Capítulo 8

46 7 0
                                    

Fico me remexendo na cama por pelo menos duas horas antes de finalmente adormecer. Depois que Lino foi dormir, o assunto dos Trinta perdeu espaço na minha mente, sendo ocupado então pelo que Marco me disse, sobre os remédios para os efeitos, e a vacina definitiva de Felipe. Por mais que eu tente, ainda é difícil ligar todas as informações. Por quê esse interesse em barrar nossa recuperação quando estamos tão perto? O que eles estão ganhando com isso? Eles não morrem no Zero também? Quem são "eles"?
Quanto mais busco respostas, mais perguntas surgem. Pego no sono com rostos esperançosos, que perdem o brilho até secarem, mãos que abraçam com dedos cruzados, e o choro de uma multidão.

Quando acordo, estou muito, muito suado e com muito frio. Minhas mãos tremem e meu queixo bate. Quando tento chamar alguém, minha garganta está seca e dói do esforço de produzir voz. Me levanto e quase desmaio quando sinto o chão frio. Pedra fria miserável. Saio arrastando os cobertores comigo, buscando por alguém. Devo estar doente. Bem, com certeza estou, mas quando foi que isso veio? Eu estava bem ontem de noite. De saúde, pelo menos.
Bato no quarto da mãe, mas ela não atende. Nem sei que horas são, entao decido ir até a cozinha. Sempre tem alguém lá, literalmente sempre. Quando chego nas escadas percebo que teria sido melhor ficar na cama, por que só o que vou conseguir é morrer caindo da escada. Minhas pernas tremem de fraqueza e minha cabeça roda vertiginosamente. Por mais patético que seja, resolvo sentar e ir descendo "de bunda" os degraus. Vo ter tempo pro senso de ridículo quando meus órgãos não estiverem cozinhando dentro de mim. Quando chego ao fim já me sinto exausto, culpa dessa casa colossal que meu avô fez. Começo a perder os sentidos e meu corpo entra em dormência quando escuto D. Nina gritando. Ouço como que debaixo d'água quando ela chama por Lúcio, que vem correndo me pegar do chão, e grita por Lino. Lino aparece de robe na escada e começa a gritar pela mãe, e então aparece Lara já chorando. Os palhaços aparecem com os elefantes e o cuspidor de fogo e então já temos o circo.
Brincadeira, não aconteceu essa última parte. Mas se tivesse mesmo acontecido eu não iria saber, por que nessa hora eu já via tudo embaçado e sentia o corpo amolecer até finalmente me isolar do mundo.

Antes que o tempo acabeOnde histórias criam vida. Descubra agora