- Mãe passei a detestar o bairro. - Digo mal entro em casa deitando-me no sofá.- O qu- Começa a falar mas logo se trava suspirando. - Ainda à pouco chegamos cá, filha.
- Mãe ouve-me! Um idiota embateu contra mim e fez-me deixar cair o saco dos pães. Está tudo arruinado, não sobrou um em condições! - Fecho os olhos bufando.
- Oh deixa lá o pão, Sadie. Pensei que tivesse sido algo pior!- Fico perplexa.
- Algo pior?! Achas que podia ter havido algo pior?! O rapaz embate contra mim e depois ainda me seguiu até casa a melgar-me, a melgar-me e a melgar-se para saber o raio do meu nome e ainda queria que eu sorrisse para ele!
- Aposto que o pobre rapaz nem fez por mal.- Ela ri.
- Não estou a por isso em causa, mas ele podia ser mais cuidadoso! -
- Ai meu Deus que tempestade por causa de uns pães! Ultrapassa! Foi uma pessoa aleatória, são poucas as chances de o voltares a ver!-
- Ele é nosso vizinho!- Exclamo erguendo as mãos no ar dramaticamente enquanto ela ri divertida. - Mas sabes, ao menos o Paul é simpático.- Cruzo os meus braços acima da minha cabeça encarando o teto.
- E quem é esse? -
- O dono da mercearia, suponho eu.
- Então diz-se senhor Paul, ele não andou contigo na escola!-
- Na verdade, foi ele quem pediu para o tratar por Paul. Diz que senhor o faz envelhecer 10 anos.-
- Olha que ótimo! Já tens um amigo!
- Conhecido, mãe.- Corrijo ligando a televisão.
- Certo. Amanhã começam as tuas aulas, não é melhor irmos às compras ou assim? Uma nova roupa dava-te outro ar."
- Gosto do ar que respiro, muito obrigada! - Retorqui fazendo zapping na televisão.
- Vem lá. Vai ser divertido, aproveitamos e vamos conhecer a cidade.-
- Não me apetecia muito estar fechada num shopping a tarde toda.- Tento me esquivar daquele ambiente fechado frequentado por humanos mas a minha tentativa falha.
- Duas horas no máximo? - Suspiro fortemente e cedo ao pedido de Anne, ela está tão cansada de mudar de casa quanto eu. E eu amo a minha mãe, somos apenas nós os três contra as mentiras ditas nos jornais. Temos que ser uns pelos outros.
[...]
A primeira coisa que faço quando chego a casa é atirar as imensas sacas para o sofá. -É por isso que não gosto de ir às compras!-
- Calma Sadie, que stress rapariga!-
- Eu estou calma! Calmíssima! Mais calma era impossível! Mas diz-me: ultimamente só se fala na crise e no entanto são filas e filas nas lojas, onde está o raio da crise? Passamos quatro horas no shopping mãe! E era no máximo duas mas tu achas normal?"
- Claro, chama-se saldos.- Piscou-me o olho.
- Raio da época de saldos.- Murmuro e ouço-a rir.
- Cansas-me a beleza filha!- Olho para ela semicerrando os olhos.
- É, e tu já não tens muita não...-
- O que é que a minha menina disse?
- Mãe... conheço esse olhar! Mil-anos-de-dor não por favor!"
Maldita a hora que lhe ensinei a fazer aquilo. Basicamente consiste em fazer cócegas mais acima da cintura, são lados frágeis e magoam com o toque. Comecei a correr feita parva e bati com a perna na mesa.
- Porra!- Grito amarrada à perna dorida.
- Estás bem?- Estou. Tudo falso.
- Não! E a culpa é toda toda! - Vou sacar a cartada de me fazer de vitima.
- Minha!? Ninguém te mandou andares a correr feita estúpida! -
- Ias-me fazer mil-anos-de-dor o quê que querias que eu fizesse? -
- Que parasses quieta que assim era mais rápido sofreres! - Constatou e riu-se bastante enquanto eu fazia caretas de dor.
- Não mete piada sabes?
-Mete sim!- Eu tentei meter uma cara séria mas logo me juntei a ela.
- As minhas meninas estão muito divertidas, pode-se saber o porquê?
- Olha quem decidiu acordar! - Digo divertida ainda sentada no chão enquanto ele me pisca o olho.
- Spencer, a tua filha é tão burra, que até se magoa despropositadamente!
- Tenho a quem sair!- Contrapus. - Isto veio dos vossos genes! Agora não me culpem.
- Verdade Anne. Quantas vezes te salvei de seres atropelada?! - Olho para a minha mãe de sobrancelha erguida vitoriosa.
- Muito obrigado, Spencer. Acabaste de me difamar mesmo em frente da nossa filha! - Diz e bate-lhe no braço.
- Continuai os dois e pode ser que hoje não haja jantar para ninguém! - Continuou olhando-nos alternadamente.
- Calma mãe, não leves a mal. Mas cada um tem o que merece! - Brinco e o meu ri-se juntamente comigo.
Eu e o meu progenitor sentamo-nos na mesa da cozinha enquanto eu dou uma vista de olhos no que compramos.
- Já agora Anne..." Ele quebra o silêncio. - Eu estive a pensar e... bem, acho que devia procurar um emprego.- Fala e eu olho para ele surpresa.
- O quê!? Não, isso está fora de questão! Não quero mudar de casa novamente Spencer!- A minha mãe diz rapidamente.
- Eu fui dar uma volta pelo bairro e as pessoas parecem amáveis e este é um bairro pacato e além do mais, o dono da mercearia, o Paul disse que se eu quisesse podia dar uma ajudinha lá.-
- Pai eu também não acho que seja boa ideia... não me quero mudar outra vez, cinco vezes são suficientes, por favor. - Imploro.
- Pensem bem... - Suspira. - A polícia não faz ideia de onde estamos, certamente não me vão procurar a trabalhar numa mercearia local!
Eu fiquei calada. Talvez o meu pai tivesse razão. Talvez não devessemos viver nas sombras para todo o sempre.
- Anne tens que perceber que eu quero seguir em frente. Eles não vão andar atrás de mim uma vida inteira! Ele virasse para a minha mãe gesticulando.
- Percebe que o que eles pensam que tu fizeste é um crime Spencer! Se eles te apanham és preso! Eles não nos vão deixar em paz mesmo que só tenha passado um ano!- Ela funga tapando a cara.
O meu pai respirou fundo e levanta-se abraçando-a.
- Eu só... eu só não quero que eles te encontrem Spencer... que eles nos encontrem. O que seria a nossa vida sem ti? - Lágrimas caiam nos olhos da minha mãe. É estranho ver um dos nossos progenitores chorar. Quer dizer, eu quase nunca choro. Tudo desde que aconteceu aquele incidente.
- Não chores por favor, não sabes o quanto me custa ver-te chorar! Eu estou aqui, eu vou ter o máximo de cuidado eu prometo-te!- O meu pai limpa-lhe as lágrimas dando-lhe de seguida um pequeno beijo.
- Eww não! Que nojento!" - Digo divertida enquanto eles se riem.
Deu para aliviar o ambiente pelo menos.
- Acho que devias arriscar...- Digo reticente dando de ombros. O meu pai sorri-me assentindo.
- Vou arriscar. - Sorri-o também e pego nos meus respetivos sacos de roupa e subo para o meu quarto.
Amanhã é o meu primeiro dia de aulas.
Só tenho medo de não entender a maioria das matérias visto que estamos a meio do 2° período. Eu apenas tenho que conseguir. É o meu último ano na escola. 12° está quase acabado. Se eu consegui sempre não é agora no último ano que vou deitar tudo por água abaixo.
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maybe ; lrh
FanfictionHá quem lhe chame amor á primeira vista, mas também há quem lhe chame ódio.