Capítulo 10

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- Merda, está demasiado quente! – trouxe-me à consciência a conhecida voz de Joey. Endireitei-me num ápice tentando captar a situação assim que senti as suas mãos geladas em contato direto com a minha pele.

- O que estás a fazer? – inquiri desnorteada quando reparei que estava apenas em roupa interior ao seu colo presa pela cintura a ser arrastada para dentro de uma banheira, a sua banheira, estava em casa dele. 

Um resmungo saiu de mim quando senti a água demasiado quente em contacto comigo.

- A tentar fazer com que não te constipes, mais uma vez... - falou enquanto tentava regular a água molhando-me lentamente. Demorei algum tempo a tentar processar até me aperceber de que ele me estava a tentar dar banho e afastei-o de mim salpicando-o com algumas gotas.

- D-de onde é que tu apareceste? – inquiri confusa erguendo uma sobrancelha.

- De dentro do meu carro... - suspirou revirando os olhos com um sorriso torto por o ter afastado de mim. 

Deixei-me ficar em silêncio quando ele finalmente se afastou percebendo que estava em condições de tomar banho sozinha e sentou-se na sanita ao meu lado já à espera de eu começar a relatar o acontecido. 

Contei-lhe em rápidas palavras o que havia sucedido em minha casa e apesar de ter ouvido um ou dois risos em gozo da sua parte percebi que ele estava preocupado com algo mais. Qualquer pessoa normal ter-se-ia assustado com o meu estado, mas já era hábito, ele conhecia-me bem de mais para saber como era a minha reacção em relação à escuridão e perder os sentidos por momentos era o meu prato do dia quando não tinha ninguém para me sossegar, era como se tivesse um limite e quando chegava ao pico não sabia como controlar tanta emoção junta e dava-se uma espécie de apagão em mim. 

Joey explicou-me que qualquer coisa poderia estar a fazer curto-circuito na minha casa, pois na sua sempre ouve luz. Pelo que percebi entrou lá para desligar o quatro eléctrico e disse até que amanhã daria uma vista de olhos caso fosse necessário, era a causa mais provável para o acontecimento, mas de qualquer das formas hoje passaria a noite aqui consigo, até porque mesmo tendo todas as teorias explicadas, nada me faria voltar sozinha para o outro lado da rua.

Deixei-me estar mais tempo que o normal debaixo de água, principalmente porque Joey tinha um equipamento de massagens que me estava a deixar nas nuvens fazendo todo o stress ir embora.

- El...? – chama em tom baixo.

- Não te preocupes que ainda estou acordada. – falei com humor mas ele não se riu, o que me deixou intrigada e um pouco preocupada, pois Joey era sempre aquela pessoa que estava sentada na primeira fila da minha vida para me poder gozar.

- El, tu... tu ainda... - fez uma pausa e eu esperei que ele continuasse enquanto fechava os olhos captando todas as emoções que a água quente me transmitia. 

Podia dizer que ele se estava a sentir reticente quanto ao rumo da conversa, conseguia percebe-lo pela sua voz. Abri lentamente uma pequena frincha do olho para o poder encarar e apercebi-me de que ele estava nervoso enquanto brincava com os seus dedos e formava uma pequena ruga na rua testa. Ao mesmo tempo que o observava uma onde de tristeza invadiu o seu corpo sem pedir e sem me deixar perceber o porquê. Salpiquei-lhe algumas gotas de água para chamar a sua atenção de forma divertida e ele captou o meu olhar de forma profunda apertando os seus lábios numa fina linha.

- Tu ainda te lembras dele? – perguntou baixinho apanhando-me completamente desprevenida e fazendo-me perder o sorriso. 

Os meus olhos abriram-se um pouco mais que o costume e engoli em seco sabendo perfeitamente de quem ele se referia. À imenso tempo que o seu ser não era um tema de conversa nosso. Havia praticamente sido proibido pelos sentimentos que em mim causava quando me lembrava da sua existência, ou falta dela. 

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