O destrutivo poder da auto-culpa

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Um dia, na escola dominical levei um raio, de cima do púlpito do dirigente presbitero, que eu jamais imaginei. Ele falou: Quem é você para afrontar fulano de tal... Um homem honesto e crente.... Em que eu tenho a mais alta conta? O que você acha que é? Pensas que não sei o que você é, e tudo que você faz? No final dessa escola dominical falarei com você pessoalmente. No final, como prometido ele me esperou na porta da igreja. Cumprimentou- me com um aperto de mão. Mais não dei a ele chance de iniciar a conversa. Quem iniciou foi eu:

- Você sabe a quem defendeu de cima do púlpito? Esse homem a quem você defendeu está gravado em minha memória. Acho que dos 4 anos de idade... . Eu estava ressonando, em um sono da tarde, em minha rede na sala de casa. Ele chegou devagarinho e pôs a sua pomba em minha boca. Eu estava naquele sono, meio dormindo meio acordado, mais despertei de vez naquela situação. Ele empurrando sua pomba em minha boca. Comecei a chorar. e... uma pessoa que você conhece, que é adulto tambem, pegou de surpresa o seu crente preferido naquela situação. Ele viu tudo da janela de casa. Se você quizer comprovar a realidade fale com ele. Pois isso é uma coisa que nunca esqueci. É por issso que o odeio. E.. o púlpito da igreja não foi feito pra defesa pessoal de ninguem. Muito menos para acusações as pessoa que fazem parte da igreja. Ou será que o dízimo de meus pais é o menor?

Os olhos do velho presbitero dobraram de tamanho. Sua testa enrugada criou profundas valas de uma só vez. Suas sobrancelhas subiram ao alto da cabeça. Apertou minhas mãos e percebi. Em vez de esfriarem as minhas as dele é que estavam geladas. Ele jamais imaginou nessa possibilidade. No culto da noite ele falou no inicio da pregação: aceitei a Jesus com 13 anos de idade. Desde os 15 sou um pregador. Mais eu nunca imaginei que receberia lições de um menino. Pois tudo que ele me falou, fui atrás hoje a tarde. E descobri a verdade. Descobri e chorei. Jamais acusarei novamente um mosquito sequer de cima de um pulpito. Uma lição em meus últimos dias de vida e ministério. O que me impreciona é como alguem com 4 anos de idade lembra disso. Sendo que estava acabando de acordar?

O dirigente criou na congregação um culto de treinamento para jovens pregadores. Todos os jovens foram convocados para participar. Eu estava com medo de ser chamado. Me sentia um mentiroso, hipócrita miserável. Pra estar naquela posição eu tinha que, pelo menos, confessar publicamente, como a igreja exigia, meus pecados. E não tinha, apenas que ser o pecado horrendo com Valdo. Eu tinha que confessar... um por um. Desde os dias em que comecei as brincadeirinhas sexuais infantis com garotinhos e garotinhas, a punheta asquerosa e ao mesmo tempo deliciosa em Valdo e o meu desejado e indesejado vicio da masturbação. Esses eram meu peso de alma. Por mais que em minha mente eu tentasse me convencer de que eu estava errado. Tudo em minha introspecção compulsiva me falava o contrário. Minha consciência vivia em uma tempestade de acusações interior. No primeiro dia do treinamento, todos do grupo de jóvens se entreolhavam. Eu esfregava minhas frias e suadas mãos uma na outra. O lider de jovem começou. E no momento da chamada, eu fui o primeiro. Exatamente eu. Meu colega, ex namorado de Milly sorriu baixinho. Cochichou para mim: Vai, não é isso que você quer? No momento que me chamarem eu não vou... respondi a ele, antes do primeiro passo em direção ao púlpido. Claro! É isso que quero... em meu interior de adolescente eu falava a mim mesmo: ou confesso meus pecados ou não vou conseguir... Tenho que caminhar direito e manter minha voz sempre no mesmo rítimo. Sem afinar. Falar o mais grosso possivel.... Eu nunca vou ser gay... nunca... !!! E fui. Fui ao chamado, ver se nascia ali um grande pregador.... subi ao púlpido, em passos ensaidos mentalmente, peguei o microfone:

- Eu saúdo os irmãos com a paz do Senhor...

Até aí os pés estavam frios...

- E, que essa paz permaneça em nossos corações, não só hoje mas que seja eternamente.

Essa era, geralmente, a entrada costumeira de todos os pregadores. Mas o frio já corria velosmente pela espinha dorsal e subia pela coluna vertebral.

- meus irmãos: eu trouxe um versiculo que se encontra em ******
Que diz: assim como foi nos dias de noé será na vinda do Filho do homem.....

Nem eu mesmo sei se vou ser salvo. Imaginava eu...

- Vamos nos preparar para vinda de Jesus pois está muito próxima...

2 minutos pensando na próxima frase. O frio subindo. As pernas tremendo as mãos geladas. A culpa acusatória me corroendo.

-Jesus virá de surpresa meus irmãos!!!

O frio chegou ao centro do cérebro. Deu pra sentir até no extremo da cabeça. Mais 2 minutos procurando em meu baú mental, outra frase que não aparecia.

- Em nome de Jesus, Amem.

Até que em fim. A frase salvadora daquele saco de pecados, que era eu. chegou... Pra me mandar embora do santo púlpito de vez por aquele primeiro dia.

Todos os jovens foram chamados. Meu colega amigo apenas falou o que já premeditava: Tô fora. Todos os outros foram... e me consideraram o melhor dos iniciantes. Só conseguiram ler o versículo que marcaram na bíblia.

Agora o lider de jovem queria que eu pregasse no culto de rua. E eu estava agora, com o peso da culpa. O peso da homossexualidade. E a responsabilidade de correr da hipocrisia. Era isso que eu me considerava toda vez que nosso lider anunciava: Vamos ouvir o irmão Gelson com uma menságem da palavra de Deus. "Sou mais pecador que o pecador" , pensava eu. Eu queria mais do que tudo ser pregador. Mas eu não pensava no receptor. Eu ainda não tinha entendido qual o objetivo do pregador. Para mim pregador servia para dar uma linda e emocionante menságem. Para emocionar,
atraí admiradores e encher a igreja de gente. Não deveriam ter pecados encobertos, como eu tinha. Eu tinha que ser zilhões de vezes mais santo que o receptor para chamá- lo de pecador perdido. Para dizer vem pra Jesus. Eu era preocupadíssimo com minha imágem. E para mim, eu era um quadro borrado. "Mais sujo do que pau de galinheiro". Quando meu colega se recusou a iniciar, a um chamado para pregar a palavra de Deus. A se tornar um jovem pregador. Condenei o por dentro de mim. Mas agora eu estava entendendo. Eu devia ter feito o mesmo. Seria menos pecado. Ruminava eu, em minha mentalidade, todos os cultos em que eu era chamado.

Os 3 jovens pregadores eram o modelo. Seus trabalhos, pobresa, dificuldades todos sabiam. E sabiam tambem de sua beleza masculina. Eram heróis que fugiam dos pecados da juventude. Tinham uma linda voz. Grossa, meu grande sonho. Falar grosso ao microfone. O que nunca aconteceu. Me tratavam super bem... Em minha frente.... nåo tinham corágem de me repelir diante de meus olhos. Aos poucos, fui descobrindo. Meu coleguinha pregador estava arrebentando. Agora batisado com o Espirito Santo ele dava um glorioso testemunho. Eu me achegava. E ele procurava seu jeito de se sair de minha compania. Eu sempre ficava sozinho e desacompanhado no final dos cultos. Cada um saía para a praça ou para o caminho de casa, sorrindo com um amigo ou grupo de amigos. Eu ficava de fora.... E não entendia: Porque o lider de jovem insiste comigo. Quer me chamar para pregar a palavra de Deus... ????

Em um dos cultos de treinamentos o presbitero compareceu. Ele fez questão de me anunciar. E um jovem falou do banco: Um pequeninho pregador. Ele respondeu de cima do púlpito: Nos menores frascos se guardam os melhores perfumes... dessa vez foi minhas testa que se enrugou. Outra coisa do velho presbitero que jamais imaginei. No final do culto de treinamento ele me esperou na porta novamente. Me cumprimentou e falou: Você é diferente do que me falaram. Mais falei a ele:

-Os pecados foram verdade. E o que falam pode ser.

Sim. Mas não desista. Me surpreendeu o velho presbitero. Que dava ordens para que eu fosse chamado para pregar. E que criou o culto de treinamento por minha causa. Mas eu nåo consegui me livrar da depressão gay.... culpa... culpas... culpado... eu era o meu carrasco juíz..

A Face negra da santidade.  O amor de Deus por um pecadorOnde histórias criam vida. Descubra agora