15 [ Faltas ]

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2:57 p.m.
Estou sentada num banco a jogar Angry Birds no telemóvel em pleno centro comercial.

2:58 p.m.
Normalmente são as raparigas quem chegam atrasadas, mas este...seja ele quem for, tem que entrar sempre a matar.

2:59 p.m.
Eu sei que no fundo isto é apenas uma brincadeira. Uma brincadeira não muito agradável.

3:00 p.m.
Estico o meu pescoço o máximo que consigo para poder ver se vem alguém na minha direção.
Nem um único ser vivo.

3:10 p.m.
Já me doem os dedos de tanto os passar pelo visor do telemóvel.

Já te questionas-te alguma vez como é que o ecrã tátil do teu telemóvel funciona em função dos teus dedos.
Deus, como a tecnologia é estranha.

3:20 p.m.
Assim como enviar e receber mensagens. É difícil de entender, mas são fáceis de mandar. Portanto, o raio do anónimo já me deveria ter dito algo.

3:30 p.m.
Céus, parte de mim ainda pensava que ia aparecer mesmo alguém. Acho que me enganei.

3:31 p.m.
Levanto-me guardando o telemóvel no bolso de trás das calças e ponho a mochila às costas.
Das duas uma, ou eu sou estúpida, ou eu sou inteiramente estúpida.

Como é que eu ainda poderia acreditar que isto não era uma brincadeira?
Se ele me mandar mais alguma mensagem eu juro que o desfeito na hora e sem piedade.

Porra. Meia hora? Se ainda fossem 10 minutos, talvez eu compreende-se, sim, até porque eu não sou a compreensão em pessoa mas 30 minutos é gozar com a minha cara. E isso é horrível.

E é ainda pior saber que tu não podes pensar que é uma brincadeirinha de putos ou algo do género porque a pessoa atrás daquele telemóvel tem informações comprovativas sobre mim. E isso não ajuda nada, porque eu poderia mandar o gajo para um sítio não muito agradável e relaxar, porque para além do meu número ele não sabia mais nada sobre mim.
Mas não. Além do meu número, ele sabe o meu nome.

E aí tu pensas: "oh é uma coisa banal,se tem o teu número é evidente que saiba o teu nome."

Não é uma coisa banal se ele o souber completo.
Ninguém, sabe o meu nome completo, a não ser que eu o tenha mencionado. Ninguém. Fecho os olhos com força. A dor de olhos por azar, passa também para a minha cabeça.

Tenho urgentemente que tomar um comprimido e sei que tenho pelo menos um na mochila. Tenho que beijar a minha mãe de cada vez que ela me salva destas dores.

Entro na w.c mais próxima metendo o comprimido na língua e tento engoli-lo. Sempre fui um desastre a tomar comprimidos. E eu detesto-os. Sabe-se lá as substâncias que aquilo constitui. Provavelmente contém fezes de rato ou mijo de bode. É claro que nos Constituintes eles não vão referir o "ingrediente secreto".
Pois claro que não, ia ser asqueroso, para além de fazer morrer o negócio.

Bebo com a mão em concha uma considerável quantidade de água para tirar o sabor horrível da minha língua. Odeio comprimidos. Era tudo muito mais fácil se fossem todos de chupar tal e qual um rebuçado.

Tiro pela 1° da mochila, os meus óculos de armação preta e uso-os devido ás dores que sinto nos olhos, e que influentemente me está a afetar a visão.

Saio da w.c mas não sem primeiro olhar para todos os lados para me certificar que não há ninguém conhecido por estes lados. Apenas alguns casais com os filhos, uns adolescentes que nunca vi na minha vida e idosos com sacas do supermecado em ambas as mãos.

maybe ; lrhOnde histórias criam vida. Descubra agora