02 [O começo ]

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- Mãe passei a detestar o bairro. - Digo mal entro em casa deitando-me no sofá.

- O qu- Começa a falar mas logo se trava suspirando. - Ainda à pouco chegamos cá, filha.

- Mãe ouve-me! Um idiota embateu contra mim e fez-me deixar cair o saco dos pães. Está tudo arruinado, não sobrou um em condições! - Fecho os olhos bufando.

- Oh deixa lá o pão, Sadie. Pensei que tivesse sido algo pior!- Fico perplexa. 

- Algo pior?! Achas que podia ter havido algo pior?! O rapaz embate contra mim e depois ainda me seguiu até casa a melgar-me, a melgar-me e a melgar-se para saber o raio do meu nome e ainda queria que eu sorrisse para ele!

Aposto que o pobre rapaz nem fez por mal.- Ela ri.

- Não estou a por isso em causa, mas ele podia ser mais cuidadoso! -

- Ai meu Deus que tempestade por causa de uns pães! Ultrapassa! Foi uma pessoa aleatória, são poucas as chances de o voltares a ver!-

- Ele é nosso vizinho!- Exclamo erguendo as mãos no ar dramaticamente enquanto ela ri divertida. - Mas sabes, ao menos o Paul é simpático.- Cruzo os meus braços acima da minha cabeça encarando o teto.

- E quem é esse? -

- O dono da mercearia, suponho eu.

- Então diz-se senhor Paul, ele não andou contigo na escola!- 

- Na verdade, foi ele quem pediu para o tratar por Paul. Diz que senhor o faz envelhecer 10 anos.- 

- Olha que ótimo! Já tens um amigo!

Conhecido, mãe.- Corrijo ligando a televisão.

- Certo. Amanhã começam as tuas aulas, não é melhor irmos às compras ou assim? Uma nova roupa dava-te outro ar."

- Gosto do ar que respiro, muito obrigada! - Retorqui fazendo zapping na televisão.

- Vem lá. Vai ser divertido, aproveitamos e vamos conhecer a cidade.-

- Não me apetecia muito estar fechada num shopping a tarde toda.- Tento me esquivar daquele ambiente fechado frequentado por humanos mas a minha tentativa falha.

- Duas horas no máximo? - Suspiro fortemente e cedo ao pedido de Anne, ela está tão cansada de mudar de casa quanto eu. E eu amo a minha mãe, somos apenas nós os três contra as mentiras ditas nos jornais. Temos que ser uns pelos outros.

[...]

A primeira coisa que faço quando chego a casa é atirar as imensas sacas para o sofá. -É por isso que não gosto de ir às compras!-

- Calma Sadie, que stress rapariga!-

- Eu estou calma! Calmíssima! Mais calma era impossível! Mas diz-me: ultimamente só se fala na crise e no entanto são filas e filas nas lojas, onde está o raio da crise? Passamos quatro horas no shopping mãe! E era no máximo duas mas tu achas normal?"

- Claro, chama-se saldos.- Piscou-me o olho.

- Raio da época de saldos.- Murmuro e ouço-a rir.

- Cansas-me a beleza filha!- Olho para ela semicerrando os olhos.

- É, e tu já não tens muita não...-

- O que é que a minha menina disse?

- Mãe... conheço esse olhar! Mil-anos-de-dor não por favor!"

Maldita a hora que lhe ensinei a fazer aquilo. Basicamente consiste em fazer cócegas mais acima da cintura, são lados frágeis e magoam com o toque. Comecei a correr feita parva e bati com a perna na mesa.

- Porra!- Grito amarrada à perna dorida.

- Estás bem?- Estou. Tudo falso.

- Não! E a culpa é toda toda! - Vou sacar a cartada de me fazer de vitima. 

- Minha!? Ninguém te mandou andares a correr feita estúpida! -

- Ias-me fazer mil-anos-de-dor o quê que querias que eu fizesse? -

- Que parasses quieta que assim era mais rápido sofreres! - Constatou e riu-se bastante enquanto eu fazia caretas de dor.

- Não mete piada sabes?

-Mete sim!- Eu tentei meter uma cara séria mas logo me juntei a ela.

- As minhas meninas estão muito divertidas, pode-se saber o porquê?

- Olha quem decidiu acordar! - Digo divertida ainda sentada no chão enquanto ele me pisca o olho.

- Spencer, a tua filha é tão burra, que até se magoa despropositadamente!

- Tenho a quem sair!- Contrapus. - Isto veio dos vossos genes! Agora não me culpem.

 - Verdade Anne. Quantas vezes te salvei de seres atropelada?! - Olho para a minha mãe de sobrancelha erguida vitoriosa.

- Muito obrigado, Spencer. Acabaste de me difamar mesmo em frente da nossa filha! - Diz e bate-lhe no braço.

- Continuai os dois e pode ser que hoje não haja jantar para ninguém! - Continuou olhando-nos alternadamente.

- Calma mãe, não leves a mal. Mas cada um tem o que merece! - Brinco e o meu ri-se juntamente comigo.

Eu e o meu progenitor sentamo-nos na mesa da cozinha enquanto eu dou uma vista de olhos no que compramos. 

- Já agora Anne..." Ele quebra o silêncio. - Eu estive a pensar e... bem, acho que devia procurar um emprego.- Fala e eu olho para ele surpresa.

- O quê!? Não, isso está fora de questão! Não quero mudar de casa novamente Spencer!- A minha mãe diz rapidamente.

- Eu fui dar uma volta pelo bairro e as pessoas parecem amáveis e este é um bairro pacato e além do mais, o dono da mercearia, o Paul disse que se eu quisesse podia dar uma ajudinha lá.-

- Pai eu também não acho que seja boa ideia... não me quero mudar outra vez, cinco vezes são suficientes, por favor. - Imploro.

- Pensem bem... - Suspira. - A polícia não faz ideia de onde estamos, certamente não me vão procurar a trabalhar numa mercearia local!

Eu fiquei calada. Talvez o meu pai tivesse razão. Talvez não devessemos viver nas sombras para todo o sempre.

- Anne tens que perceber que eu quero seguir em frente. Eles não vão andar atrás de mim uma vida inteira! Ele virasse para a minha mãe gesticulando. 

- Percebe que o que eles pensam que tu fizeste é um crime Spencer! Se eles te apanham és preso! Eles não nos vão deixar em paz mesmo que só tenha passado um ano!- Ela funga tapando a cara.

O meu pai respirou fundo e levanta-se abraçando-a.

- Eu só... eu só não quero que eles te encontrem Spencer... que eles nos encontrem. O que seria a nossa vida sem ti? - Lágrimas caiam nos olhos da minha mãe. É estranho ver um dos nossos progenitores chorar. Quer dizer, eu quase nunca choro. Tudo desde que aconteceu aquele incidente.

- Não chores por favor, não sabes o quanto me custa ver-te chorar! Eu estou aqui, eu vou ter o máximo de cuidado eu prometo-te!- O meu pai limpa-lhe as lágrimas dando-lhe de seguida um pequeno beijo.

- Eww não! Que nojento!" - Digo divertida enquanto eles se riem.

Deu para aliviar o ambiente pelo menos.

- Acho que devias arriscar...- Digo reticente dando de ombros. O meu pai sorri-me assentindo. 

- Vou arriscar. - Sorri-o também e pego nos meus respetivos sacos de roupa e subo para o meu quarto.

Amanhã é o meu primeiro dia de aulas.

Só tenho medo de não  entender a maioria das matérias visto que estamos a meio do 2° período. Eu apenas tenho que conseguir. É o meu último ano na escola. 12° está quase acabado. Se eu consegui sempre não é agora no último ano que vou deitar tudo por água abaixo.


maybe ; lrhOnde histórias criam vida. Descubra agora