A primeira grande decpção

15 0 0
                                    

Fui à escola no dia seguinte, pensando e preocupado na ausência do livro. Ser descriminado pela pobresa das vestimentas era o de menos. Alem da vergonha de ser o único da sala que não possuia livros minha mente era torturada pela tristeza de não os possuir. Eu adorava livros. Eu era fissurado em estórias infantis. Onde eu tinha oportunidade de pegar em um livro eu não disperdissava a chance de lê- lo. Do início à última página. E aqueles livros indicado pela escola particular era o meu grande sonho de consumo que meu pai podia me dar. Todas as vezes que a professora exigia o livro um frio tomava conta do meu estômago. Ela começou a não se incomodar com a ausência do livro logo que percebeu o meu desempenho escolar. Começou a elogiar minhas tarefas, e a ver que alem da pobresa eu tinha algo diferente dos outros alunos. Eu tinha uma dedicação ímpar para uma criança de minha idade. Um dia ela me perguntou: Gelson, em que seu pai trabalha? Respondi. Ele vende confecções para as pessoas do interior, professora. Ela perguntou novamente: quantos filhos ele tem. Respondi. Tem 13 filhos. Ela então me deu a melhor resposta que eu poderia ouvir: Traga metade do dinheiro de seus livros que eu completo com a outra metade. Uma criança como você não pode nunca desistir de estudar. Minha mãe depois de uma semana me deu o dinheiro e minha inesquecivel professora me presentiou no mesmo dia com aqueles desejáveis livros. Mas tinha uma coisa que a professora não comentava em sala, apezar de ser informada pela diretoria da escola. Meu pai não estava pagando as mensalidades. Eu apenas perguntava a minha mãe: mãe ninguem vai pagar a minha escola? Minha mãe apenas respondia: deixa que vou pedir o dinheiro de seu pai. Tínhamos uma família muito grande. Uma despesa familiar enorme. 13 filhos, 15 pessoas com meu pai e minha mãe para se alimentar. Mas eu achava um absurdo terem me matriculado em uma escola particular e não pagarem a matricula. Não se importarem com meu desespero. Eu gelava quando vencia a mensalidade. Eu implorava e me maldizia aos ouvidos de meus pais. Quando chegou no terceiro mês a secretária entrou na sala de aula. Eu já sabia que era por minha causa. Meu coração começou a bater forte acelerado. Minhas mãos esfriaram. O gelo no estômago, o peso na barriga e a realidade dos fatos novamente. Ela foi cruel e taxativa. Quem é Gelson Mimoria? Fique de pé por favor! Nessa época não existia lei contra isso. Então ela despejou toda cobrança em cima de mim. Gelson, seu pai não está pagando a escola. Se ele não pagar sua matrícula será cancelada. São apenas três meses de tolerância, esse mês já está ultrapassando nosso limite. A professora ficou com muita dó de mim. Eu fiquei amarelo na cadeira. Baixei a cabeça diante dos colegas de sala envergonhado por tudo. A professora falou à secretária: mesmo falarei com os pais dele. Pode deixar. Obrigado. Cheguei em casa depois da pior vergonha de minha vida. Cheguei perto de meu pai, ainda tentando salvar minha permanencia na escola. E pedi a ele, sem saber com quem eu estava falando.
Pai, só tem esse mês de tolerancia na escola. Se o senhor não pagar será cancelada minha matrícula. E se cancelarem o senhor ainda terá que pagar a transferência, pois ou o senhor paga ou terá que me transferir. Ele então começou a explicar algo muito difícil para que eu entendesse aos 12 anos de idade. Eu jamais imaginei que depois de tanta vergonha eu seria vítima daquela grande injustiça. Ele me falou: Se fosse outro filho eu faria o que você está pedindo. Mas eu nunca vou fazer isso por você. Não entendi, simplesmente, a resposta. Então tentei convencê-lo pelo menos a pagar minha transferência e ele respondeu- me, novamente sem o mínimo receio de me magoar. Quem cuida dessas coisas é sua mãe. Eu não entendia tamanha irresponsabilidade para comigo. Para meu melhor entendimento ele tentou me abrir os olhos para seu despreso por mim. Ele me falou secamente. Meu filho, eu só tenho filhos homem. Até então, eu não sabia o que era um gay. Em minha casa não era permitido por minha mã a falar sobre vida sexual, os palavrões habituais em outras casas minha mãe não permitia. As palavras gay, bixa, veado, prostituta, puta ou coisas do gênero palavrão, putaria etc, não eram permitidas. Eu nunca tinha assistido um filme ou uma novela. Eu não entendi o que meu pai quis me dizer. Eu apenas achei ele o pai mais ruim e irresponsável do mundo. Então, para salvação de meus estudos veio uma outra grande virada. Meus pais resolveram mudar de casa. Íamos morar em um povoado onde a professora era amiga de minha mãe e ela me enquadraria em sua classe.

A Face negra da santidade.  O amor de Deus por um pecadorOnde histórias criam vida. Descubra agora