Narrado por Jack
Eu havia ido até a casa que Luca alugara por volta das 23h da noite anterior, mas meu irmão estava muito nervoso, Ana e eu o aconselhamos a descansar um pouco a mente e dormir, tentar falar com Susana por sonho. Já de manhã, ele estava na cozinha quando me levantei, parecia não ter conseguido dormir a noite inteira, havia olheiras profundas em seus olhos, mas eu sabia que não era de sono, sentei-me na cadeira ao lado dele e toquei seu ombro, Luca apenas fitava o vazio à sua frente.
— Conseguiu? — Indaguei, esperando que ele entendesse.
— Tentei, mas não consegui me conectar a ela... Não consegui entrar em sua mente para lhe dar um sonho, é como se ela não...
— Cara, está tudo bem, nós vamos conseguir.
— Não está tudo bem. — Luca rebateu. — E a culpa é minha.
— Não é sua culpa, você não podia imaginar que...
— Eu devia estar ao lado dela, Jack.
Respirei fundo. Sim, ele tinha razão, a culpa -em parte- era realmente dele. No entanto, ficar se culpando adiantaria alguma coisa? É claro que não.
— Nós a procuraremos, e vamos achá-la. Hector deve saber, sei lá...
— Eu fui até a casa de Enrique ontem, ela não estava lá... Na verdade... — Luca pareceu pensar por um instante. — Enrique também não estava, ele não me atendeu... pode ser que os dois estejam juntos.
Eu sabia que ele estava apenas tentando crer que Susana estava bem, mas era óbvio que algo estava acontecendo, afinal, se ela estivesse com Enrique, ele teria conseguido entrar em seus sonhos. Mas aquilo era a melhor saída, manter-se fiel à ideia de que Su estava bem era a melhor saída. Eu mesmo estava tentando me agarrar a isso, afinal, eu também não podia sequer pensar em perder minha melhor amiga outra vez.
— Bem, vamos até a casa dele de novo, então.
Ele assentiu.
— Vamos. — Respondeu-me, então me encarou, seus olhos estavam sem brilho algum, exatamente como no dia em que Susana morreu vinte e um anos antes. — Você não dormiu essa noite, Jack?
Eu devia estar com uma cara péssima.
— Não muito bem, fiquei pensando onde Su pode estar, preciso de um bom café... Mas como não sabemos fazer algo que preste... — Dei de ombros e levantei-me, caminhando até a sala.
Encontrei um anjo pequeno estirado no sofá menor. Seu cabelo estava bagunçado e cobria seu rosto. Sei que eu devia parecer um bobo nesses últimos anos, mas aquela garota realmente havia me feito muito bem. Eu gostava de vê-la acordar todos os dias. Admito: espantava-me o fato de um anjo -que não precisa dormir- conseguir dormir por tanto tempo, mas nunca pensei que Ana fosse convencional, e sinceramente, ela era sensacional do seu modo. Sentei-me na beirada do sofá e tirei o cabelo escuro de seu rosto. Ela fez uma careta e coçou os olhos, então os abriu, e assim que me encarou, deu um largo sorriso. O tom escuro e misterioso dos olhos grandes dela era mais bonito do que qualquer azul que eu pudesse ter visto em minha vida toda.
— Bom dia, gatinha...
O sorriso dela se desfez.
— Por que me acordou? — Indagou, sentando-se.
Ah, sim. Eu também apreciava seu mau humor de quase todas as manhãs.
— Porque preciso de um café, e sou um inútil na cozinha. Luca é ainda pior, então...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Abra os olhos, Anjo (livro 2)
Fantasy***ATENÇÃO***: NÃO LEIA ESTA SINOPSE CASO AINDA NÃO TENHA LIDO O PRIMEIRO LIVRO, POIS ELA CONTÉM SPOILER DO MESMO. O TÍTULO DO PRIMEIRO LIVRO É "FECHE OS OLHOS, ANJO".............. Luca cessa sua caçada aos nefilins após a morte de Susana e tenta...