Capítulo 16

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Com aquele pensamento pervertido, um sorriso silencioso fica nos meus lábios por segundos, ele parece reparar e levanta as sobrancelhas em sinal de confusão.

"Do que te estás a rir?" Ele pergunta. Não lhe quero responder de maneira nenhuma. "Então?"

"Nada de mais... na minha vida e no dia de hoje." Ele não diz nada e eu encosto a cabeça ao banco, sei que ele está a olhar para mim. Cinco minutos passam e nenhuma palavra é dita, ele faz o mesmo gesto que eu, encostando a cabeça ao banco, e finalmente ele fala.

"Queres falar?" Devo? Não quero saber de devo ou não afinal a minha vida não pode piorar mais não é? Fecho os olhos e suspiramos em conjunto, o seu suspiro é muito mais grosso que o meu devido à sua voz. É estranho falar com ele, por mais calmo que ele esteja, quando solta uma palavra parece que vai gritar contigo.

"Tudo começou quando..." falo durante dez minutos sem parar e ele apenas olha para mim e acena com a cabeça. "É puro e simplesmente fodido!" Termino o meu discurso ele parece estar a pensar e a repensar no que acabei de dizer. Agora que estou a pensar direito, aquela esperança que eu tinha de encontrar o meu pai novamente transformou-se em raiva por ver aquela aliança no seu dedo. Agora, também percebo o porquê da minha mãe não querer que eu viesse para Lisboa, ela sabia que ele estava cá e não me disse. Isso irrita-me de uma maneira estranha e faz-me bater com a mão na minha perna. Agarro o meu telemóvel e marco o número da minha mãe, enquanto chama para ela agarro na minha mala e saio de carro. Como eu suspeitava, ele segue-me, mas sem palavras.

* início a chamada*
Filha! Como estás?
Quanto tempo mais?
O quê?
Por quanto tempo mais é que me ias esconder do pai?
Teresa, não é bem assim...
Não é bem assim!? Então é como? Como?
Teresa acalma-te! Eu ainda sou tua mãe!
Minha mãe!? Deve ser por isso que o pai tem outra aliança no dedo não é? Por causa de esconderes as coisas das pessoas!
Ouve-me!
Não! Ouve tu! Eu passei sete anos da minha vida a pensar que o meu pai tinha desaparecido do globo e afinal estava nem a três horas de mim! Tipo três horas quando o trânsito está calmo, mas isso não interessa. Não tinhas esse direito e sabes o que eu sou capaz de fazer agora?
Não...
Sou capaz de ir ter com o meu PAI e pedir desculpa por ter sido rude demais hoje e tentar conhecê-lo melhor.
*fim da chamada*

Quando acabo de discutir com o meu telemóvel partido, os vizinhos do prédio estão a olhar para mim e eu coro de vergonha. O Miguel ri, como se fosse esquisito ele gozar com as pessoas.

"A sério?" Não percebo o que ele quer.

"O quê?"

"Como é que a tua discussão com a tua mãe e a distância do Porto a Lisboa, foi dar a trânsito? Explica-me." Ele ri.

"Não sei... acho que os nervos me põem confusa." Admito ele balança a cabeça. Ele é tão querido comigo, depende dos dias. Ele não me contou nada sobre ele ainda, mas não quero insistir com ele. Hoje foi o dia que vi o lado simpático, bondoso e compreensivo do Cristo.  O que vai ser amanhã? Isto é, se eu o vir amanhã.

...

O fim-de-semana passa num estalar de dedos e nestes dois dias nem sinal de vida do Miguel. Será que ele pensou em me ver novamente?

Ás Vezes - D.A.M.A (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora