fresca. O sofá era extremante confortável e recostei, olhando para o horizonte e pensando: Lorenzo não falou mais nada sobre o assunto, mas uma hora ou outra não tinha como escapar. Breno nunca tinha ido tão longe, apesar de ter me batido muitas vezes, nunca me fraturou nada.

Pensei nas constantes humilhações que passei, nas agressões verbais: não conseguia me sentir bonita ou atraente. Estava extremamente insegura como mulher!

Quando não me agredia, chegava em casa como um louco e queria fazer sexo comigo, mas era muito agressivo! Muitas vezes me pegava em pé, em qualquer canto da casa! Saciava sua vontade como um louco, sem se importar comigo, não havia carinho ou qualquer desejo em me dar prazer.

Quando terminava era tomada por uma sensação de alivio! Lembro-me de seus comentários maldosos sobre meus quadris e coxas grossas! Ficava arrasada e muitas vezes achava que era culpada pelas agressões.

Por que meu corpo não estava bonito, não conseguia emagrecer, a comida estava quente, a comida estava fria, olhei para alguém na rua, alguém me olhou. A lista de motivos era interminável. Quanto mais eu pensava, mas difícil estava a segurar as lágrimas que teimavam em cair.

Apesar da tristeza das lembranças, estar ali e ver que podia encontrar pessoas boas me encheu de esperança. Estava especialmente feliz e esperançosa. Tinha que ter esperança que meu futuro seria melhor!

Não podia imaginar que no fim do dia, o chão seria arrancado de meus pés novamente!

Lorenzo

Quando entrei em casa, procurei Clara em todos os lugares, mas não a encontrei.

Fiquei puto! Não acreditava que ela não cumpriria sua palavra.

Dona Teresa havia ido buscar os meninos no colégio, já que suspendemos o transporte. Por questões de segurança achamos prudente que alguém fosse busca-los.

- Dona Teresa, tudo bem? A Sra. viu se Clara saiu? Perguntei nervoso.

-Tudo Sr. Lorenzo. Quando sai a Sra. Clara ainda estava na varanda.

Ainda falando ao telefone fui até a varanda e avistei Clara.

- Obrigada Dona Teresa, ela está lá.

Entrei devagar para não a assustar, mas percebi que estava dormindo sentada, segurando o braço. Estava com minhas roupas!

Fiquei indeciso sobre o que fazer, pois se Clara continuasse dormindo daquela forma desconfortável, ficaria com dores pelo corpo, porém resolvi leva-la para o quarto.

Peguei-a nos braços, sem esforço e levei para a cama. Acomodei-a de barriga para cima e lentamente desci a camiseta que subiu deixando a barriga lisa a mostra. Os cabelos sedosos e compridos espalharam-se sobre meus travesseiros e exalavam um perfume suave e agradável.

Queria aproveitar aquele momento e passei mais de uma hora observando ela adormecida, sua respiração, suas feições até que ouvi uma movimentação.

Os meninos haviam chegado da escola e resolvi encontra-los. Aproveitei para descer com eles até o parque e distrair minha mente que estava a todo vapor.

Quando subimos Clara já estava acordada e foi enfática:

- Lorenzo, você demorou, já estava preocupada!

- Clara, se estava preocupada, era só ter descido! Estávamos aqui no prédio!

- Claro, devia ter ido atrás de você com sua cueca!

Tive que rir. Ela era muito espirituosa.

- Meninos, banho agora!

- Não quero tomar banho, estou cansado! Reclamou Luigi.

- Sem protestos! Vamos agora!

- Dona Teresa precisou sair e só volta amanhã e queria dar banho em vocês antes de ir. Agora precisaremos trabalhar em equipe!

Havia esquecido que Teresa se ausentaria para resolver algumas coisas a meu pedido. Vi que Clara estava tensa com a situação e ponderei:

- Bem! Já que o maior culpado da confusão sou eu, que tal fazermos uma equipe de homens!

- Tomamos banho os três juntos e a mamãe dá um apoio na secagem!

Os meninos não ofereceram resistência. Vesti um shorts e camiseta e entrei no banho para esperar pelos meninos. O primeiro a entrar foi Luigi, como já era mais mocinho, não quis muito minha ajuda. Na sequencia o pequeno Giovanni entrou e foi uma grande farra. Lavei seus cabelos e esfreguei seu corpinho, enquanto Clara assistia tudo.

Quando acabou a limpeza, Clara assumiu seu posto, ajudando a enxuga-lo, enquanto eu tomava meu banho.

Giovanni estava se vestindo, quando sai do banho enrolado na toalha. Não pude deixar de notar que Clara encarava minha tatuagem. Quando percebeu que foi pega em flagrante, ficou desconcertada.

- Bonita tatuagem!

Sorri e fui até a gaveta, peguei uma roupa para me trocar.

- Ficamos prontos juntos! Falei para Giovanni que pulou em meu colo.

- Te amo tio Lo!

- Meu coração parou! Não conseguia respirar. Eles sempre foram muito importantes para mim, mas essa declaração ali, todos juntos realmente me abalou!

- Também te amo amigo! Vamos jantar! Falei abraçando o pequeno corpinho com muito carinho.

Clara jantou em silêncio. Não era possível detectar o que sentia ou pensava e isso me deixava louco. Apesar de arquitetar muito bem meus planos, ficava inseguro diante dessa incerteza.

- Mamãe, quero que o Tio Lo me coloque na cama!

Levei-os para o quarto e em menos de cinco minutos os dois estavam dormindo, cansados pelo dia e pela farra no parque.

Eram carentes de uma figura paterna presente e carinhosa e quando voltamos para a sala, falei:

- Clara, precisamos conversar! Pode sentar aqui!

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