Capítulo 4

822 78 5
                                    

EM RECONSTRUÇÃO

Desorientada. É como me sinto. Nem para mim própria sou boa, quando me apercebo que nem à cinco segundos estou acordada e já sinto a ansiedade a apoderar-se de mim.

- Mais ou menos umas oito ou nove horas, mais coisa menos coisa,.. - ouço a voz de Joey e apercebo-me de que está em chamada com alguém. - Vou dando noticias, prometo, não vale mesmo a pena, o tempo não está nada favorável... - claramente os meus pais.

Espreito por baixo dos lençóis e reparo que estou de pijama, em qualquer outra altura iria reclamar do nível de intimidade em me trocar a roupa, mas sinto que não tenho pinga de energia em mim para o fazer. Joey entra no quarto e eu instantaneamente fecho os olhos como se ainda estivesse a dormir, não quero sair daqui. Ainda não me sinto pronta para lidar com toda a situação desta manhã. Sinto-o subir para a cama, passa-me a mão ao de leve no cabelo e conchega-se a mim em meia lua, colocando a cabeça no meu pescoço, puxando-me contra ele.

- Foi a Beth, não te preocupes. - sussurra dando-me um beijo no ombro. Sinto a sua respiração quente na minha pele. Ele sabe que estou acordada. Sei que se está a esforçar para não fazer nenhum comentário engraçado e aprecio-o por isso.

Remexo-me e viro-me a custo para ele, ainda com um pouco de receio de o olhar nos olhos, sem saber o que vou encontrar. Pena? Tristeza? Preocupação? Desilusão? Piada? Poderia esperar tudo. Ele observa-me atentamente com as suas pupilas dilatadas, coloca uma pequena mecha do meu cabelo para trás e dá-me um beijo na ponta do nariz, sinto-me estranhamente confortável, mas depressa algo desperta a minha atenção.

- Porque é que trouxeste as flores? - questiono um pouco mais rude do que esperava. Sento-me na cama e sinto a minha cabeça a rodopiar. Conto atentamente doze malmequeres em uma pequena jarra transparente na minha mesinha de cabeceira. Joey dirige o seu olhar ao mesmo local que eu enquanto se apoia em um cotovelo.

- Pensei que as tivesses apanhado para hoje de manhã... - responde calmo mas apreensivo.

- E apanhei, por isso mesmo, porque as trouxeste? - Joey franze a sobrancelha confuso, face à minha rispidez.

- Porque as deixas-te à porta Els, pensei que gostarias delas aqui!

Olhei para ele, agora eu, em total confusão, enquanto me esforço para rever todos os meus passos passados.

- Não, eu levei-as e deixei-as lá, com ele! - gostava de ter todas as certezas nas minhas palavras mas não aconteceu.

- Els, elas estavam no chão à porta de casa... - suspira e noto que não me quer chatear.

- Foste tu? - questiono após notar que estão atadas com uma fita branca de cetim e que, no meio delas, está uma margarida amarela. Disso eu tinha a certeza, não as tinha colocado assim.

- O quê? Eu só agarrei e trouxe para dentro, tal e qual como estavam, desculpa se não o deveria ter feito! 

- Podes questionar à Beth?

- Els... - fecho os olhos em um enorme suspiro. 

Este vazio, este nada dentro de mim, estava-me a doer tanto. Sinto-me a afundar. Porque é que não estou nos braços dele, com ele a dizer-me que está tudo bem. Mas ele não está aqui. Nem pode. Nem voltará a estar. Não era a primeira nem seria a ultima vez que a minha mente me pregava partidas destas.

- Desculpa. - respondo de forma sincera e Joey franze os lábios enquanto apara lentamente uma pequena lágrima minha, que nem sabia que ali estava.

Entreolhamo-nos durante alguns segundos até que ele me volta a conchegar no seu peito.

- Prometo que vai melhorar. - diz apertando-me com tamanha força, como se tentasse espremer de mim todo este sentimento avassalador e eu quero tanto acreditar nele.

Um trovão rebenta fazendo a casa estremecer, as luzes piscam e resmungo enterrando a cabeça por baixo dos seus braços. Vários murmúrios rodeiam-me, preenchem-me os ouvidos, estou-me a deixar domar pelo medo e não consigo pensar de forma coerente neste turbilhão de pensamentos. 

"Deixa-me chegar a ti, por favor." Manifesto isso em pensamentos. 

Fungo após um soluço. A pouca luz da lua penetra pelos vidros e embate diretamente na sua pele lisa. Um perfeito raio de luz lunar atravessa os seus olhos cristalinos e eu estremeço ao captar aquela cor jade. Sinto Joey a apertar-me mais enquanto mantenho os meus olhos fechados. Oh, como estes são os olhos mais bonitos que eu alguma vez vi e neste momento já não estou a falar de Joey.

"- Olá. - soa a sua calma e aveludada voz, que chega como melodia aos meus ouvidos e todos os pelos do meu corpo dão sinal como pequenas antenas. 

Quero-lhe sorrir mas sinto-me incapaz. Mesmo após ver o seu sorriso leve, o meu sorriso preferido, sem tirar os seus olhos dos meus, que me penetram até à alma. Ele aproxima-se lentamente e uma raiva cresce em mim, pois sei que não o vou conseguir sentir. Uma das suas mãos sobe e acaricia a minha bochecha, enquanto a outra segura na minha mão. Soluço incontrolavelmente e só quero gritar a pulmões abertos o quanto o amo e o odeio.

- Porquê? - atiro e quase me engasgo nas minhas próprias palavras. - Eu preciso tanto de ti. - deixo sair quase num guincho. - Não estou pronta para saber que tens como me esquecer. - choro e ele abraça-me entrelaçando as suas mãos nos meus cabelos puxando-me para ele e por momentos, parece que quase sinto o seu coração a bater. Mas ele não batia mais. - Não estou pronta para te esquecer. - digo quase sem voz, em que acredito que se não estivesse tão próxima, nem ele próprio me ouviria. Será que ouve?

- Estou aqui Els. - eu só o queria sentir. Como nunca quis tanto nada no mundo.

- Tenho medo de me esquecer de como a tua voz é tão bonita. - sussurro e agarro-o de perto, quase posso sentir a sua respiração na minha. Mas não sinto nada.

- Eu não vou a lado nenhum. - sussurra de volta, sabendo eu, que ele já foi.

- Sempre falei sobre ti, todos os dias! - defendo-me, sabendo que não teria como o fazer, por me ter esquecido do dia em que ele tinha sido tirado de mim.

- Eu sei. - sorri e beija-me de seguida na testa. 

Fecho os olhos numa tentativa falhada de me recordar como era. Mas não consigo. Sinto-me um caco. Até aqui eu sou o vendaval na sua calmaria. E ele tinha um enorme poder sobre mim. Pois aquele beijo, dissipou o nó da minha garganta, o coração esmagado, as vozes todas que me culpavam naquele momento. Ele fazia isso imensas vezes, mais vezes do que eu conseguiria contar. Eu trazia a trovoada e ele aparecia com o sol e iria durar por mais algum tempo assim, estável.

- Noah? - chamo quando o silêncio se volta a instalar.  

Ele tem o mesmo hábito que a minha família. Não fazer despedidas."

Estou de volta a Joey e assim adormeço nos seus braços.

____________________________________

Hii there! 

Queria agradecer imenso às meninas que me têm mandado mensagens, significa imenso para mim, obrigada também a quem tem votado e comentado! 

Se gostarem por favor partilhem, votem ou comentem, adoro saber quem está aí desse lado.

Boas leituras!

Sarry, xx











FallenOnde histórias criam vida. Descubra agora