9. Circo dos horrores

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Capítulo 9

If you ever need me

Just tell me, and I'll be there

'Cause I was built for you

Yes, I was built to carry all your feelings

Safe with me - Sam Smith

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Reza a lenda, que a gente nasceu para ser feliz. Que grande mentira. Como posso acreditar numa coisa dessas quando estou prestes a me casar com um garoto totalmente imbecil e repulsivo?

No mínimo, posso acreditar que eu sou exceção a esse lema aí de ser feliz. Não sei explicar se isso é dívida das vidas passadas, se Alá realmente não vai com a minha cara ou talvez se eu simplesmente tenho como sobrenome a palavra Azar.

Faz tanto tempo que alguma coisa não me faz feliz completamente. Sinto falta disso. Quem não sentiria, não é mesmo? Invejo aquelas crianças da ala oncológica, que mesmo travando uma luta dolorasa contra uma doença mortífera, têm sempre um motivo, um simples motivo, para dar uma risada gostosa e demorada.

Às vezes dá tanta vontade de voltar no tempo, de viver novamente alguns minutos de puro êxtase e alegria. Quando não havia preocupações além de que lápis de cor seria melhor para usar no vestido da princesa. Oh sim, daria tudo para ter uma máquina no tempo.

Mas o que resta é saudades, e até mesmo remorso. Remorso de não ter vivido tão intensamente quanto deveria, porque sim, eu deveria arriscar mais, tentar mais, para que no final tudo valesse à pena.

Mas não, tudo o que tinha agora era uma imensa dor de cabeça, e tudo por causa de uma criatura que entrou na minha vida para fazer dela a própria casa de Hades.

E pensar que eu só tenho 17 anos... Céus, o que eu ainda vou sofrer?

- Mas Lia, caraca, como esse 4 foi aparecer aqui? - perguntou Zayn, com espanto, apontando para folha completamente rabiscada. Adeus fantástico mundo de Thalia...

- Você por acaso sabe multiplicar? Pois é, foi isso que eu fiz, multipliquei, mas essa magia só funciona com pessoas sábias - revirei os olhos, deitando minha face em minhas mãos

- Cara depois dessa acho que já tá bom de contas - ele falou se espreguiçando e pude ouvir os estalos altos de suas juntas.

- Se você acha, eu tenho certeza - grunhi enquanto coçava os olhos - por Alah, eu tô destruída - comentei enquanto tentava fazer um coque em meu cabelo, mal sucedido. Em centésimos de segundos minhas madeixas já rodeavam meu rosto, parando no final das minhas costas.

- Você quer comer alguma coisa? - perguntou com educação.

- Não, obrigada - respondi, também educada, enquanto me levantava e ia até a porta da varanda do quarto de Zayn.

Abri as portas de vidro e encarei a noite gelada. A vista era mesmo muito bonita. Bradford parecia de outro mundo de noite, com suas luzes amarelas, parecendo estrelas na terra. Me lamentei por não poder ver as estrelas verdadeiras no céu, o tempo estava nublado, com nuvens negras cobrindo o teto natural que me cercava.

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