Estupor

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"Eu me lembro que você disse 'não me deixe aqui sozinho', mas nesta noite tudo está morto, acabado e já passou..."

Ainda sentia a tremedeira tomando conta de meu corpo quando minha mãe estendeu a xícara de chã para mim. Já estava enjoada com o comprimido que eu havia ingerido, mas o cheiro do calmante natural me causava ainda mais vontade de vomitar.

– Eu... - Balbuciei afim de pronunciar algo, mas não achava as palavras em meio aos soluços.

– Bebe. Depois fale. - Sugeriu.

A dor que sentia em meu interior era descomunal, era como se uma parte de mim houvesse morrido. Um calor irritante me aquecia por dentro enquanto um estranho frio contornava minha pele. Sorvi o líquido rezando para que aquilo passasse. Parecia que eu havia acabado de acordar de um terrível pesadelo, ainda tinha esperanças de ainda estar em um.

– Melhor? - Perguntou se sentando ao meu lado no colchão.

Corri os olhos pelo aposento clean. Minha mãe havia me arrancado de meu quarto tentando cessar meu nervosismo e melhorar meu humor, os cookies haviam sido completamente esquecidos e o único lugar confortável e seguro da casa para mim era no quarto de meus pais, era ali que nos encontrávamos.

– Eu briguei com Demi. - Confessei baixinho interessada demais na xícara negra entre minhas mãos.

– Por que? - Foi gentil colocando uma mecha de minha franja atrás de minha orelha.

– Não sei exatamente. - Franzi o cenho com os olhos sem foco. - Aconteceu um pouquinho de cada coisa e virou uma bola de neve.

– Daqui a pouco vocês se acertam. Não conseguem ficar muito tempo sem se ver.

– Não sei não, mãe. É diferente. Eu fui uma idiota. - Cocei o vinco entre as sobrancelhas com dois dedos sentindo as lágrimas voltando à molhar meus olhos. - Disse que não queria mais vê-la. - Solucei deixando uma lágrimas teimosa cair.

Minha mãe levou a mão até meu rosto amparando as gotas salgadas que começavam a brotar de meus olhos.

– Não está esquecendo de me contar nada não? - A pergunta fez um sorriso amargo aparecer em meus lábios ressecados.

– Você já sabe. Não me faça confessar em voz alta.

O suspiro da Teefey chegou aos meus ouvidos, pegou a xícara de minhas mãos para colocá-la sobre o criado mudo antes de me puxar para deitar em suas pernas. Passou a mão pelas minhas costas, braços, rosto e queixo.

– Preciso que fale comigo, filha. - O mesmo tom gentil me fez fechar os olhos.

Meu coração bombeando sangue em alta velocidade, minha cabeça processando em uma velocidade que julgava ser impossível para qualquer pessoa, minhas juntas ficando completamente tensas.

– O que é que a senhora quer que eu fale? Que sou apaixonada pela Demi? - Falei rápido, rouca e de maneira sussurrada enquanto meu corpo gelava pela situação.

– Isso. - Respondeu correndo os dedos pelos meus cabelos. - E ela? Está apaixonada por você? - O tom receptivo e ainda gentil me fez respirar melhor.

Sabia que teria seu apoio, mas a prática me deixava muito mais confiante e à vontade.

– Mãe, é complicado.

– Eu sei que é. - Soltou o ar continuando o afago em meus cabelos. - Vocês estão tendo algo diferente? - Perguntou simples.

– Mãe, eu acabei de terminar tudo o que seja lá o que estávamos tendo. - Soltei mais alto perdendo um pouco a calma que não tinha. - Me desculpe. - Sussurrei me agarrando as pernas de minha mãe.

Everything (fanfic semi)Onde histórias criam vida. Descubra agora