O vulto preto, naquela noite escura, era nada mais e nada menos que um rapaz.Com um casaco grosso e comprido e uma sombrinha grande, ele parecia estar seco e aquecido.
Ele vinha em minha direção, olhando para os pés que caminhavam. Pode ser minha única chance.
- Moço. - digo, mas este não me escuta. Tento novamente. - Moço.Falando mais alto, ele olha para a direção do som e se assusta em me ver ali.
- Menina, o que faz à esta hora na rua? - eu perguntaria o mesmo, mas deixei pra lá.
- Uma longa história. - dou um sorriso forçado. Tento forçar a visão, mas isto trás tontura em minha cabeça.
Pergunto se ele sabe onde fica o endereço, e para minha sorte ele sabia. Me passa as instruções por onde ir, e descubro não estar longe.
- Você está suja. Está machucada? Precisa ir ao hospital? - ele realmente parecia estar preocupado.
- Não, não. Eu estou bem.
- A noite foi longa, não é?! - diz me compreendendo.- Sim. - me recordo dos últimos minutos. Não foram os melhores de minha vida. Nunca são. - Obrigada. De verdade. Já vou indo.
- Espera. Pegue aqui. - antes de ir, ele me para. Me entrega seu casaco. Digo que não é necessário, mas o rapaz insiste. - Você precisa mais do que eu.
Se aproxima de mim, e pego a visão de seu rosto. Ele era bonito. Cabelo curto pretos, pele parda e olhos castanhos. Tinha um sorriso no rosto, mas não parecia feliz.
Mesmo relutando, fico com o casaco. Realmente, havia melhorado minha situação ali.
Agradeço novamente e vou-me embora pelo caminho que me informou. O rapaz se vai na outra esquina.
O frio não me incomoda tanto, mesmo estando encharcada, o casaco grande fez diferença.
Posso ter sido mal educada em não perguntar lhe o nome, mas, às vezes, não precisamos saber tudo pelos mínimos detalhes, precisamos deixar tudo fluir naturalmente, sem se intrometer.
Sigo em passos firmes, para não cair no chão da calçada com buracos.
Atravesso as ruas alagadas e continuo com a ideia de ser estranho as elas estarem vazias, afinal, é final de semana em uma cidade grande. O movimento deveria ser muito. Talvez não, por conta da chuva.
Chego na rua da casa de minha tia e corro com alívio de ter finalmente chegado.
Temo por não ver o carro de tia Lúcia na garagem. Como vou entrar? Pensa. Pensa. Pensa. Pensa.
Tiro os saltos e jogo eles pelo muro. Não me importo mesmo.
Coloco o pé esquerdo em cima do hidrômetro (aquela caixinha onde fica o registro da água, sabe?) e seguro firme com uma das mãos. A outra eu arrumo um jeito de guardar o óculos, o prendendo no vestido.
Me estico mais e mais e consigo ficar bem em cima do muro. Com uma perna do lado de dentro e outra de fora, respiro ofegante. Oras, ele não era tão alto assim, mas teve um grau de dificuldade.
Meu medo aumenta na hora de descer. Olho para baixo e me imagino espatifando no chão.
Conto até três e volto a perna esquerda e me espenduro pelas mãos. Perco as forças e solto, caindo no chão duro e molhado. Minhas pernas falham, mas felizmente, não caio.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Overturn || Rafael Lange/Cellbit
FanfictionSabe quando o mundo ao seu redor só sabe te humilhar? Que todos te vêem como um monstro? Que você é maltratada todos os dias? Pois é, essa é minha vida. Eu só desejo uma coisa. Dar uma reviravolta! ________________________________________________...