Capítulo 12

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DEZ ANOS ANTES

Lorenzo

Andava bem atarefado e com dificuldades em conciliar tantas atividades ao mesmo tempo: cuidava da administradora que estava em crescimento constante, estudava para aperfeiçoar a administração do negócio e os constantes cuidados com vovó. Nos últimos meses, peregrinei com vovó ao médico, pois sua diabete estava descontrolada e não se alimentava bem, fatores que contribuíam para seu constante mal estar.

Embora já estivesse com quase 25 anos, ainda morava com vovó, mas costumava dormir algumas vezes no pequeno apartamento que adquiri no Centro da Cidade, afinal um homem precisava de um pouco de privacidade em alguns momentos.

Quando me ligou pedindo que mostrasse pessoalmente ao possível inquilino, a casa de nossa propriedade, vizinha à dela, que estávamos locando, não pude falar não. Sua preocupação era evitar problemas, pois como já tinha uma idade avançada, queria evitar públicos que gostassem de farra e bagunça, além de fazer uma pequena avaliação na aparência dos inquilinos.

Estava muito atrasado e chovia torrencialmente, apesar do calor de Janeiro. As chuvas de verão caiam com uma violência extrema, mas só contribuíam para aumentar a sensação térmica. Precisava pegar a chave da casa na imobiliária, pois acabei esquecendo-me de pegar antes.

Andava um pouco acima da velocidade, mas dirigia com cuidado. A água batia com força no para-brisa e por mais que o limpador estivesse em sua capacidade máxima, era difícil ver com clareza do lado de fora.

Quando fiz a curva, o carro derrapou, me arremessando no meio fio, fazendo com que a água empoçada jorrasse como uma cachoeira na calçada. Levei um tremendo susto e encostei o carro para verificar possíveis danos.

Abri o guarda-chuva, que não teve muita utilidade, pois a chuva vinha acompanhada de vento forte. Em questão de segundos já estava encharcado. Quando olhei para a calçada pude constatar o estrago que causei, e não havia sido no carro.

Uma moça estava encharcada por água suja. Era possível ver respingos de barro em sua blusa branca, colada ao corpo, delineando suas perfeitas formas, o cabelo pingava e nas pernas, que estavam de fora, era possível ver o liquido sujo escorrendo, contrastando na pele clara. E que pernas! Uma boa parte estava descoberta, abaixo de um short jeans. Apesar de tudo, ainda segurava o guarda-chuva!

- Nossa, fui eu quem deixou você neste estado?

Olhou em minha direção, mas não negou ou confirmou, apenas olhou e não falou nada. Segui mais próximo de onde estava e pude ver seu rosto com clareza! Era linda, com longos cabelos castanhos, pele clara e olhos âmbar ou mel.

- Desculpe! Sinceramente não tinha a intenção de deixa-la nesse estado, mas o carro derrapou, arremessando-me contra o meio fio. Graças a Deus o carro parou sem causar danos mais graves!

Olhou-me e sorriu! Não sabia ao certo se estava sendo sincera ou sarcástica, e a situação deixou-me um pouco tenso.

- Prazer, sou Lorenzo!

- Olá Lorenzo! Sou Clara! Bom, estava um pouco brava, mas já que colocou as coisas nesse termo, acho mesmo que é motivo para agradecer e não lamentar. Antes suja do que morta!

Ri alto! Estava sendo sincera e sarcástica ao mesmo tempo. – Não posso discordar de você! Graças a Deus não aconteceu nada de pior, mas ainda assim, posso fazer algo para reparar essa situação?

- Obrigada, mas acredito que não. Vou encontrar um lugar para amenizar essa bagunça e correr, pois estou muito atrasada para um compromisso. Não gosto de deixar as pessoas esperando!

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