Mais uma vez um parto dificil.

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Minha mãe não gostava de fazer pré- natal. Já estava passando dos nove meses e as dores de parto não vinha. Então ela foi ao médico já ciente de seu primeiro parto sezariano. Ela foi em Santa Inês onde o hospital público era mais avançado. Todos esperávamos com ansiedade o retorno. Ficávamos apostando. Menino ou menina?

Eu estava sentindo umas reações estranhas. Eu estava nervoso e suando frio. Quando eu ficava dessa forma era por inculcar minha situação homossexual, familiar, religiosa,  social e meu absurdo caso relâmpago com Valdo. Mas não era nisso tudo que eu estava pensando. Muito menos preocupado com minha mãe. Ela nåo saiu em estado grave, apezar de quase 10 meses de gravidez. Eu apenas estava querendo fugir da vida.  As mãos tremendo por nada. Um medo  não sei de quê, e uma tristeza em existir. No terceiro dia meu pai chegou com uma criancinha no colo. Minha mãe comprou tudo cor de rosa, por achar que seria menina. Mais debaixo da manta cor de rosa, tinha um menininho com o rostinho lindo competindo com o rosado da manta. Corremos todo para cima. A alegria tomou conta de todos nós. Quando nos aproximamos do bebê, meu pai, ao invés do sorriso com que sempre recebia um novo filho, estava chorando e sufocando o choro. Lutando agonisantemente para não gritar em nossa frente. Minha irmã mais velha entrou em pânico e começou a chorar desesperadamente tambem. Os vizinhos outra vez enchiam de lágrimas nossa casa. D. Rosa imediatamente pegou a vassoura e implorando para meu pai parar de chorar começou a varrer nossa casa. É assim que os vizinhos faziam no interior onde morávamos. Eles sempre varriam a casa para receber alguem que morreu nas casas vizinhas. Em locais onde não existe IML são os vizinhos que preparam o corpo e fazem o serviço funeral. Meu pai amparado pelos vizinhos começou a por o choro pra fora. "Ela morreu gente. Ela morreu" ... Ela foi retirada da sala de espera. Está no CTI... mas pelo estado em que vi ela não volta mais... O médico me entrgou o nenê. Se ela não voltar até as 19hs. É porque acabou de morrer. Minha avó não teve forças para vir em nossa casa. Minha tia ficou no hospital com ela. Meu pai deixou o bebe com minha irmã mais velha e voltou onde minha mãe novamente. Olhei para D. Rosa e falei com uma fúria que brotou de dentro.

-"Se minha mãe morrer, eu vou morrer agora e ser jogado no lago de fogo".

Para com isso menino. Tu é louco pra falar uma coisa dessa? Isso não tem o mínimo sentido. Fala uma coisa melhor para esse momento. Ainda não é certeza que sua mãe morreu. E ela não vai morrer.

Meu pai chegou no outro dia às 8 da manhã e atrás dele saiu da parte trazeira do táxi minha mãe. O sol parecia nascer para mim pela segunda vez na mesma manhã. E o dia estava lindo. Corremos ao seu encontro. Mãe como nosso nenê é lindo. Como ele é rosadinho. Parecia um coelhinho debaixo da manta. Esse é o nenê mais lindo que já vimos.

D. Rosa chegou com as otras vizinhas: Mais mulher que susto.... achamos que tinhamos perdido nossa vizinha. E aí d. Lurdes, como é que você está? Não faça mais isso com a gente.....

A irmã Conceição. Sempre falo que ela é uma "irmã de alma" de minha mãe. Deitou-se doente na cama, desde que minha mãe saiu,  e só levantou quando minha mãe chegou  do hospital. Já foi logo pegando o bebezinho para dar banho. Banhando o nenem e chorando. Chorando por minha mãe e chorando pela criança. Era louca pra adotar meu irmãozinho desde o inicio da gestação. Mas ela não se imaginava sem minha mãe.

             #Saudade desta querida vizinha.... E familia.

-O que aconteceu mãe, porque a senhora quase morre?

Eu recebi a anestesia geral e não acordei mais após a cirurgia. Eu sentia que estava morrendo. Mas eu pensava em meus filhos e pedia a Deus pra não ir. Eu apenas via e seguia aquela forte luz. Mas eu resistia em seguir adiante... os médicos me puseram em uma sala cheia de lâmpas com fortes luzes. Meu corpo foi aquecendo aos poucos. Quando eu ia entrando completamente na luz que me sugava, acordei. Confundindo as luzes naturais com as luzes do infinito que eu via.

Tenho uma noticia triste. No dia que tive o nenê, o seu primo Antônio se suicidou.

- Puxa o filho da tia Toinha.

Cheguei a conclusão que o que estava sufocando minha alma era esse suicídio.

A Face negra da santidade.  O amor de Deus por um pecadorOnde histórias criam vida. Descubra agora