Clara
A fedelha me chamava insistentemente e fiquei fingindo que estava dormindo, porém sabia que Lorenzo não desistiria com facilidade.
Dali a algum tempo, ele em pessoa entrou no quarto. Quando sentou na cama e conversava comigo normalmente, queria atirar algo em sua cara. A cada dia estava mais descontrolada com essa situação.
Por que ele tirou meus filhos de mim. Poderia suportar passar por isso se Luigi e Giovanni estivessem comigo. Como podia ser tão cruel. Oferecer presentes para me comprar não adiantaria de nada, queria o que era mais precioso para mim.
Ficou com a caixa esperando que eu falasse algo, mas dois podiam jogar esse jogo! Estava cansada de ser a boba, a ingênua que se conforma com tudo.
Quando me proibiu de usar o banheiro sozinha e trancar a porta me senti desafiada. Eles não perdiam por esperar, mas resolvi implorar, para fingir que fazer o que eu queria dependeria de sua aprovação.
Decidi, já que não podia tomar banho sozinha, simplesmente não tomaria banho. Queria ver como ele solucionaria essa questão.
Mas a gota d'agua foi quando informou que toda a casa era monitorada por câmeras. O que eu era, uma assassina, uma ladra...que merda de vida eu tinha?
Quando ele saiu, chorei até a exaustão e podia ouvir o som do saco de pancada sendo esmurrado.
Não era um murro qualquer, era um murro de ódio. Fiquei imaginando quantas e quantas vezes encontrei Lorenzo na casa de Dona Rosa com as mãos feridas. Ela sempre ficava preocupada achando que ele se envolveu em alguma briga, mas pelo visto era sua válvula de escape.
Batia até a mão se ferir? Observaria isso da próxima vez que o visse e comprovaria minha tese.
Às duas da manhã não conseguia dormir com o ronco do meu estomago. Decidi procurar algo para comer.
Levantei com cuidado para não fazer barulho e então vi a caixa que ele deixou. Era muito grande com laços rosa. Há tanto tempo não ganhava um presente. Apesar de curiosa, não me venderia por um objeto qualquer.
Fui até a cozinha, abri a geladeira e resolvi que faria um café com leite e um lanche. Adorava café com leite, dificilmente ia para cama sem bebê-lo.
- Tomara que tenha leite! Comecei a busca desesperada pelo leite e achei a caixa em um dos armários.
- Como farei para abrir essa caixa? Falei sozinha!
Peguei uma faca e segurei a caixa com a perna entre meu corpo e a pia. Com uma mão só, iniciei o trabalho de desgastar a caixa, mas acabei deixando-a cair.
No ímpeto de impedir a queda da caixa parcialmente aberta, acabei batendo o joelho no armário e fazendo barulho.
- Merda!
Em minutos Lorenzo estava na cozinha se oferecendo para me ajudar. A princípio não queria, mas a fome era tanta que abri mão do orgulho.
Fiquei olhando ele preparar meu lanche: - Gosta do leite com café, né?
Quando me perguntou isso, fiquei surpresa em saber como conhecia meus gostos. Era impossível não notar: no lanche, nos produtos de higiene, em tudo. Eram as marcas que eu gostava, as essências que eu usava, era como se me conhecesse mais que Breno.
Podia dizer que fazia o lanche com certo carinho. Fiquei pensando: sempre foi bom, por que estava fazendo isso agora? E num impulso perguntei por que estava fazendo aquilo.
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Recomeçar
RomanceClara viu todos seus sonhos desmoronarem à medida que conhecia o perfil de seu marido, um homem dominador, ciumento e violento. Tudo que ela queria era a liberdade para recomeçar ao lado dos filhos, mas com a certeza que o amor não passava de uma il...