Capítulo 22

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   Eu estava com raiva. Muita raiva do Eduardo. Ele poderia ter feito qualquer coisa, menos me trair. Eu sabia que alguma coisa ia acontecer para nos separar. Aquela sensação não era à toa.
Enquanto dei um tempo para Eduardo e sua irmã irem embora, começei a andar pelo quarteirão.
   Depois que vi o carro dele sair do prédio, fui até o apartamento da Lí. Bati na porta, e assim que a vi, começei a chorar.
- Dreuh?- Ela estava surpresa.- Entre.- Fiz isso.-

- Desculpa incomodar.- Contei a ela por onde andei durante todo esse tempo.-

- Quer dizer que você encostou em um bar e passou a noite conversando com um estranho?- Concordei.- E sua relação com o Eduardo?

- Relação? Você acha mesmo que ele e eu podemos ter algum tipo de relacionamento depois do que ele fez comigo?... Depois de me trair?

- O André agarrou ele.

- Ele deixou.

- Ele pensou que fosse você.

- Isso não justifica nada...- Levantei.- Afinal, de que lado você está?

- De que lado eu estou?- Ela levantou incrédula. Parecia que minha pergunta era de outro mundo.- Você só pode de brincadeira, néh?- Fiz que não com a cabeça.- Sim, ele te traiu.- Ela andou de um lado para o outro do cômodo.- Mas se você quer saber, quem fez pior foi você.

- Quem? Eu?

- Sim. Você. Você fez muito pior Dreuh. Se fosse realmente para eu escolher um lado, eu escolheria apoiá - lo, mas não isso que está em questão agora.

- E o que eu fiz de tão ruim? Ele beijou outra pessoa, não eu.

- Você foi embora quando ele mais queria te ajudar. Você passou quase dois meses fora se prostituindo e quando voltou, apesar de você ter passado tanto tempo o ignorando, ele simplesmente te aceitou e passou por cima de tudo. Esqueceu completamente.- Ela me olhou com os olhos cheios d'água e eu já estava chorando.- Ele só beijou outra pessoa e estava muito bêbado. Todos merecemos uma segunda chance... Você teve a sua, nada mais que ele tenha a dele.

- Se eu soubesse que você iria passar tudo isso na minha "cara", eu teria procurando um outro amigo... Uma outra pessoa para desabafar.

- Você sabe que eu sempre fui muito sincera. Nós dois sabemos muito bem que ele errou. Mas sabe que ele nunca foi de beber tanto.- Ela sentou novamente. Eu continuava estagnado, só conseguia chorar.- Não deixe alguém como o André estragar o relacionamento de vocês.

- Ele já estragou.- Saí do apartamento dela o mais rápido que pude.-
   Entrei no meu e começei a andar de um cômodo para o outro sem saber o que fazer. Talvez ela tenha razão. Talvez Lí tenha razão. Eu não deveria ter expulsado ele de casa.
Peguei meu celular e já passava das onze. Disquei o número dele, mas não tive coragem suficiente para colocar para chamar.
   Deixei o celular em cima do sofá e fui para o quarto. A porta do guarda-roupa estava aberta, me aproximei devagar, e o lado onde as roupas dele ficavam, estava vazio.
Me deu um tremendo de um aperto no peito. Parecia que meu coração estava se dividindo em infinitos pedaços.
Fechei a porta lentamente e me arrastei até à cama.
   Fiquei deitado durante mais de quatro horas e só então começei a sentir fome. Peguei meu celular e liguei para uma pizzaria.
   Era pouco mais de três horas e decedi tomar um banho. Apesar de toda a confusão que estava acontecendo, eu precisava ir atrás de emprego.
Entrei no banheiro e vi a roupa dele jogada em um canto. Me aproximei delas e ainda estavam um pouco úmidas. Levei a camisa até o nariz e ainda podia sentir o cheiro do perfume dele.
Demorei uns cinco minutos preso àquela peça, mas precisava seguir adiante.
   Pode até ser egoismo da minha parte, mas eu não sei se vou conseguir olhar para o Eduardo do mesmo jeito.
Entrei debaixo do chuveiro, mas a água não levou nenhum dos meus problemas.
Saí do banho enrolado na toalha e a campanhia tocou.
- Deve ser o entregador.- Disse para mim mesmo e fui atender a porta ainda de toalha.-
    Abri a porta e a cara do menino que estava com a caixa de pizza na mão foi de espanto. Com certeza ele não esperava ser recebido por um cara somente de toalha.
- Desculpe.- Disse. Ele estava com uma expressão de pura confusão.-

Aceitando ser assim(Conto Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora