"Quando.. Quando eu estava no palco, estava pensando.. Eu sinto que o conheço, eu conheço seu coração e sei de tudo o que ele jamais faria para me machucar.."
O sofá verde musgo já não me causava tanta antipatia como nas primeiras vezes. O barulho do relógio me fazia pensar que o tempo corria desenfreado, não me dando oportunidade para viver algo realmente significativo. Fechei os olhos com força balançando sutilmente a cabeça para afastar os devaneios que pareciam querer me engolir. Não pensar me fazia bem, não pensar deixava as coisas meio equilibradas.
- Você tem certeza de que não quer uma indicação? – A voz da Doutora Sullivan me puxou para fora de minha própria cabeça. – Eu tenho ótimos conhecidos em Los Angeles que cuidariam das suas sessões tão bem quanto eu.
Batuquei os dedos no braço do estofado olhando a face conhecida da mulher. Eu estava de partida para minha vida rotineira, a medicação havia sido bem aceita pelo meu organismo e a terapeuta tinha feito sessões extras para garantir minha autonomia durante um mês, porém, o receio em me deixar sem assistência ainda era existente.
- Eu não me sentiria confortável. – Respondi calma ganhando um aceno compreensivo da doutora. – Eu acho que consigo não surtar dentro de um mês. - Ri sem humor ganhando um sorriso fraco da mulher que anotava algo no bloco de papel.
Eu não me sentiria confortável mesmo. O ponto de confiança que havia adquirido com a mulher era algo que eu julgava ser impossível de se repetir com um outro profissional da área.
- Tudo bem. – A terapeuta tirou os olhos do papel mirando em mim. – Selena, é importante você saber que os remédios não te deixam imune a pequenas recaídas.
- Sim. Eu sei. – Aprumei o corpo sentindo serem os últimos tic-tac do relógio naquela sala.
- Seu progresso foi incrível. – Sorriu fraco demonstrando certo orgulho e senti minha face esquentar. – Você é incrivelmente madura para a sua idade, mas ainda precisa trabalhar em quem você é.
Concordei com a cabeça recordando das infinitas conversas sobre minha própria identidade. Para solucionar um problema exterior é necessário estar com o interior resolvido, dizia ela. Mas uma coisa que eu ainda não estava era resolvida internamente e era essa a nossa preocupação.
- Eu sei. – Suspirei tentando não demonstrar meu medo por viver. – Eu acho que poderei trabalhar melhor nessa questão dentro do meu habitat natural. – Cocei a nuca aguardando por uma concordância da mulher.
- Sem dúvidas. – Sorriu mais confiante se levantando com calma da cadeira. – Se concentre em você, Selena. Se precisar parar, pare. Se não quiser fazer, não faça. Sinta o que quiser sentir. Se descubra. E por favor.. – Caminhou até meu lado quando o tempo já havia acabado. - Por favor, não retenha.
-x-x-
Não retenha.
Era meu quinto dia em Los Angeles e ainda não havia contatado a Lovato. Esse detalhe era a única coisa que me perturbava porque o acordo era resolvermos o que quer que fosse para resolver quando eu voltasse, mas meu medo por abandonar a concentração em mim e ceder à dependência dela era maior.
Bebi do suco doce amaldiçoando os remédios controlados que me impediam de beber algo com álcool. Não que eu precisasse, mas o cheiro dos drinks junto ao meu suco de laranja puro na mesa fazia minha língua implorar por uma gotícula de teor alcoólico.
- O que você tem? – A voz fina ao meu lado tirou minha atenção dos copos.
- Nada. – Ergui os ombros olhando estranhamente para a morena. – Por quê?
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Everything (fanfic semi)
FanfictionPermaneci de pé no meio da sua explosão, senti mais dor do que se fosse a minha carne se rasgando, mas permaneci contigo. Você foi o meu mundo, meu tudo. A pergunta é: Em algum momento eu fui o seu?