Com aquele pensamento pervertido, um sorriso silencioso fica nos meus lábios por segundos, ele parece reparar e levanta as sobrancelhas em sinal de confusão.
"Do que te estás a rir?" Ele pergunta. Não lhe quero responder de maneira nenhuma. "Então?"
"Nada de mais... na minha vida e no dia de hoje." Ele não diz nada e eu encosto a cabeça ao banco, sei que ele está a olhar para mim. Cinco minutos passam e nenhuma palavra é dita, ele faz o mesmo gesto que eu, encostando a cabeça ao banco, e finalmente ele fala.
"Queres falar?" Devo? Não quero saber de devo ou não afinal a minha vida não pode piorar mais não é? Fecho os olhos e suspiramos em conjunto, o seu suspiro é muito mais grosso que o meu devido à sua voz. É estranho falar com ele, por mais calmo que ele esteja, quando solta uma palavra parece que vai gritar contigo.
"Tudo começou quando..." falo durante dez minutos sem parar e ele apenas olha para mim e acena com a cabeça. "É puro e simplesmente fodido!" Termino o meu discurso ele parece estar a pensar e a repensar no que acabei de dizer. Agora que estou a pensar direito, aquela esperança que eu tinha de encontrar o meu pai novamente transformou-se em raiva por ver aquela aliança no seu dedo. Agora, também percebo o porquê da minha mãe não querer que eu viesse para Lisboa, ela sabia que ele estava cá e não me disse. Isso irrita-me de uma maneira estranha e faz-me bater com a mão na minha perna. Agarro o meu telemóvel e marco o número da minha mãe, enquanto chama para ela agarro na minha mala e saio de carro. Como eu suspeitava, ele segue-me, mas sem palavras.
* início a chamada*
Filha! Como estás?
Quanto tempo mais?
O quê?
Por quanto tempo mais é que me ias esconder do pai?
Teresa, não é bem assim...
Não é bem assim!? Então é como? Como?
Teresa acalma-te! Eu ainda sou tua mãe!
Minha mãe!? Deve ser por isso que o pai tem outra aliança no dedo não é? Por causa de esconderes as coisas das pessoas!
Ouve-me!
Não! Ouve tu! Eu passei sete anos da minha vida a pensar que o meu pai tinha desaparecido do globo e afinal estava nem a três horas de mim! Tipo três horas quando o trânsito está calmo, mas isso não interessa. Não tinhas esse direito e sabes o que eu sou capaz de fazer agora?
Não...
Sou capaz de ir ter com o meu PAI e pedir desculpa por ter sido rude demais hoje e tentar conhecê-lo melhor.
*fim da chamada*Quando acabo de discutir com o meu telemóvel partido, os vizinhos do prédio estão a olhar para mim e eu coro de vergonha. O Miguel ri, como se fosse esquisito ele gozar com as pessoas.
"A sério?" Não percebo o que ele quer.
"O quê?"
"Como é que a tua discussão com a tua mãe e a distância do Porto a Lisboa, foi dar a trânsito? Explica-me." Ele ri.
"Não sei... acho que os nervos me põem confusa." Admito ele balança a cabeça. Ele é tão querido comigo, depende dos dias. Ele não me contou nada sobre ele ainda, mas não quero insistir com ele. Hoje foi o dia que vi o lado simpático, bondoso e compreensivo do Cristo. O que vai ser amanhã? Isto é, se eu o vir amanhã.
...
O fim-de-semana passa num estalar de dedos e nestes dois dias nem sinal de vida do Miguel. Será que ele pensou em me ver novamente?
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Ás Vezes - D.A.M.A (Concluída)
Fanfic"Ás vezes quando tudo parece dar errado, acontecem coisas boas na nossa vida que não teriam acontecido se tudo tivesse dado certo" Uma estudante universitária (Teresa) conhece um rapaz (Miguel Cristovinho). Vinda do Porto para Lisboa estudar gestão...