Não demora muito e chegamos em nosso prédio, Miguel me ajuda a descer e faz o mesmo logo em seguida.
Fico grata por ele ter guiado a moto com tanto cuidado, não acelerou demais e fez todo o trajeto em segurança.Olho para ele assim que ele tira seu capacete, ele parece chateado e não me olha nos olhos.
- Estou viva! - digo forçando entusiasmo. O clima está pesado e desejo sorrir um pouco para esquecer o que aconteceu. Mas não consigo.
-Eu estou viva!Repito mais para mim mesma, tentando forçar meu cérebro a acreditar que tudo está bem agora. A imagem daqueles caras assustadores que destruíram minha noite volta com tudo em minha cabeça e solto um suspito triste. As lágrimas que segurei por tanto tempo finalmente começaram a tomar conta de toda a minha visão e caem livremente sobre minhas bochechas.
Só então percebo que Miguel estava me encarando e quando nota meu choro vem até mim.
- Você está bem? - diz ele.
Eu não conseguia responder, as lágrimas não paravam de cair em meu choro silêncioso e ele se aproxima de mim.
- Vou tirar isso de você. - ele toca no capacete que ainda está em minha cabeça e sorrio. Fiz que sim com a cabeça e ele começou a destravar o mesmo, me livrando devagar. Assim que ele tirou tudo o abracei.
Não pensei.
Apenas o abracei.
Queria o agradecer por ter me ajudado através desse abraço. Ele me retribui meu gesto e me abraça forte como se pudesse afastar os pensamentos ruins da minha cabeça, sinto uma sensação horrível de mal-estar.
Meus lábios secam e meu estômago se contorce. O gosto ruim na boca só pode significar uma coisa...
Empurro Miguel com toda força que tenho, o que não adianta muito pois ele dá poucos passos para trás. Sem muito o que fazer abaixo a cabeça e libero toda a bile que subiu por minha garganta. Percebo um pouco tarde que as pernas de Miguel recebem a maior parte da minha sujeira e fecho os olhos.
Não posso acreditar.
Acabo de vomitar em meu vizinho...
Quando penso qu Miguel ir correr praguejando ele vem em minha direção e segura meus cabelos para impedir que fiquem cheios de vômito como suas calças e sapatos.
Quando finalmente termino passo a mão em meus lábios e sinto todo o rubor se espalhar da minha face até a ponta do meu dedo do pé.
-me desculpe. - digo ainda de cabeça baixa. Ouço seu sorriso o que só serve para me deixar ainda mais envergonhada.
- é só um pouco de vômito. Nada demais. - sinto sua mão em minhas costas e o arrepio, agora famíliar que acontece sempre que estou com ele, me faz erguer o corpo e levantar os olhos.
Ele toca minha bochecha e faço uma careta. Como ele pode está tocando em meu rosto após a trágica cena que presenciou?
- vamos subir. - ele pega minha mão me guiando para dentro do prédio.
Subimos todos os lances de escada em silêncio e Miguel não solta minha mão até estarmos parados em frente à porta de meu apartamento. Pego a chave em minha bolsa e abro entrando seguida por Miguel. Ele vai até minha geladeira e abre pegando uma garrafa de água. Fecho a porta o observando. Ele pega um copo de vidro e o enche com o líquido transparente.
Ele caminha até mim e puxa uma cadeira indicando com a cabeça para que eu me sente. Faço isso. Ele me entrega o copo de água e agradeço bebendo todo o conteúdo do copo.
- Você está sujo.
Ele se senta na cadeira em minha frente sorrindo. Um lindo sorriso.
- Uma doida vomitou em mim a pouco tempo...- reviro os olhos sorrindo enquanto ele me observa.
- Que tragédia... - digo fazendo uma voz sofisticada. Ele sorrir e volto a beber minha água.
- Nem tanto... ela tem um sorriso incrívelmente lindo, até que valeu a pena. - ele dá de ombros ainda olhando para mim com um sorriso nos lábios. Já eu fico sem reação diante de seu elogio e suas belas íris azuis.
Sinto meu rosto quente e desvio meu olhar dos seus hipnotizantes olhos azuis. Ele mexe comigo de uma forma diferente, é forte, é intenso, é quente.
- Quer que eu ligue para alguém? Não posso deixar você passar a noite sozinha. - ele diz me trazendo de volta a realidade. Penso sobre. Talvez seja melhor realmente não passar essa noite sozinha. Concordo com ele que pega meu celular de minhas mãos.
- eu acho que consigo fazer isso sozinha.
Ele sorri. - Quero fazer isso por você.
Ele vira a interface para mim e vou até o contato de Megan discando para chama-la. Ele se levanta com meu celular na orelha e caminha de um lado para o outro. Me levanto indo ao banheiro para lavar meu rosto e tirar o gosto ruim da boca. Respiro fundo observando minha imagem no espelho. Meus olhos e nariz estão vermelhos devido ao choro, meus cabelos estão uma bagunça rebelde como sempre, passo o dedo por toda sua extensão na tentativa de melhorar um pouco as coisas. Jogo mais água gelada em meu rosto e me concentro em secar minhas mãos e face em uma toalha pequena e volto para a sala onde Miguel estava sentado me esperando.
Quando voltei estava mais calma e lembrei de ser educada.
- Você... aceita alguma coisa? Hãm, tenho suco, e biscoitos, posso fazer um café.
- Não obrigada, fica sentada aqui, sua amiga disse que chega em 10 minutos. - ele me olha com um lindo sorriso nos lábios e me sento na cadeira a sua frente.
- Tá bom.
- Você esta melhor? - ele pergunta olhando diretamente em meus olhos. Arrepio.
- Sim. Estou sim...
- fico muito feliz.. mas você ainda não me disse seu nome. - ele cruza os braços relaxando sobre a cadeira e um sorriso surge em seus lábios.
Nesses lindos lábios.
Observo Miguel nesse momento. Ele é realmente lindo. Não só pelo rosto bem afeiçoado e os olhos azuis que me deixam doida, mas por sua atitude. Ele não tinha obrigação nenhuma de cuidar de mim. Ele me protegeu, me trouxe em casa e se recusa a sair do meu lado até que eu esteja segura.
Sorrio para ele.
- Obrigada. - digo.
- Seu nome é obrigada?- ele pergunta me fazendo rir.
- Não... eu disse Obrigada por ter aparecido lá... digo... na hora certa, obrigada por... - sinto as lágrimas em meus olhos novamente, mas forço um sorriso. Miguel toca minha mão levemente e sorrir para mim.
- Não precisa me agradecer!
Nesse instante uma Megan desesperada entra empurrando a porta com força me fazendo saltar com o susto. Ela corre ao meu encontro ignorando Miguel completamente.
Olho para Miguel por sobre o ombro de Megs e sinto uma sensação estranha e ele parece sentir também, mas apenas acena com a cabeça e se levanta para sair parando logo em seguida. Ele vem até mim me estendendo o celular e quando pego me lança um sorriso saindo.
Olho para a tela e vejo uma foto de Miguel na tela e abaixo seu nome e número salvos.
Sorrio.