38 - Final

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Esse é o último capítulo, Renascidos, mas ainda teremos o Epílogo!! P.S.: Não me matem. ♥♥

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Assim que despertei, minha visão demorou a se acostumar com a claridade que adentrava no quarto através da abertura no teto. Esfreguei meus olhos e sentei-me. Fitei o espaço ao meu lado, onde Luca parecia dormir tranquilamente. Um anjo caído dormindo daquela maneira? Eu devia tê-lo cansado na noite anterior. Eu estava apenas de lingerie, então coloquei novamente meu vestido e deitei-me novamente. Observei suas costas largas, e seu cabelo liso caindo sobre os olhos escuros, quando eu acariciei levemente seu rosto, ele me encarou com aquelas íris negras, e deu um meio sorriso.

- Bom dia. - Saudei-o.

Levantei-me, deixando-o na cama, desci a escada, e fui para o banheiro. Olhei-me no espelho e pensei que tinha de ir à farmácia comprar "remédio", mas poderia fazer isso depois do café da manhã. Lavei meu rosto e respirei fundo, sem conter um sorriso ao constatar que aquela rotina, de acordar e encontrá-lo ao meu lado, seria mais comum quando nos casássemos. Quando saí do banheiro, senti um leve cheiro de queimado, caminhei até a cozinha e encontrei Luca tentando fazer torradas, na verdade, ele conseguiu fazer torradas. Comecei a rir e o abracei por trás.

- Não adianta... - Murmurou. - Sou um péssimo cozinheiro.

- Mas é excelente em outras coisas.

O anjo caído sorriu e segurou minha cintura.

- Tipo...?

Ergui os pés para conseguir falar ao seu ouvido.

- Muitas coisas que não podem ser ditas a essa hora. - Sussurrei.

Ele riu brevemente e beijou minha testa.

- Hoje... - começou ele, afastando-se de mim um pouco - pedirei sua mão ao seu pai, quero fazer isso direito. E isso será ótimo, porque... você vai passar a morar comigo.

- Nossa, isso com certeza não vai dar certo. - Exclamei, rindo.

- Isso dará muito certo. Preciso de alguém para cozinhar para mim.

Fuzilei-o com o olhar.

- Ótimo saber que só precisa de mim para isso.

Luca se aproximou rapidamente de mim e segurou meu queixo com suavidade, envolvi meus braços em seu pescoço.

- Eu preciso de você para não me perder de mim mesmo.

Eu não soube o que dizer, queria apenas poder registrar aquele momento, registrar aquele sorriso lindo à minha frente. Quando eu me sentei para o café da manhã, Luca foi ao banheiro, logo depois, sua campainha tocou. Levantei-me sem pressa, e caminhei até a porta, no momento em que eu estava prestes a abri-la, Luca aparece ao meu lado e respira fundo. De algum modo, ele parecia saber quem era. Permaneci atrás dele, esperando-o abrir a porta, surpreendendo-me imediatamente com quem estava atrás da mesma.

- Hector? - Exclamei, surpresa.

- Olá, meu Leãozinho.

- O que você está fazendo aqui?

- Vim buscá-la... - Respondeu como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. - Já perdi muito tempo, você precisa conhecer seu reino.

- Cale a boca, Hector. - Repreendeu-o Luca. - Vá embora.

Hector ignorou Luca completamente e entrou no cômodo, ele usava um terno inteiramente preto e seu cabelo escuro estava penteado para trás, dando-lhe um ar arrebatadoramente sombrio.

- Luca, você não percebe? Você não é bom o bastante pra ela.

Fuzilei-o com o olhar, como ele tinha a audácia de invadir a casa de Luca e lhe dizer tal coisa? Meu coração começou a bater de forma descompassada, eu pressentia que algo estava prestes a acontecer, deixar Luca e Hector discutirem não era uma boa ideia, ainda mais quando o mesmo poderia usar de tudo para me levar com ele. Puni-me mentalmente por não ter contado a verdade a Luca.

- E você é? Acha que fazer joguinhos tirará ela de mim? - Luca indagou, bem seriamente.

Fiquei confusa nesse momento.

- Joguinhos? - Questionei-o, então tive vontade de socar a mim mesma, estava claro o que aquilo significava, pena que percebi tarde demais.

Luca me encarou.

- Esse idiota tentou separá-la de mim, disse que vocês já... - Ele parou de falar assim que observou atentamente meu semblante.

Eu sabia que estava com um olhar desesperado. A culpa estava estampada em meu rosto e eu paralisei nesse instante. Minha respiração estava entrecortada, e eu o olhava como quem não sabia o que dizer.

- Luca... - Consegui murmurar.

- Não... - Luca balançou a cabeça negativamente, sorrindo ironicamente, como se não acreditasse. - Você não fez isso...

Antes que eu pudesse tentar impedir, as lágrimas já tomavam conta dos meus olhos, então eu me aproximei dele. Eu não podia mais mentir.

- Foi há muito tempo, na outra vida... quando você estava preso, quando eu achei que tinha me abandonado.

- Susana... por quê? Você acreditou tão fácil! - Exclamou. - Por que acreditou tão fácil naquele maldito bilhete?! - Gritou. - Como pôde acreditar que eu faria aquilo?

- Luca, por favor, eu errei, mas...

- Não, Susana! Por causa de um bilhete, você faz isso? Uma vingança valeu mais do que nós?

- Eu sei! - Gritei.

- Se ao menos tivesse me contado a verdade quando se lembrou de tudo... - Luca me olhou com desdém. - Mas você ainda o protegeu, como você...

Meu coração doía por vê-lo daquela forma, Luca estava tentando conter um choro, mas eu sabia que a qualquer momento, ele desabaria. E eu me sentia um monstro por ser a culpada. Tentei pegar sua mão, mas ele a repeliu.

- Acabou. - Luca respondeu somente, então se virou e saiu de sua casa.

Observei sua silhueta desaparecer na rua deserta e ajoelhei-me. Como eu pude ter mentido para ele? Como eu pude ter feito isso? Senti-me uma garota quebrada, eu estava em pedaços e não havia como juntá-los. Eu não me sentia digna dele, não me sentia digna de nada. Toda a dor que Devon e Jacó haviam me causado não eram nada comparadas àquilo. Eu sabia que o tinha perdido, mas doía saber que eu nem mesmo podia pedir mais desculpas. Eu não merecia. Vê-lo partir sem nem olhar para trás foi como se eu estivesse perdendo uma parte de mim. Gritei com todas as minhas forças e soquei o chão com uma das mãos, porém, não doeu, a dor em minha alma era mais forte e distraía-me da dor física. Eu quis ir até ele e implorar que me perdoasse, mas como eu poderia? Como eu conseguiria olhá-lo nos olhos e enxergar rancor dentro daqueles abismos negros que eu tanto amava?

Luca era o amor da minha vida, e eu havia estragado tudo. Não havia me sobrado nada.

Eu me sentia vazia, era como se ele tivesse levado todas as minhas emoções com ele e só tivesse deixado a culpa para trás. Tudo o que queria era voltar no tempo e não fazer nada que pudesse magoá-lo, não fazer nada que o deixasse olhar para mim daquela forma. Mas voltar atrás não era um privilégio que eu tinha. Então, ainda com lágrimas caindo descontroladamente pelo meu rosto, levantei-me, fechei os olhos e me lembrei da noite anterior, lembrei-me do cheiro, das cores, dos sons... Da voz dele dizendo que eu era tudo para ele... E decidi guardar isso em minha mente. Guardar sua voz e seu perfume de hortelã. Eu já havia decorado o perfume dele e sabia que nunca esqueceria. Respirei fundo e olhei para Hector, que me encarava com pesar. Então, o demônio de olhos azuis esverdeados estendeu a mão direita e arqueou uma das sobrancelhas.

- Vamos? - Sussurrou.

Hesitei por um instante, encarando-o. Em seguida, respirei fundo outra vez e ergui minha mão, encaixando-a na dele.

- Vamos.

Abra os olhos, Anjo (livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora