Capítulo 15

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Se abra comigo

Eu não via Dixon e Steve há dias, desde que estive na máfia pela primeira vez. E, desde que Solange já não fazia parte mais da vida de nenhum de nós, eles também já não conversavam comigo.

Todos os empregados se comportavam normalmente com sorrisos no rosto. Eles sabiam que Solange não colocaria mais os pés na mansão novamente, mas não sabiam que sua existência foi apagada completamente do mundo.

Meu passatempo era ouvir Mia contar algumas coisas sobre sua vida amorosa, ela parecia mais radiante que em meio aos afazeres ela cantarolava baixinho.

Com a ausência de Dixon e Steve, aproveitei mais para explorar a mansão e achei uma enorme sala com as luzes perfeitas para ser um estúdio de fotografia, mas não fiquei tão animada. Eu me sentia sozinha, Dixon não havia devolvido a minha câmera e sem ela eu não poderia fotografar nada.

Era Sexta-feira e com a consulta na fonoaudióloga cancelada, passei a tarde inteira entediada. Já estava noite, e novamente estava sozinha. Os guardas em seus postos não se importavam com a minha presença perambulando pela mansão.

Depois do ocorrido na reunião e com Solange, eu passei a observar mais as coisas. Pensava em Dixon mais vezes do que eu poderia contar. Em uma delas, achei que por pena dele poderia estar começando a nutrir sentimentos por ele.

Sentei-me na escada e escorei minha cabeça no corrimão, olhando para o enorme relógio no centro da sala, com seu tic-tac alto pelo ambiente silencioso. As coisas estavam acontecendo tão silenciosamente, e eu queria que passasse mais rápido. Queria saber as surpresas da vida para mim. Eu torcia para serem coisas boas.

O ranger da porta, chamou minha atenção. Dixon entrava sozinho, sem Steve. Ele não tinha notado minha presença, na escada. Fiquei observando-o parado após fechar a porta, encarando a mesma, como se algo nela fosse mais interessante que subir. Talvez, para ele fosse, não sei. Seu sobretudo preto, feito sobre medida, o deixava tão bonito.

Em meus dias aqui, eu não tinha visto nenhum deles com roupas casuais. Todos estavam sempre de roupa social preta.

— Dixon? — o chamei suave para não assusta-lo, mesmo sabendo que ele não se assustaria.

— Oi — ele respondeu baixo. — O que faz acordada? — ele perguntou ainda no mesmo tom. Se a sala não estivesse apenas com o som do relógio seria impossível ouvir sua voz.

— Está tudo bem? — respondi com outra pergunta, vendo ele se aproximar lentamente.

Ele estava estranho, diferente. Nada com sua atitude superior.

— Não sei dizer...

Ele sentou-se ao meu lado, entrelaçando suas mãos uma na outra olhando fixamente para elas.

— Por quantas vezes, eu não soube em que acreditar, ou sonhar. Em meio a tantas fugas, eu teimei em me apegar, para me esquivar de tudo...

Eu não entendia suas palavras, mas não queria comentar e perder a chance de saber o que ele sentia dentro de si. Ele estava se expondo, diferente da vez em que dormimos no mesmo quarto.

— Eu sou um mafioso — prosseguiu. Suas palavras soaram como perguntas descrentes de si mesmo. — Posso lidar com tudo o que a maioria das pessoas tem medo. Passei por vários perrengues. — Dixon me olhou e sorriu, talvez, pelo fato de estar usando a palavra da minha maneira. — Sou ser humano, como todo mundo, tenho sentimentos. Mas fico perdido, em meio ao oceano, tentando entender o que sinto e ver se consigo chegar a terra. Quantas verdades eu criei sem medo de errar pra me esquivar, mas na verdade sei que a verdade dói. Algumas vezes dói. Eu não consigo sozinho.

Verdadeiro Sequestro, uma história de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora