Capítulo 3

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EM RECONSCTRUÇÃO

A água escorre-me pelo corpo, lentamente, aquecendo-me por completo, nada me sabe melhor nestes dias gélidos, do que um banho quente. As trovoadas teimam em não amenizar e a chuva cai numa constante, como eu odeio este clima, só serve para ficar enrolada no cobertor o dia todo, colada aos ecrãs, a por em dia as inúmeras séries que tenho em atraso.

Estico a mão para agarrar no secador e nesse preciso momento, a janela da casa de banho abre-se, fazendo-me sobressaltar, trazendo consigo uma rajada de vento. Apresso-me a fecha-la um pouco atrapalhada, pelos arrepios que me causa no corpo, desisto da ideia e deixo o cabelo secar mesmo ao natural.

Caminho descalça pela casa com o carapuço do meu robe enfiado na cabeça e a minha enorme caneca de leite fumegante, é de manhã cedo, mas agarro em uma das cortinas e espreito para a rua desconfiada, parece que ainda estamos em plena noite, o sol insiste em não aparecer, este mau tempo é deprimente e o dia parece triste.

Debruço-me sobre a bancada da cozinha, com os cotovelos apoiados na mesma, enquanto revejo o meu correio electrónico para me certificar pela segunda vez de que não tenho trabalho para fazer. Sei que ainda é cedo, mas sou uma pessoa que se deixa entrar no tédio muito facilmente e tenho de encontrar sempre algo com que me entreter.  

Vagueio pelo calendário, quando de repente me assombro, ao perceber de que hoje, é aquele dia. 

O meu estomago contorce-se involuntariamente de dor. 

A sensação é sempre tão semelhante e ao mesmo tempo tão diferente, como se levasse um enorme murro na barriga, sem ser avisada do momento, nem da intensidade. 

Mas desta vez é diferente. 

Como assim? Como assim Eleanor? Corro pela casa ofegante, com as lágrimas a picar nos olhos. Como? Porquê? 

A minha mente grita de cinquenta formas diferentes e sinto-me em desespero. É demasiado cedo para ele se dissipar de mim, das minhas memórias mais bonitas. Abro o armário e agarro no vestido preto, que com tanto cuidado escolhi para ele a alguns meses atrás. 

Porra! Porque é que ele me está a fazer isto? Não vê que ainda é tão cedo? 

Vestir estas meias finas, está-me a parecer uma missão impossível de momento, mas após me contorcer imenso, elas entram. Observo-me ao espelho e questiono-me, questiono-me da porcaria que sou. Do farrapo que estou e odeio o que vejo à minha frente. Visto um casaco comprido e nem me dou ao trabalho de colocar qualquer tipo de maquilhagem ou de arranjar melhor o cabelo. Não há tempo para isso! 

Agarro apenas nas chaves do carro e em uma tesoura e preparo-me para sair. Encosto a caneca aos lábios dando um ultimo gole na esperança que me aqueça por dentro antes de enfrentar o frio lá fora, mas rapidamente me engasgo com a brusquidade com que batem na porta. 

Elizabeth.

Engulo o nó que trago na garganta e assim que abro a porta solto um baixo e rápido "bom dia" sem abrandar o passo e paro apenas dois segundos em frente a um dos canteiros.

- Ely?

Ignoro-a. Os malmequeres. Sempre foram os preferidos dele. Corto doze. O numero de anos que já passaram.

- Ely. - diz Beth, pousando uma mão receosa, ao de leve no meu ombro. Serão mesmo doze? Uma lágrima rola sem a conseguir segurar e sinto-me mais parva que nunca. - Fala comigo, por favor Ely... - sinto a preocupação na voz dela, mas de momento não quero saber. Entro no carro sem dar muita atenção ao meu redor e sem olhar para trás, mesmo ouvindo Beth ainda chamar-me algumas vezes mais.

O caminho parece mais longo do que na realidade é e a chuva não ajuda, fazendo-me ir a uma velocidade reduzida pela pouca visibilidade. O meu telemóvel dá sinal, é a Beth. Não atendo. Para ela ainda existe imenso tempo, não consegue compreender isso?

Elizabeth era a minha amiga mais próxima, tinha-a conhecido por volta dos meus dez anos, era aquela amiga de uma escola diferente que se juntou a mim e a Joey quando fomos para a faculdade, éramos colegas de quarto no mesmo dormitório e desde então não nos voltamos a separar. Como é que ela não compreende? Ela chegou a conhecê-lo, ouviu-me a falar sobre ele durante horas, dias, semanas, meses, anos. Mas isso mudou, não me lembro da ultima vez em que os fiz. 

O telemóvel volta a tocar enquanto estou a chegar, o local onde irei estacionar não me preocupa absolutamente nada, só quero apenas ir ao seu encontro. 

A única coisa que levo nas mãos, são os malmequeres que acabei de colher, completamente tristes e murchos pela chuva. Os meus olhos picam mais ainda e torna-se cada vez mais complicado de respirar. Fecho a porta com as mãos trémulas e começo a caminhar até deixar de ouvir o toque insistente. Os meus sapatos enterram-se facilmente na lama e torna-se complicado de caminhar, sinto-me tão desengonçada que penso que a qualquer momento posso cair.  Finalmente chego à zona relvada onde apresso o passo, infelizmente conheço o caminho de olhos fechados. Desculpa.

- Desculpa. - digo entre soluços, assim que avisto o seus caracóis cor de mel e deixo-me cair de joelhos à sua frente com a cara entre as mãos. Largo as flores gentilmente entre nós dois e desabo completamente. - Desculpa. - é tudo o que consigo deixar sair de mim enquanto os meus pulmões mirram e choro de dor, com o coração desfeito em pedaços, questionando sempre o mesmo, desde há uns anos para cá. Quantas vezes pode o nosso coração partir-se em mil bocadinhos, sem que nos deixemos de sustentar em pé. 

Sinto a chuva cair sobre mim enquanto tremo com o frio, desde uma extremidade a outra. Tudo em mim é dor. Desesperante e exaustiva. Sinto-me terrível, como é que fui deixar uma coisa destas acontecer. 

Choro até sentir a garganta arranhar, com um travo a ferro. Não era suposto isto ser assim. Sinto tanto que o desiludi e se já me mata não o ter aqui, onde pensei não poder arruinar mais nada, ainda me surpreendo com o tanto que ainda posso arruinar. E neste momento, sinto-me um enorme pedaço de nada, completamente encharcada, enquanto o tento sentir, ridiculamente, através de numa simples fotografia.

- Ely... - ouço baixinho e sinto que por momentos estou igualmente a ser levada daqui. - Els... 

Um grito de raiva sai de mim e dou graças pelo facto de estar aqui sozinha em um dia destes. Já não distingo em que ponto termina a chuva e começam as lágrimas na minha pele. 

E alguém me abraça por trás. Apercebo-me que já devo estar em outra dimensão, pelo que senti, ou então, talvez esteja pela dor que sinto, a enlouquecer.

- Ely, por favor, não chores. - e em segundos tudo se evapora de mim. 

Tento focar a visão em quem me segura, mas não encontro respostas.

- O quê? - sussurro quase inaudível e sem forças, enquanto uma lágrima quente, agora bem perceptível no meio da fria chuva, escorre em direção ao queixo.

- Desculpa Els. - ouço e o meu coração sente que não aguenta mais, tudo fica embaciado, perco completamente a noção do espaço e tempo e desligo dali em um braços quentes.


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Hii there! 

Aqui está mais um capitulo, espero que gostem tanto de o ler como eu gostei de o escrever.

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Boas leituras!

Sarry, xx

FallenOnde histórias criam vida. Descubra agora