05 [ Maldito (não) namoro ]

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Desco pelo elevador até chegar à receção.

- Menina Sadie Lorrie Moore?- A senhora do balcão chama e eu dirijo-me à mesma rapidamente.

- Trate-me por Sadie Moore apenas, ninguém necessita de saber o meu nome do meio.- Sussurro.

Ela ri baixinho. - Claro. Aqui está a justificação de ter faltado às aulas. As suas tensões estão muito baixas, o mais provável é que possa acontecer de novo. A menina sente-se mesmo bem?-

- Completamente Ruth, nunca me senti melhor aliás. Obrigada pela preocupação!- Digo e a mulher fica estupefacta a olhar para mim.

- Como sabe o meu nome?-

- Tem um...- Aponto para o crachá, à espera que ela se aperceba.

- Oh pois! Sou tão distraída!- Riu. - Sabe, o seu namorado estava muito preocupado quando a menina deu entrada no hospital.- Ela fala deixando-me surpreendida por alguns segundos.

Luke estás completamente morto!

- Oh sim. Ele é muito importante para mim, não sei o que faria sem ele.- Fingo para tentar não estragar a imagem que a senhora tem de nós. Fechando os punhos imagino-me a esganá-lo...

- Ele nutre grandes sentimentos por si menina Moore! Se não conhecesse o menino Lucas como conheço, diria que ele se vai entregar de corpo e alma a si. E olhe que ele não é dessas coisas!-

- Lucas?- Arquei-o a sobrancelha.

- O seu namorado chamasse Lucas Hemmings. Fica a ser um segredo só nosso!-

- Bonito nome sim senhora. Importa-se se lhe perguntar de onde o conhece?-

- Sou tia dele.- E agora sim tudo faz sentido.

  - Bem, obrigado pelo seu tempo Ruth!- Aceno a mão e ela acena de seguida sorrindo.

Assim que passo as portas automáticas de vidro uma voz chama-me assustando-me.

- Raios Luke, que susto.- 

- Desculpa, estavas a demorar tanto, senti-me abandonado.  Anda, o meu carro está já ali mas antes... tens a certeza que te sentes bem? - Perguntou metendo a mão na minha testa. 

Faço um gesto brusco fazendo com que a sua mão sai-a de lá ao qual ele só se riu.

O rapaz ao meu lado tinha os olhos na estrada e um flashback passou-me pela cabeça recordando-me no nosso suposto namoro. 

- Então Luke... com que então nós namoramos e eu não sabia de nada? Pá, normalmente ambas as pessoas têm que dar o seu consentimento...  Pelo menos antigamente era assim que funcionava ou agora os namoros estão tão futuristas que até se namora sem o outro saber?-

E eis que ele fez o que eu previa: riu-se.

- É engraçado? Tu achas-te muito engraçado não achas? -

- Por acaso sim! A Ruth quase chorou de felicidade quando lhe contei a nossa linda história de amor.- Ele goza.

- A nossa lind-" Bufo. Não posso bater no condutor de um carro pois não? Se não morro também caso tenhamos um acidente. Mantem-te calma Sadie, mantem-te calma. -Luke...o que raio é que tu lhe disseste?!-

- Então, disse a verdade. Disse que nos esbarramos à porta do supermercado. O que até aqui não é mentira nenhuma certo? Depois eu disse-lhe que reparei nos teus lindos olhos brilhantes e que foi amor á primeira vista mas que tu ainda me chegaste a dar com os pés várias vezes. -Olhou para mim de relance, sério. - Então eu disse à Ruth que me virei para ti num dia à noite na praia e te disse: A vida que levamos é demasiado imprevisível. Se te parece certo porquê esperar? E que de repente, tu me beijaste e blá blá blá amor para sempre.-

- Tu contaste-lhe isso? - Ele assentiu com a cabeça. - És mesmo um acéfalo.- Reviro os olhos.

-Tenho uma coisa que me está a remoer e se eu não tiver estes 10 segundos de coragem então está tudo perdido!- 

- Está a contar.-

- Então tu sempre vens jantar comigo certo?-

Raios, já me tinha esquecido disso.

- Bem...sim, quer dizer, tu ajudaste-me a sair do hospital. Devo-te isso.- Dou de ombros.

Ele sorri. Não sei qual é o interesse em jantar comigo sinceramente. Pronto lá vem as inseguranças ao de cima. 

O Logan queria. Uma parte do meu cérebro relembra-me.

- Então... tu alguma vez namoraste?- Ele desvia o olhar da estrada para mim.

Respiro fundo e começo a contar-lhe, não por obrigação mas talvez porque secalhar não há problema em contar isto a alguém. O mal já está feito e já.

- Sim, já.- Ele olha para mim. -Se queres que te conte a história não olhes uma única vez para mim!- Avisei.

- Está bem, está bem eu não olho!- Responde à velocidade da luz.

- Bem, foi nas férias de verão. Conheci-o numa praia. Eu estava a fazer surf -ou a tentar vá, não tenho grande jeito- mas vá adiante, perto da costa sul da Austrália quando a minha fita que prendia a prancha ao pé se descoseu. Ele encontrou-me a prancha mas disse que só ma devolvia caso eu aceitasse sair com ele."

Fiz uma breve pausa. Luke não olhou para mim uma única vez.

- Então, eu disse-lhe que podia ficar com ela e ele mesmo assim insistiu a dar-me um papel com o seu número. Passado uma semana foram lhe bater à porta de casa a dizer que ele devia 3 dias de aluguer da prancha, ou seja, o meu aluguer de prancha.-

Nesse momento ele olhou para mim e começou-se a rir.

- Mesmo não tendo aceitado sair com ele, tu conseguiste ser uma cabra!-

Ri abanando a cabeça. - Eu fiquei com pena dele e liguei-lhe, aceitei sair e bem, já sabes o resto.-

"E não deu certo?" Pergunta fazendo uma manobra no carro olhando para mim de relance.

Calo-me. Raio de dor que me surge no peito e que nunca há de desaparecer.

-Disse algo de mal Sadie?-

-Ele já faleceu.-

-Oh.- Ele diz olhando-me de relance uma vez que está a conduzir. - De doença?-

-Não, foi... assassinado.-

-Merda, não sabia, desculpa ter falado nisto.-

-Não.- Corto-o. -Não te preocupes, está tudo bem Luke.- Tento tranquiliza-lo.

A aceitação é o primeiro passo para a superação. Pena que eu ainda nem o primeiro passo esteja a conseguir alcançar.

- Mesmo assim, eu nunca deveria ter perguntado quem ele era ou se alguma vez tiveste um namorado até porque isso nem sequer era da minha conta. -

- Já disse que está tudo bem.- Sorrio-lhe ligeiramente -embora esteja a morrer por dentro- e continuo a contemplar a paisagem.

Ele apenas assente enquanto liga o rádio talvez para aliviar o ambiente.

Ao fim de quase meia hora chegamos a casa e eu agradeço-lhe mais uma vez por me ter acompanhado.

- Tens a certeza que ficas bem sozinha em casa?-

-Sim, não te preocupes, já sou crescida.-

-Primeiro dia de aulas atribulado hm? Segunda-feira vai ser melhor vais ver.- 

Sorrio.

-Certo, então se precisares de falar com alguém basta mandares qualquer coisa à janela do meu quarto.-

- Eu não sei qual é o teu quarto.- Digo. 

- É a janela da frente do teu.- Porquê que eu nunca reparei nisso?

- Está bem.- Sorri. Entro em casa atirando as chaves para o móvel de entrada fazendo um barulho imenso e corro até ao sofá deitando-me no mesmo.

Estou mais cansada psicologicamente que fisicamente.

Ainda bem que amanhã é sábado.

maybe ; lrhOnde histórias criam vida. Descubra agora