Antes que o tempo acabe

Capítulo 3

- Pode entrar!
- Bom dia, mãe.

Quando entro, ela está em pé ao lado do guarda roupa, esticada.

- Bom dia filho, é você? Pode me ajudar a pegar aquela caixa que está lá no alto? Isso, bem no fundo. Isso. Obrigada.

Ela pega a caixa de mim, mas quase derruba, então pego de volta e levo até a cama. Ela está mais fraca e mais pálida do que quando a vi ontem. Compreensível, por que ela já tem 12 de volta ( somados 48 anos), e sua saúde debilita cada vez mais. O tempo está mesmo voando.

- O que tem na caixa? É bem pesada. - Nem tanto, na verdade, mas seu rosto ficou mais triste quando não conseguiu pegar, então achei bom suavizar sua preocupação.

- Nada de especial, só recordações. E minhas agulhas de ponto-cruz, que é o que quero.
-Ah. Mãe, o Marco vem aqui hoje, tudo bem?
- Sim, claro. Mas você já me disse isso, dois dias atrás, eu acho.
- É verdade...O Lino tá lá embaixo, já falou com ele hoje?

Não devia ter vindo aqui. Ela vai ficar pior.

- Não, ainda não. Fala Luke, o que aconteceu?

- Nada. - eu minto. Começo a pensar em como sair daqui sem ser rude.

- Deixa disso, fala.

Devo falar?

- Tive uma crise hoje. Mas eu já estou melhor, não tem nada que se preocupar eu só...não sei, não sei o que achar. Fico pensando: e se voltar a acontecer? Quer dizer, não quero ficar mais daquele jeito.

Ela não diz nada. Ainda não diz. Nem agora. O silêncio circunda, e não é confortável. Ela me encara de cenho franzido. Até finalmente quebrá-lo.

- Lucas, não vai voltar. Pode ficar calmo, não é nada. Todo mundo se sente desnorteado de vez em quando, não é como se fossem loucos por isso. Não fique pensando nisso. Eu te amo.

Ela sorri lindamente. Como vou sentir falta dela daqui a 12 anos...mas ainda faltam 12 anos.
- Também te amo, mãe.

Me inclino e lhe dou um beijo na testa. Saio do quarto mil vezes mais seguro do que entrei. Vai ficar tudo bem, e depois desse Dia Dos Trinta, ainda tem outros. No fim das contas, parece que eu deveria mesmo ter entrado.