Capítulo 11

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Não tinha percebido o quanto estava exausto até despertar com uma batida na porta e constatar que o relógio já marcava duas da tarde.

- Lucas, está aí dentro?

É minha mãe.

- Sim, pode entrar, mãe.
- Bom dia, Luke. Está melhor da barriga?
- Com certeza. - Mais ou menos - Só estou com fome.
- Imaginei que estaria. Tem seu prato feito lá embaixo, que pedi para Nina guardar.
- Obrigado, mãe. Escuta...
- Não, filho. Não é pra se desculpar por ser quem você é, nem ficar com a culpa te soterrando por ter pego uma bactéria. Sei que nessa sua cabecinha já correm soltos mil pensamentos opressivos. Você já passou e ainda passa por crises de baixa auto-estima, e eu sei que não é fácil mas veja como você é querido pelas pessoas. O Marco e a Alice te adoram, todos aqui de casa, e o Elísio também.

Elísio. Faz tempo que não falo com ele, ele estava fissurado para ser aprovado na polícia da Suprema, estudando e se dedicando ao máximo, que não achava tempo para mais nada.

- Falando nisso, ele te ligou hoje, mas você estava dormindo, e ele disse que ligaria mais tarde. Pode retornar para ele do telefone da sala, já que o seu...enfim. - Alguns meses atrás comecei a receber mensagens ofensivas por telefone, provavelmente uma brincadeira boba de crianças que não tem nada pra fazer, mas eu não estava no meu melhor estado mental, entao, num acesso de raiva estilhacei o aparelho na parede. Nunca mais fiz questão de ter outro.
- Desça para comer, sim? Vai ferir meus sentimentos se não provar a comida que me custou tanto esforço!
- Você nunca nem pegou em uma colher de silicone! - respondo, rindo. Acho que não vou viver para ver a mãe cozinhando, "podemos pagar para fazerem isso" , ela sempre diz.

- E? É preciso muita habilidade e dedicação para supervisionar aquela cozinha, senão fazem tudo errado.

Ela falou bem séria, como se estivesse indignada. Mas depois começou a rir também, e descemos juntos as escadas, rindo como bobos, eu ainda de pijamas. Pensei por um minuto que não era tão ruim viver assim, minha mãe é maravilhosa, meu irmão, Lara, meus amigos...
Nunca fui de ter muitos amigos, mas tenho bons, não era aquele menino que apanhava no colégio, ou era excluído, mas também não era o que chamam de popular.
Percebi os suspiros de esforço que a mãe fez descendo os degraus, mas ela não gosta que sintam pena dela, entao só fingi que nada aconteceu e deu mais firmeza ao braço que a apoiava.
Deixo ela sentada no sofá e disco o número do Elísio sentado na poltrona de veludo preto.
Tuuuup...Tuuuup...
Estou quase desistindo, por que ligações telefônicas custam muito caro, até para a minha família, quando ele atende com seu familiar sotaque cantado.
- Olá Elísio, como est...
- Lucas, pode vir aqui em casa hoje?

Tem algo errado com ele, a voz está muito estranha, transbordando um sentimento que ainda não identifiquei.

- An, acho que posso. Tá tudo bem, cara?
- Sim, por que sempre perguntam isso?
- Não sei, desculpa. Vou aí as 15:00, pode ser?
- Ficarei esperando.

Ele diz, é desliga o telefone. Algo aconteceu com ele. Ele passa horas no telefone se você deixar ( e se ele tiver ligado a cobrar), e dessa vez mal me cumprimentou. Bem, nem mesmo me cumprimentou, essa tarde pelo visto, promete.

Antes que o tempo acabeOnde histórias criam vida. Descubra agora