Alívio

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"Estou condenada se eu fizer e condenada se não fizer. Então, estou aqui para brindar no escuro ao final da minha estrada. Estou pronta para sofrer e pronta para ter esperança. É um tiro no escuro mirando direto na minha garganta, pois buscando pelo paraíso, encontrei o demônio em mim..."

Estreitei mais os olhos fitando o movimento que a árvore em meu jardim fazia no fim de tarde. Naquela altura já não escutava mais nada do que Priscilla me dizia ao telefone. Meu pensamento estava longínquo e a cada dia que passava a inércia à qual me afundava parecia ainda maior. Eu não sabia o que era pior: o sentimento de ser uma inútil ou o vazio que sentia ao não ter contato com Demetria.

– Talvez consiga vir passar pelo menos o natal.– A voz familiar me despertou do transe o qual me encontrava. - Vovó está com saudade.

– Tem reclamado? - Sorri fraco com a voz grossa.

– Todos reclamam, Sel. Você é nossa princesinha.– A declaração de minha prima me fez suspirar inconscientemente. - O que foi, cariño?

– Só estou cansada. - Me espreguicei no banco de madeira que ficava na varanda de minha casa.

– Cansada do quê?– A voz intrometida querendo ir mais à fundo.

– Como assim?

– Do dia, da semana, do trabalho..

– Da vida! - Respondi simplesmente recebendo o silêncio como resposta. - Está tudo tão sem vida, tão sem graça. - Confessei fechando os olhos.

A verdade era que eu estava irritada. Acordar me irritava, falar me irritava, respirar me irritava, as sociais me irritavam, o sorriso que eu era obrigada a dar me irritava, não ter a única pessoa que eu queria ao meu lado me irritava.

– Você quer conversar?– A voz receosa de minha prima me fez trincar os dentes.

Havia proibido todos ao meu redor à tocar no assunto, até minha mãe que sempre era meu colo nos momentos depressivos. As noites parecia que o buraco se tornava maior, a ausência de distrações do dia fazia meu corpo ficar vazio e minha mente viajar recordando de momentos simples. Em uma das noites solitária a chuva veio me fazer companhia, molhando a janela e trazendo o vento gélido para dentro de meu quarto. Instintivamente busquei meu celular no criado mudo procurando pelo nome curto na agenda, mas hesitei em telefonar. Demi havia deixado bem claro que não queria que eu entrasse em contato e Dallas havia me avisado que a Devonne não estava apta à usar telefone na clínica. Em um ato impulsivo apaguei o nome ali gravado repetindo o ato nos números que possivelmente me levaria até ela.

– Selena? Você ainda está aí?

– Oi, Priscilla. - Respondi com a voz baixa.

– Fala comigo!– Minha prima rosnou indignada.

– Não há o que falar. - Soei indiferente. - Bom, preciso desligar. Tenho um jantar agora à noite, preciso me arrumar.

– Hã.. Okay. Qualquer coisa me liga? – O tom ainda receoso.

– Sim. - Fui firme.

Encerrei a chamada e ofeguei. O turbilhão que escondia de mim mesmo parecendo me asfixiar com violência. Cruzei os braços sobre meus joelhos abaixando a cabeça entre eles tentando respirar, a dor no peito parecendo não ter cura. Em um dado momento senti as mãos quentes e maternas tocarem em meu corpo e me puxar para o abraço acolhedor. Me deixei embalar pelos carinhos e a canção de ninar antiga até que minha respiração voltasse ao normal.

– Não precisa ir ao jantar se não quiser. - Ouvi a voz de minha mãe. - Eu e Brian arrumamos uma desculpa..

– Não, mãe. - Neguei aos suspiros. - Eu vou. É melhor. Só assim não fico pensando.

Everything (fanfic semi)Onde histórias criam vida. Descubra agora