1 - Encontro

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Despertei. Meu celular estava tocando, com relutância, peguei-o sobre o criado-mudo que havia ao meu lado.

Que sonho mais louco...

Observei a tela luminosa do aparelho, e no canto superior esquerdo, letras pequenas marcavam "6h".

— Susana, desligue essa droga de despertador e levante! Não quero que se atrase para o primeiro dia de aula, menina! — Gritou meu pai, provavelmente ele estava na sala tomando sua xícara de chocolate quente matinal.

Esse é o impetuoso Sr. Albuquerque, dono de uma pequena loja de doces na cidade onde moro: São Gabriel, uma cidade do interior de São Paulo, que está em constante desenvolvimento -só que não.

— Vá acordar sua irmã. — Ouvi meu pai dizer a Heloíse, minha irmã de apenas quatro anos de idade.

Ah... que ótimo.

Cobri o rosto com o travesseiro.

— Su... — Chamou-me Heloíse enquanto subia em minhas costas. — Papai falou pra você acordar.

— Vá dormir, Ise!

Ela começou a pular em minhas costas.

— Isso dói! — Exclamei, fazendo-a rir.

— Ah, você quer rir?

Virei-me para ela e a prendi na cama com uma das mãos, com a outra, fiz cócegas em sua barriga. A garotinha começou a rir alto.

— Meninas! — Repreendeu-nos meu pai, num tom sério.

Mas eu percebi que ele estava quase rindo ao nos ouvir.

— Seu cabelo está engraçado. — Observou minha irmã, engasgando-se numa risada genuína, como se o fato do meu cabelo estar bagunçado fosse a coisa mais engraçada do mundo.

Eu apenas revirei os olhos e levantei-me, fiquei de frente para um espelho com moldura branca que eu colocara em meu quarto semanas antes. Realmente, meu cabelo estava horrível. Fui ao banheiro e lavei o rosto, depois, umedeci os meus cachos e apliquei neles o primeiro creme que vi dentro do armarinho que havia no cômodo. Voltei ao quarto rapidamente, vesti uma calça jeans que estava jogada no chão -eu devia tê-la usado na noite anterior, mas não conseguia me recordar-, coloquei a camiseta branca com gola azul marinho do uniforme da escola, e em seguida busquei um tênis na sapateira e o calcei o mais rápido que consegui. Observei Heloíse, ela tentava -sem sucesso- passar um batom rosa em seus pequenos lábios. Eu apenas sorri. Saí do meu quarto e corri até a cozinha, apanhei um pacote de biscoitos de chocolate e preparei uma xícara de café quente. Depois do café, corri até o banheiro novamente para escovar os dentes, aproveitei para passar um brilho labial, fui até meu quarto outra vez e passei só um pouco de perfume. Olhei-me novamente no espelho, satisfeita, embora soubesse que Juliana certamente reprovaria.

Estou bem para o primeiro dia de aula...

Peguei minha mochila que estava no sofá e fui até a sala com Heloíse grudada em minha perna.

— Faz chocolate pra mim. — Pediu.

— Ise, eu estou atrasada... peça ao papai.

— Ah... tá bom.

Ela foi correndo e sentou-se no colo do nosso pai, amassando o jornal que ele estava lendo com muita atenção, como se entendesse tudo sobre economia. Sorri ao vê-lo beijá-la na testa.

— Tchau, pai. — Falei, já saindo de casa.

— Boa aula! — Ele gritou no momento em que fechei a porta de madeira escura e envernizada da sala.

Abra os olhos, Anjo (livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora