Os traços de minha personalidade

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Eu gostava de Bom Jardim por causa de minha vó. Mas as histórias dos parentes falecidos me deixavam atemorizado. Minha avó e sua casa eram envolvidas por um ar de penumbra e nostalgia. Eu não ficava sozinho no quarto. Eu não entrava na casa de minha finada Tia Adelina. Desde o incidente com a bolsa do falecido amigo de nossa familia, desenvolveu- se, repentinamente em mim, o medo dos mortos. Mas eu pensava, não era na bolsa. Mas no que meu irmão falou. Na possibilidade de eles voltarem em forma de espírito. Uma vez, quando eu ainda era bem criança, chegou em nossa casa um vendedor de quadros. Era de um santo católico. Não lembro o nome do santo. No quadro tinha a imágem de um homem vestido de pele de animal. Mas, em meu olhar infantil, deu- me a impressão, que os pelos eram do próprio santo. Eu achei lindo o rosto do santo. Mas estranhei o pelo. Um homem com pelos, novidade. Eu queria que minha mãe comprasse o quadro. Pois achei bonito. Ela, como todo evangélico se recusou. O vendedor foi embora e esquecí o quadro. Chegou a noite. Fomos dormir. Nosso quarto não tinha banheiro. Eu ainda não ia ao quintal sozinho, nessa época. Nosso quarto era o último da casa. O de minha mãe o primeiro. No meio era o quarto das meninas. Ao lado a sala de jantar. Onde meu tio dormia. Ele estava com epatite. Estava se recuperando em nossa casa. Acordei no meio da madrugada com vontade de urinar. Do quarto de minha mãe dava pra ela nos ouvir quando chamávamos.

-Mãe, mãe, mãe quero mijar.

Vem, vem menino. Ela estava resistindo em se levantar para acender a luz.

-Tô com medo. Acenda a luz. Eu não vou se não acender a luz. Vou mijar na rede.

Meu pai levantou-se para acender a luz da sala e não a do seu quarto. Mas eu não estava sabendo. Criei corágem e me dispus a ir ao pinico no quarto de minha mãe. Levantei no escuro e fui. Eu tinha que sair de meu quarto, atravessar a sala onde meu tio estava dormindo. No caminho vi algo aterrorisante. O santo do quadro vinha em minha direção. Mas ele não estava com o rostinho lindo que vi no quadro. Era o rosto mais feio e pavoroso que eu já tinha visto. O corpo peludo como o do santo. Olhos esbugalhados. Os lábios tinham o trilpo do tamanho e da largura de um ser humano normal. Eu gritei e cai no chão amedrontado. Pois minhas pernas faltaram. Deixaram de obedecer os comandos. Eu gritei alto por minha mãe.

- Mãe, mãe. Tem um bicho. Um bicho horrível, mãe.

Eu tentava encontrar os movimentos de minhas pernas e não podia. Eu tentava correr, e caía. Meu pai gritava: Sou eu menino, sou eu. Mas quanto mais ele tentava explicar e vir ao meu rumo para explicar, era pior. Eu via era o bicho vindo em minha direção. Eu já tinha tropeçado, no nada, três vezes e caído, tentando correr. Até que ele encontrou o interruptor de luz. Acendeu a lâmpada, E vi que era ele. Meu tio acordou com minha gritaria. Assustado.... Minha mãe veio do quarto apressada por causa dele. Ela já tivera hepatite uma vez. E falava que ninguem podia se assustar estando com essa enfermidade. Meu pai foi em direção ao quintal. Eu fui, ainda
abalado de medo, ao quarto de minha mãe.

Eu sempre fiz desse incidente uma imágem real dos espiritos. Para mim todos eram assim. Sempre que meus pais queriam fazer uma vizita à minha vó, eu implorava para ir. Mas à noite, eu era doido pra voltar. Até que em fim, voltamos há três dias eu já estava fora de casa. Louco de saudade de uma punheta no quintal. começou a rotina novamente.

Mesmo Gaby, ainda me querendo. Eu não a quis mais. Simplesmente me afastei. Não tinha porque eu ficar em sua calçada olhando para cara da mãe dela. E eu não sabia o que era esse tipo amor para entender. Eu conhecia o que era sentir tezão por homens. Isso eu conhecia muito bem. Mas continuei beijando na boca e agarrando Andresa em meu quarto e na única travessa escura que tinha em minha rua e no bairro. Ela namorava comigo. Eu fingia que namorava com ela. Ela dizia me amar. Eu falava que gostava dela. Mas eu sabia o que era amar o próximo. Tê- lo, como irmão (a). Essa era minha concepção de amor. Isso era a minha parte prejudicial. Pois eu nunca tinha encontrado um retorno. E da mesma forma que era exigente com meu amor ao próximo. Eu exigia o mesmo das pessoas. Eu sempre vivia magoado com alguem. Eu dava amor. Eu exigia retorno. Eu não sabia detectar as diferencas do mundo interior de cada um Eu achava que todos viviam em meu mundinho mental. Eu exigia dos outros o mesmo que eu exigia de mim. Por causa disso eu não queria mais namorar Gaby e nem Andresa. Eu não entendia que as pessoas tem sua personalidade individual. Que as maneiras como agimos dependem de muitos fatores. A personalidade espiritual, a personalidade genética. A personalidade formada pelo mundo exterior.

A personalidade espiritual para mim é o amor. É o cosmo de nossa alma, emanado de Deus, nosso criador.

Eu era condenado por minha personalide femina, passiva, melancólica e despecebida. Um ingênuo por natureza Etc. Essa é a minha personalidade genética.

Os maltratos de meu pai e da vida iam aos poucos atropelando esse amor. Com tantas lições de vida, a ingenuidade se desfaz. Vai ficando uns aspéctos das personalidades. Vai saindo e chegando outros. As vezes, quando percebemos, jà nos tornamos anjos ou demônios, corajosos ou medrosos Etc, Dependendo da maneira como somos tratados ou tratamos. Depende do que digerimos para o nosso interior. Isso é que considero a personalidade produzida pelo mundo exterior.

Eu só conseguia digerir a culpa. Os despresos. O preconceito. Mas mesmo assim, eu lutava para amar. Quando percebi, as pessoas que eu achava que nunca iriam me amar, estavam me amando. Mas os ventos sopravam contra. E o pior vento em minha vida era a tempestade da auto- culpa. A auta- culpa era causada pelo anseio desesperado por santidade. A santidade era formalisada pelos preconceitos e "insultos religiosos e sociais" de quem achava que estava me fazendo o bem. Salvando minha alma. Me matando por dentro.

Quando eu tinha uns 10 anos de idade a mais, eu via um coleguinha levando uma surra, uma lapada de sinto ou até mesmo, apenas um tapa no alto da cabeça. Eu imaginava. Como è que ele não està envergonhado? Ele acabou de apanhar e parece que nada aconteceu.... O sorriso para os pais, os vizinhos outros colegas continua o mesmo... ? Com um incidente desses eu não segurava o choro e a vergonha por horas. Ou até mesmo dias. Dependendo da gravidade do caso. Eu exigia muito de mim. Esse era o traço mais voraz de minha personalidade com certeza,causado pelo mundo exterior. Vai um recado aos pais e educadores. Cuidado com a carga que põe nas costas das crianças. Ou até mesmo, adultos. Ninguem tambem precisa perverter. Mas educação tem que ter respeito ao ser humano para que possamos ter uma personalidade sadia. Construtiva. Não destrutiva. Um respeito ao corpo e à mente humana. È isso.....

A Face negra da santidade.  O amor de Deus por um pecadorOnde histórias criam vida. Descubra agora