14 - Não me provoque

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Hector não me parecia a melhor pessoa para ser vista de mãos dadas na rua, mas ele fez questão de assim me levar até seu carro, um Chevrolet Prisma preto, que parecia ser tão bem cuidado quanto um bebê. Ele abriu a porta do carona para mim e eu entrei, um pouco relutante.

— Hector, para onde estamos indo? — Perguntei quando ele deu partida.

— Não sabe o significado da palavra "surpresa"? — Mesmo sem olhá-lo, eu sabia que ele estava sorrindo.

— Pode me levar ao mercado do Will? — Pedi. — Eu preciso fazer uma coisa. Na verdade... pretendia ir depois da escola, mas como faltarei hoje... — Expliquei.

— Will? — Indagou.

— É, aquele perto da minha casa...

— Tudo bem.

Não acredito que caiu nisso, Hector, então era mesmo você em minha janela, naquela noite...

Eu não soube dizer se ele realmente havia sido desatento o bastante para não perceber, ou se não se importava com o fato de eu descobrir que era ele quem me espionava. Hector estacionou ao caso em frente ao mercado on eu havia comprado as coisas para Scarlett, ofereceu ajuda, mas neguei. Desci do carro e entrei no estabelecimento, sabendo exatamente o que queria, fui em direção à área que servia como um mini pet shop e apanhei um saco de ração pequeno, depois, busquei pela prateleira de biscoitos e peguei alguns pacotes, bem como algumas frutas, então me dirigi ao caixa.

— Como está seu pai, Susana? — Perguntou-me Will enquanto cobrava a minha compra.

Ele era um homem de mais ou menos trinta anos, cuja filha pequena era uma grande apreciadora dos doces que meu pai vendia.

— Está bem, precisa ir vê-lo... — Comentei.

— Sim, Larissa vive dizendo que quer ver sua irmã. — Ele assentiu, lembrando-se de como a filha gostava de Heloíse, já que era apenas um ano mais velha do que a mesma. — Pode deixar que eu irei vê-lo.

— Certo, obrigada!

— Eu que agradeço.

Voltei até Hector, ele estava recostado no carro e gentilmente pegou as sacolas da minha mão, para que eu entrasse no veículo.

— Você se importa de ir até a praça Anchieta? — Perguntei a ele, esperançosa.

— Sem problemas.

Ficamos em silêncio durante todo o caminho, vez ou outra eu o olhava de esguelha, mas não obtive retorno. Respirei fundo quando chegamos ao local que eu havia pedido a ele, então, peguei as sacolas e disse que poderia permanecer no carro, mas Hector fez questão de me acompanhar. Caminhei entre algumas árvores até chegar a um banco de concreto onde um senhor brincava com dois cachorrinhos, os olhos do homem brilharam ao me verem chegar.

— Susana! — Exclamou ele. — O que veio fazer aqui à essa hora?

— Olá... eu não fui à escola, então decidi passar aqui mais cedo. — Expliquei. — Trouxe umas coisas para o senhor, uma vez me disse que gostava disso. — Disse-lhe, erguendo o pacote da padaria.

— Ah, não me diga que são...

— Sim, croissants... — Completei sua fala, e sorri. — Desculpa, eles não tinham de chocolate.

— Obrigado.

Estendi o pacote para ele, assim como as sacolas com seus biscoitos favoritos e as frutas. Então, peguei um dos filhotes no colo, cujo pelo era curto e claro.

— E você, coisa linda? — Observei os olhinhos escuros do bichinho. — Trouxe uma coisa para vocês dois... — Acariciei o outro, observando que ambos estavam antes enrolados numa coberta cinza, a mesma que eu havia dado ao senhor Ezequiel algumas semanas antes.

Abra os olhos, Anjo (livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora