01 [ Falsas apresentações]

2K 119 10
                                    

Oiço os ponteiros do meu relógio a ecoar em cima da mesa de cabeceira enquanto me fixo no número 1.

1° dia em Melbourne. 1° dia de muitos entre outras cidades que provavelmente ainda venha a conhecer. Não pela melhor maneira infelizmente mas sim pela pior.

- Sadie, acorda! - Um batuque na porta faz-se ouvir e instintivamente tapo a cabeça com os cobertores. 

- Sadie! Vá lá, eu não volto a chamar! - A voz da minha mãe é abafada pela porta do meu novo quarto. Bufo fortemente.

- Pronto, já estou a ir! - Gritei puxando os cobertores para trás. Vesti-me lentamente e desci as escadas ensonada.

- Bom dia! - A minha mãe diz olhando-me de seguida. - Céus, que cara. - Murmura enquanto prepara o pequeno almoço. E lá começamos nós com o bom humor matinal que eu (surpresa!) não tenho.

- É a minha cara de todos os dias, talvez? 

Ela revira os olhos perante a minha má disposição, o que já é normal.

- Quero que me faças um favor. Vai ali num instante comprar pão.-  Pestanejo fortemente.

- Não! -  Deito a cabeça nos braços. - Vai estar lá muita gente! - 

- E depois? Conheces os vizinhos! -

- O problema é que eu não quero conhecer vizinhos nenhuns. - Resmungo. - Por favor mãe, não.  Acorda o pai e diz para ir ele!

- É só dizeres bom dia, compras o pão e vens direitinha para casa, é já ali, faz-me esse favor sim?

 Suspiro derrotada. - Está bem, mas só mesmo bom dia. - Peguei no dinheiro e nas chaves. 

Fechei o nosso portão cinzento e saí de casa. Fui caminhando pelo paralelo enquanto ao longo do caminho me ia apercebendo que era uma rua pacata. 

Vi ao longe o supermercado assim que virei na curva e apressei o passo. Quanto menos tempo na rua melhor.

 -Bom dia menina! - O senhor atrás do balcão quase grita. Passo a citar que eu ainda estava a passar pela porta. Mas bem, há pessoas mais despachadas do que outras certo?

- Bom dia, meu senhor. - Murmuro.

- És nova por aqui? -

Mas não se nota?

- Sim, sou meu senhor. -

- Trata-me por Paul. Se me tratares por Senhor sempre que cá vens fazes-me envelhecer 10 anos! - Sorri e por estranho que pareça, a simpatia do homem cativou-me.

- Como desejar. Então, eu queria 6 pães por favor. -

- Estão a sair 6 pãezinhos para a menina..? - Questiona apontando-me o dedo. Curioso este homem.

-Sadie.

- Sadie! - Repetiu. - Ora cá estão. - Falou e passou o saco na máquina registadora. 

Paguei e saí  da loja acenando levemente.

Quando me preparo para acelerar o passo de novo sinto alguém embater contra mim.

- Ah mas que merda! Quer dizer, desculpa eu não te vi, ju-

- Já entendi que não!- Corto a sua fala enervada enquanto me abaixo brutalmente apanhando os pães sujos do chão.

Era só o que me faltava. Incrível, o universo deve ter algum tipo de problema comigo, devo ter feito muito mal a alguém numa outra vida, será que fui o Hitler numa vida antepassada? Raios me partam.

maybe ; lrhOnde histórias criam vida. Descubra agora