Clara
Fiquei deitada remoendo a raiva que sentia. Não bastasse tudo o que passei, tinha que adicionar essa humilhação em minha lista.
Ver a cara de cinismo da vadia me matou, mas me intrigou ver a expressão no rosto de Lorenzo. Era uma expressão de alguém que realmente importava-se.
Fiquei esperando o momento em que ele entraria no quarto em um rompante, mas isso não aconteceu.
Depois de muito tempo, Renata entrou no quarto:
- Vai comer alguma coisa? Caso contrário irei sair, pois pelo visto Lorenzo não voltará tão cedo.
- Obrigada. Não quero nada!
- Eu também não voltaria depois do que vi. Está mesmo assustadora! Falou rindo e fazendo cara de susto.
- Por que é tão cruel? O que te fiz para me odiar? Você é mulher, deveria ser solidaria com minha situação.
- Não sou uma mulher como você.
- Não é à toa que apanha do marido, faz por merecer. É muito rebelde!
Neste momento a porta se abriu com violência, me assustando. Lorenzo devorou Renata com um simples olhar e esbravejou: - Por favor, pegue suas coisas e vá embora. Vou pedir para Júlio leva-la, seus serviços não são mais necessários.
Fique aliviada. Deus ouviu minhas preces. Assim que ficamos sozinhos, agradeci sinceramente pelo gesto.
Sentou na beirada da cama, tentando uma aproximação. Seu rosto refletia emoção e por um momento vi sombras do Lorenzo que sempre conheci.
Começou a mexer no roupão que estava entreaberto. Sabia o que queria e balancei a cabeça, incentivando-o a continuar. Começou a percorrer as cicatrizes com as pontas dos dedos. Era muito delicado!
- Expliquei que as marcas foram feitas com o fio do telefone e vagarosamente viu as mordidas.
As mordidas estavam doendo demais, muito inflamada. Quando expliquei, chorou! Nunca havia visto Lorenzo chorar, nem quando D. Rosa morreu. Fiquei comovida.
Perguntou se havia algo a mais e achei melhor mostrar tudo. Precisava de ajuda!
De repente senti ele me abraçar como uma criança. Ficou agarrado ao meu quadril, chorando.
Acariciei seus cabelos de leve e fiquei assim por um tempo, mas com a mesma velocidade que me entreguei, afastei-me.
Levantou, secando o rosto com as costas das mãos: -Preciso te falar uma coisa!
Explicou-me por que levou os meninos para longe e a cada palavra percebia o quanto estava empenhado em me ajudar, havia pensado em todos os detalhes. Foi um balsamo para minha alma saber que ele não quis afastar os meninos! Agradeci sinceramente e aliviada!
- Por favor, me perdoa? Deixa-me cuidar de você?
- Não queria que ninguém me visse nesse estado. Não consigo tomar banho sozinha, preciso tomar um bom banho, há dias não faço isso direito.
- Estou um pouco envergonhada de pedir isso, mas as feridas estão infeccionadas.
- Quero cuidar de você! Mas, por favor, me responda: me perdoa?
- Quem sou eu para perdoar! Vamos esquecer isso!
- Vou procurar algo para proteger o gesso!
Voltou com um grande saco plástico e durex e começou a embalar meu braço.
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Recomeçar
RomanceClara viu todos seus sonhos desmoronarem à medida que conhecia o perfil de seu marido, um homem dominador, ciumento e violento. Tudo que ela queria era a liberdade para recomeçar ao lado dos filhos, mas com a certeza que o amor não passava de uma il...