Assim que ponho um pé fora do carro, o cheiro indistinguível a mar atinje-me fortemente."Cheira a peixe podre!" Queixo-me e tapo o nariz.
O meu pai tranca o carro e abre os braços fazendo o seu casaco vibrar e leva com o vento na cara sorrindo.
"Cheira à natureza, Sadie. Sente isto!" Abriu ainda mais os braços e cambaleia para trás devido á brisa demasiado forte e segura-se em mim e na minha mãe, visto que está uma de cada lado.
Eu e Anne rimos e ele finge uma cara séria.
Começamos a caminhar até chegarmos á areia e estendemos a toalha de cada um.
Não está, literalmente, ninguém na praia. O que penso ser normal visto que ainda estamos nos finais de Março, e o frio ainda está presente.Tiro o jornal dobrado com cuidado da minha bolsa e meto-o nas nas minhas pernas cruzadas.
"Então filha, já andas á procura de emprego?" O meu pai pergunta assim que repara nele.
Estendo-lhe o jornal na página pretendida e ele lê atentamente.
"Isso é o que estou a pensar?" A minha mãe questiona enquanto segura também no jornal.
Assinto e ambos ficam brancos como o cal. Mais ainda.
Observo as ondas a baterem fortemente nas rochas formando uma melodia agradável.
"Oh meu Deus, nós temos que sair de Melbourne, nós te-" Ele quase grita e erguesse e eu puxo-o pelo braço.
"Tu não vais fazer nada e nós não vamos sair de Melbourne!" Corto-o.
Eu tenho aqui o Luke.
"Nós apenas temos que agir normalmente. Começa a levar o meu carro para o trabalho, eu sei que é estúpido uma vez que moramos apenas a 3 minutos de lá mas é melhor que nada!"
"O carro é teu!"
"E então? Não é por tu andares com ele que deixa de ser meu! E eu ainda não tenho a carta, visto que eu não sabia que ia ter um carro. Esta semana tenho que tratar disso."
"Sadie...eu não sei. Nós vamos ser apanhados. Nós vamos ser apanhados. Nós vamos ser apanhados." Repetiu inúmeras vezes enquanto baloiçava o tronco para a frente.
"Spencer, tem calma. A polícia não sabe para onde te dirigias, não sabe onde trabalhas, apenas te avistou ok? Tens que ter fé. Os polícias nem sempre são competentes."
"Aqui diz que eles vão bater a todas as portas possíveis para descobrirem algo novo.
Estou tramado, Anne!" Exclamou e olhou-a preocupado."Pai. Se estiveres sempre a pensar nisto tens 20% de chances de isso realmente acontecer." Afirmo e ele olha-me sério.
"Cientificamente provado!" A minha mãe continua e eu agradeço-lhe por isso.
"Isso é a coisa mais estúpida que já ouvi. Eu penso todos os dias em ganhar o euromilhões e isso nunca aconteceu."
"Ainda!" Aponto-lhe o dedo divertida, ainda que não haja nada de divertido nesta história toda. "Não te lembras quando jogas-te e saiu sempre um número acima dos teus?"
"Ugh, pois foi. Fiquei tão mas tão frustrado. Que horror."
Levanto-me e sacudo os pequenos grãos de areia que jaziam nas minhas calças.
"Vou dar uma volta por aí. Volto daqui a 10 minutos." Falo olhando para o relógio.
Ambos assentem e eu começo a descer até chegar á areia molhada e uma onda me atingir os pés deixando-me congelada.
Um arrepio percorre-me as pernas nuas até chegar á dobra das minhas calças e eu salto para trás afastando-me da água gelada.
Retomo o caminho pela beira-mar e ando calmamente.
Memórias de quando o Logan me veio entregar a prancha com um enorme sorriso são recordadas e eu paro a olhar para o mar idealizando exatamente aquele dia.
Quando eu saí da água completamente enervada e acabei por tropeçar no castelo de areia de uma criança fazendo-a chorar; quando ao me ir embora ele corre até mim e me tenta entregar a minha não-prancha; quando me pediu para jantar com ele, eu recusei logo e mesmo assim aquele sorriso genuíno não desaparecia; quando me deu um papel com o seu número e eu peguei nele á bruta retomando o meu caminho pela areia escaldante.
Olhei para trás uma última vez e ele acenou-me rapidamente ao qual eu virei costas.
Conhecê-lo foi a melhor coisa da minha vida.
Uma pinga cai-me na ponta do nariz e outra na testa assim que olho para o céu nublado.
Começam a cair em maior quantidade e eu sorrio andando calmamente até aos meus pais que correm com as toalhas na cabeça forma de abrigo.
Abrem o carro e enfiam-se lá dentro, sendo eu a última a chegar.
Ambos olham para trás repreenssivos e eu dou de ombros sorrindo.
"Adoro chuva."
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maybe ; lrh
FanficHá quem lhe chame amor á primeira vista, mas também há quem lhe chame ódio.