Capítulo 18

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Silêncio. Suspiros. Soluços. Gemidos. Choro. Tudo isso em segundos infinitos entre uma respiração e outra de Marco.

- O-o que tem ele?
- Eu estava vindo visitá -lo, queria saber se tinha passado nos testes da polícia, mas quando cheguei a porta estava fechada e ninguém respondia. Tive que arrombar, e foi bem dificil, na verdade tive que pegar uma barra de ferro da calçada e..
- Marco.
- Desculpe. Então, quando entrei..   

Mais silêncio. Meu coração está correndo feito louco.

- Quando entrou...?
- Ele estava pendurado pelo pescoço, com uma corda apertada, o rosto púrpura e ... sem vida...

Ouço um grito gutural. E mais choro, forte. Ah Meu Deus, fui eu que gritei. Meu peito se apertou e lágrimas escorreram seguidas umas das outras. Do outro lado da linha Marco soluça também, e logo Lino está descendo as escadas a toda velocidade, só para encontrar caído no chão, com a visão embaçada, seu irmão mais novo. Cujo amigo acabara de tirar a própria vida.

Tudo é calmo e tranquilo aqui, mas tão claro e ofuscante, nada é definido...acho que o termo seria passivo. Não consigo me mexer, nem formular pensamentos inteiros, mas me sinto tão bem, leve, em paz.

A paisagem começa a escurecer aos poucos, e algumas coisas começam a aparecer, uma brisa suave, um zumbido baixo, aromas bem sutis. Ao mesmo tempo vou me sentindo cada vez mais pesado e preso, ainda não tem nada que incomode.

Quando mexo os olhos bem lentamente, vejo contornos e cores. Consigo sentir as coisas com mais precisão. Minha garganta está seca, meu estômago dói, assim como as minhas articulações. Toda a sensação de leveza se foi, substituída pelo peso e pela dor. Mais de um tipo de dor.

Muito lentamente, vou obrigando meu corpo a me responder, tento mexer os dedos do pé, abrir os olhos, meu pulmão funciona sozinho, e percebo uma cosquinha no nariz. Meu irmão estava aqui, sei disso. Ele segurou minha mão. Me sinto sufocando.

Finalmente, a dormência vai abandonando minha mente, e consigo definir algumas coisas. Estou no hospital, ligado à máquinas de oxigênio e soro, Lino está comigo, ele parece exausto, eu deixei ele assim, eu não...não queria voltar para isso.

- Lino..- minha voz sai horrível, e o esforço para falar faz minha cabeça latejar.
- Aqui. Lucas, oh, graças a Deus.
- O que houve?

Ele respira fundo e encara meu eu meio conciente.

- Você teve outro lapso de consciência. Mas já está tudo controlado, foram diminuindo as doses de medicamento ao logo do tempo.

Preciso saber uma coisa.

- Há quanto tempo estou aqui?

Ele hesita novamente e me encara. Por quê que encara tanto?

- Hoje completam 5 dias.
- Oh

5 dias apagado do resto do mundo, submerso em mim mesmo, ou sabe se lá onde. Elísio já deve ter sido levado ao cemitério da Cidade Alta. Nesses 5 dias, não pude me despedir, nem me desculpar por não ter insistido que viesse comigo, ou agradecer por ser sempre meu amigo, até quando eu não merecia companhia. 5 dias que passei completamente perdido.






Antes que o tempo acabeOnde histórias criam vida. Descubra agora