44 [ profundo ]

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Sadie

Sinto-me num momento em que parece que o mundo parou de girar.Que tudo ficou em modo estátua.

Conheço perfeitamente a sensação. Já não é a primeira, nem segunda vez que isto acontece. E posso jurar que não é das melhores sensações. Suponho, que já meia hora passou e eu permaneço com a cabeça no ombro do Luke. Nenhum de nós disse algo, por mais pequeno ou baixo que seja. Nada. Limitamo-nos a deixar secar as nossas lágrimas e a acalmar a nossa respiração.

"Responde-me a uma coisa." Pediu cortando o silêncio que honestamente, não estava a ser nada bom.

Inclinei a minha cabeça para trás e fixei o meu olhar no seu.

"Caso..." Parou para passar as mãos pelo rosto e suspirar. "Caso o teu pai decida que estar aqui já é demasiado perigoso, o que acontece?" Fechou os olhos com medo da minha resposta.
Mas a verdade, é que ele já sabe a resposta.

Volto a deitar a minha cabeça e a observar o pequeno parque diante dos meus olhos cansados.

"Podes por favor responder?"

"Tu sabes a resposta a isso, Luke." Sussurrei e cruzei as minhas pernas no banco como uma criança.

"Tu vais embora? É isso? Mudaste de novo?"

Assenti e pestanejo rapidamente para não sair nenhuma lágrima inesperada.

"Fodasse." Tirou o braço dos meus ombros e deitou a cabeça nas mãos. "Fodasse. Fodasse."

"Ei, tem calma." Pedi e tirei as mãos da sua cara. "Vai correr tudo bem. Nós despistamos bem aquele polícia, hum?" Sorri-lhe, rezando interiormente para ele me sorrir também. Um mínimo sorriso. Mas tal não aconteceu. Ele apenas inclinou a cabeça para trás no banco e suspirou.

"Isto é tudo uma merda. A vida é uma merda." Olhou-me revoltado. "Caramba, os polícias nunca acreditaram numa palavra vossa?"

"Não. As únicas e exclusivas impressões digitais na arma eram as do meu pai. Ainda por cima, nós estávamos a fazer as malas e eles pensaram logo que nos preparávamos para fugir. Idiotas."

"Isso é tão injusto! O que ainda não percebi é o porquê da Skyler te culpar."

Fiz como ele e encostei-me ao banco deitando a cabeça para trás.

"Se eu não tivesse a estúpida ideia de ir de férias, o Logan ia estar bem quietinho em casa, logo não lhe aconteceria nada. E eu culpo-me por isso também, sabes? Porque ela tem razão! Quem sabe, até podia ser eu em vez del-" A minha fala foi cortada pelos lábios do Luke nos meus.

"Cala-te, Sadie." Pediu com ambas as mãos no meu rosto.

"Eu só...eu sinto uma escuridão tão grande dentro de mim, Luke. Como um maldito cancro!" Sussurrei e com o polegar limpou-me umas lágrimas teimosas que insistiam em cair.

"A culpa não é tua. Talves eu não seja um excelente amigo e até posso ser mau com as palavras mas..." Suspirou e sorriu-me. "A culpa não é tua. A tua ideia foi esplêndida, acredita em mim. Querias passar algum tempo com a tua família e com ele, é perfeitamente normal. A culpa é daqueles dois que o mataram e dos polícias incompetentes que parece que tiraram o raio do mestrado na internet. Talvez, eu não seja bom o suficiente para te chamar á razão e te fazer ver que a culpa não é tua. Mas o passo número um da vida é fazeres as pazes com o passado, para que ele não te foda no presente."

"Eu agradeço todas essas palavras e o que estás a fazer para que eu não me sinta culpada. Mas, infelizmente, eu vou-me sentir culpada para sempre. É impossível fazer as pazes com o passado porque vivo o presente aterrorizada uma vez que não quero fugir de novo. Fazer as pazes com o passado é dar um aperto de mão a um polícia e entregar-lhes o meu pai. Isso é a definição de fazer as pazes com o passado. E como deves prever, eu não posso fazer isso." Admiti e Luke ergueu-se andando ás voltas á minha frente.

maybe ; lrhOnde histórias criam vida. Descubra agora