3 - O sonho

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— Lembro... — Soltou-me bruscamente. — Lembro que tive vontade de socar aquele garoto, ontem. Mas é claro que você não tem culpa, desculpe.

Afastei-me de Luca.

— Ah... tudo bem.

Eu me sentia estranha. Havia uma certa inquietação dentro de mim. Luca e eu nos encarávamos como dois desconhecidos, eu não sabia o que dizer ou o que fazer, mas não conseguia sair dali, nem era capaz de desviar o olhar.

— Su? — Juliana surgiu ao meu lado de repente, e tocou meu ombro. — Está tudo bem?

Despertei do transe.

— Sim, sim... — Respondi, baixando o olhar.

— Oi, meu nome é Juliana. — Apresentou-se ela a Luca. — Tivemos aula com você, ontem.

— É um prazer, Juliana. — Ele sorriu brevemente para ela, depois olhou para mim com um pequeno brilho nos olhos. — Até mais, Susana.

Assenti e o vi entrar despreocupadamente na sala na qual estávamos em frente.

— Por que ele estava segurando sua mão? — Juliana me perguntou, arqueando uma das sobrancelhas.

— Porque... — Invente algo logo! — Porque eu disse que não estava muito bem, ele pegou minha mão e disse que estava um pouco fria...

— Como você é esperta!

— O quê? É verdade...

Só que não.

— Sim, e eu sou a Angelina Jolie.

— Acredite, se quiser. — Dei de ombros.

O sinal irritante do prédio tocou e nós começamos a caminhar rumo à nossa sala.

— Tenho uma novidade! Parece que vai ter uma festa na casa do Luís, no fim de semana... é aniversário dele.

— Eu nem sei quem é esse cara.

— Ele está na nossa sala.

— Legal, não sabia que eu devia conhecer todo mundo desse inferno.

Juliana me olhou com descrença.

— Ele me convidou, e praticamente me obrigou a levar você, deve ter gostado da surra que você deu em Vitor. Talvez ele queira apanhar um pouco, também. — Ela sorriu maliciosamente.

Fechei os olhos e respirei fundo.

— Para o seu bem, vou fingir que não ouvi isso. — Respondi, somente.

Coloquei minha mochila sobre a carteira e joguei-me na cadeira.

— Que foi, Su? Não parece muito animada...

— Não é isso, eu...

Até pensei em contar a Juliana que eu talvez teria que me mudar, mas desisti, pois ela faria o maior drama na frente de todo mundo, o que provavelmente me faria chorar.

— Você o quê?

— Estou com sono, dormi mal essa noite. — Menti.

— Entendi... Ah, droga! Olhe para a porta...

Olhei. Lá estava a professora Floriana de História, como na segunda-feira, aquela seria a primeira aula do dia.

O dia começou bem...

A primeira aula passou demoradamente, Flor nos contou como eram realizadas as torturas nos campos de concentração com uma riqueza de detalhes bem... impressionante. As duas aulas seguintes foram de Filosofia e Inglês, respectivamente. Não foram ruins, mas também, nada legais, pois eu não conseguia me concentrar, apenas tentava -inutilmente- tirar Luca da minha mente, cheguei até a pensar em chocolates, mas nada, nada o tirava da minha cabeça! Aquilo já estava virando um tormento.

Abra os olhos, Anjo (livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora