Capítulo 13

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- Boa noite. Gostaria de falar com a Sofia, ela está disponível?
Ouço um soluço abafado do outro lado da linha.
- Não, não está. Era amigo dela?

Era?

- Sim, mas não tenho notícias dela já faz alguns d... - Elísio gesticula pra mim e fala sem som a frase 2 semanas. - Algumas semanas, está tudo bem?

Os soluços viram um choro dolorido.
O telefone fica mudo por uns 5 segundos, mas parece que o tempo parou.

- Alô? Senhora, alô! Está aí?

Assim que concluo que a ligação caiu e vou apertar o botão de desligar, a mulher fala:

- Ela se foi, meu filho, de repente...duas semanas atrás...num acidente de carro, tão jovem, tão jovem...

Agora a mulher do outro lado chora aberta e compulsivamente. Duas semanas?

- Eles nunca acontecem, nunca, mas pra ela aconteceu!... ela entrou na contra mão, filho, chovia tanto, estava sozinha no carro, vindo do centro pra casa...Ninguém sabe onde ela estava, e o que fazia, mas acharam muitos comprimidos no carro, eram fortes...ela, ela, ela tava muito triste, diferente mesmo...tinha ido uns dias atrás até um lugar na periferia... Queria voltar no tempo filho, proibir que ela saísse de casa, da casa dela... - ela chora muito forte, meus próprios olhos me traem e ficam húmidos, Elísio estampa uma expressão confusa, mas posso dizer que está muito perto de compreender o que se passou. Não posso ouvir mais nada, não consigo mais...

- M-me desculpe, senhora, me perdoe. Sinto muito. Me perdoe.

Desligo o telefone.

Ah meu Deus!

Como vou falar para esta criança assustada que me encara com olhos esperançosos e confusos, que o amor de sua vida...morreu, prematuramente? E que estava em algum tipo de depressão por causa desse lugar misterioso...o que será que aconteceu lá? Sofia sempre foi muito forte, e muito doce também. Pobre Sofia, é inacreditável.

- Elísio...

Começo. Vai ser a frase mais difícil de dizer da minha vida toda.

- Ela...ela se foi. Num acidente de carro. Mas não se sabe de mais nada. Sinto muitíssimo, cara.

Eu o abraço forte, ele está tremendo muito, em completo colapso. Não vou dizer a ele que ela voltava da casa dele na última noite em que se viram, nem que ela estava se drogando antes de perder o controle. Quem sabe que tipo de coisas a atormentavam a ponto de querer entorpecê-las! Às vezes, as pessoas não precisam saber a inteira verdade. Às vezes, não podem saber.
Desespero toma conta dele e ele cai no chão de joelhos, me soltando. Está lutando para encher seus pulmões de ar. Pobre Elísio, pobre casal. Me abaixo e tento ajudar, mas ele me empurra e cai no chão. Entro em desespero, seu rosto está vermelho e molhado de lágrimas, seus olhos piscam lentamente, de sua boca semi aberta escorre saliva, ele parece... em transe, como se tivesse abandonado o corpo ali, deitado. Vou até à cozinha pegar um copo d'água, para ele beber, ou para jogar nele e despertá-lo. Seja o que for, o que não posso é ficar olhando enquanto ele definha.

Antes que o tempo acabeOnde histórias criam vida. Descubra agora