Capítulo 12

33 6 0
                                    

- Quem é?
- Lucas. Lucas Cosanto.
- Já vou!
Após alguns instantes Elísio abre a grande porte de carvalho da sua casa, e eu quase caio para trás ao ver sua aparência. Graças a muita prática, sei ser discreto e fingir que não notei nada. Tenho feito muito isso. As olheiras envolta dos seus olhos estão absurdamente fundas, os ossos de sua costela se sobressaem na camiseta de tecido justo, o cabelo está completamente bagunçado e pelo estado de suas roupas, ele não as tem trocado com frequência.
- Pode entrar, tá bem frio aí fora.
- Obrigado. Está tudo bem contigo?

Ele sorri, mas é tão forçado que não convenceria nem uma criança. Como ele está estranho hoje...

- Sim, tudo indo. Queria falar com você sobre uma coisa, está com tempo?
- Deixa eu ver...42 anos e exatos 4 meses é suficiente? Por que receio que seja tudo o que tenho.

Ele começa a rir, dessa vez de verdade, e não consigo evitar rir também. As vezes, é melhor fazer piada do que drama com o que não tem jeito de qualquer forma.

- Acho que será suficiente, se você ficar bem quietinho aí sentado.

O humor da casa mudou drasticamente, e para melhor.

- É. - ele hesita, uma emoção estranha passa por seu rosto como uma sombra, rápida demais para eu poder identificar.
- É... - sorrio.
- Eu só estava com saudades suas, nunca mais nos falamos... e também, lembra da Sofia, né? - A namorada dele.
- É claro! Como ela está?
Ele desviou o olhar para o chão, mas voltou a me olhar. Ele suspira, dá pra ver a dor em seus olhos, no jeito como eles já não brilham mais.

- Eu não sei.
- Como assim não sabe?
- Ela..ela, bem, sumiu.
O que?
- Como assim, Elísio?
- Eu não sei, ok! Ela sumiu sem dar noticias, não sei se ela só quis acabar tudo, ou se ela foi raptada, ou abduzida, não sei!

Ele parece a ponto de explodir, na borda entre a sanidade e a loucura.

- Lucas, ela estava diferente, parecia com medo, ou receio, nas últimas vezes que nos vimos, mas ela disse que me amava e que viria no próximo dia, para irmos num restaurante novo. Só que ela não voltou. Nem no dia seguinte, nem em nenhum outro.

Ele começou a chorar discretamente,tentando segurar os soluços frios.

- Você foi até a casa dela? Ligou pra ela?
- Eu... sabe, como o gato na caixa... (*Uma teoria física, foi citada no Will e Will, do John green. Diz que, se tem um gato numa caixa fechada, antes que se confirme, ele está tanto morto quanto vivo, por que ninguém sabe.)

- Eu ligo, então. Elísio, não pode ficar nessa dúvida para sempre. Não é saudável!
- É. Mas seus pais não sabem nem que eu existo. Não sei se quero saber o que realmente aconteceu...tô com medo, Luke. Eu am... - Ele sussurra tão baixo que não consigo ouvir a última parte.

- Oh. Bem...não preciso te nomear, digo que sou um amigo. - Não sei como lidar com seu desabafo, não estou acostumado a amigos admitindo que estão com medo, então pego só o primeiro fato.

- Aqui. - Ele me passa o número discado no seu telefone móvel.
- Ok...
Aperto o botão de ligar e espero enquanto chama. Um ruído soa.
- Alô?

Antes que o tempo acabeOnde histórias criam vida. Descubra agora