17 - Angel

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Narrado por Enrique



Há uma semana, exatamente uma semana, meu coração parou.

Eu caminhava tranquilamente em direção a um café que havia visto quando chegara àquela cidadezinha por acaso. Bem, no momento, tudo o que eu queria era um lanche, um café e um sorriso. Sim, um sorriso de alguma garota, pois graças ao Luca, fazia tempo que eu não conversava com alguém, pois todo o tempo eu devia permanecer empenhado em caçar Lisa. Depois de anos, nós não a tínhamos encontrado, como ele ainda podia ter tanta esperança?

— Olá... Eu gostaria de um café sem açúcar, por favor... E um misto. — Pedi à atendente de olhos puxados.

Era uma moça de baixa estatura e belas curvas. Ela me chamou muita atenção, principalmente quando sorriu.

Acho que hoje é meu dia de sorte.

Era por volta das oito da manhã e o local já estava praticamente lotado. Repleto de pessoas de diferentes estilos, gostos e gestos. Eu, sempre muito observador, tratei logo de procurar por alguém um pouco mais interessante do que aquela atendente de pernas torneadas. Percorri meus olhos pelo local e... Paralisado. Foi como fiquei ao vê-la. Não, definitivamente, ela não era só mais interessante, como também a mais bonita, apesar do corpo pequeno e delicado. Sim, ela era de longe a moça mais atraente dali... E estava sentada sozinha numa pequena mesa perto da janela. Seus olhos percorriam com muito afinco o livro que segurava. Assim que peguei meu café e lanche, dirigi-me até ela.

— Bom dia, importa-se? — Quando ela negou suavemente com a cabeça, sentei-me na banqueta à sua frente.

Por um segundo, cheguei a pensar que ficaria sem uma resposta, mas então, seus olhos ergueram-se do livro e se fixaram em mim. E um sorriso discreto brotou em seus lábios.

— Bom dia.

Mas então, eu não soube o que dizer, fiquei sem reação por um tempo. Apenas observei com fascinação seus olhos cinzas, que eram incrivelmente belos e brilhantes. Foi impossível desviar o olhar.

— Eu... aceita um café? — Minha voz saiu mais baixa do que eu pretendia.

— Não, obrigada, eu só vim aqui para ler, pois gosto do aroma dos café e dos perfumes. O seu é maravilhoso, aliás.

Limpei a garganta e ajustei a gola da minha camisa.

— Obrigado, o seu também...

Ela riu. Era uma risada alta, que fez muitos clientes ali olharem em nossa direção, curiosos.

— Não passei perfume.

Baixei o olhar para disfarçar o constrangimento.

— Ah...

— Estou brincando.

Quando tornei a olhá-la, surpreendi-me.

— O quê? Seus olhos! — Exclamei, notando que as íris dela estavam com um tom mais azul agora.

— Eu sei... Não é demais? — Sorriu.

— Como faz isso? — Indaguei.

— Ah, isso não é nada, é só o meu humor variando... A propósito, eu sei o que você é...

— Então, você é um...

— Shhh... — Ela colocou o dedo indicador sobre os próprios lábios. — As paredes têm ouvidos. — Sussurrou, depois, colocou uma mecha do cabelo louro atrás da orelha e fixou o olhar azul em mim novamente.

A garota olhou pela janela e notou que o céu começava a desmanchar o manto cinza que o encobria, dando lugar a um novo manto, agora azulado.

— Isso não tem a ver com.... — comecei a dizer.

— Você é esperto. Interessante. Acho que acasos não existem, por alguma razão, encontramo-nos aqui hoje. — Fechou o livro e encarou-me.

— Concordo plenamente. — Afirmei, observando o formato delicado de seus lábios rosados e cheios.

Ela se levantou e colocou seu livro sobre a mesa, para que pudesse arrumar a saia do vestido rosa que usava. Desviei o olhar para o amontoado de folhas sobre a mesa, ela lia A Batalha do Apocalipse, coincidentemente, um dos meus livros preferidos. No entanto, não pude deixar de notar a ironia que aquilo demonstrava, um anjo caído apreciando histórias sobre eles?

— Espero vê-lo outra vez. — Sua voz me fez olhá-la outra vez.

Levantei-me quando ela passou por mim, mas eu segurei seu pulso gentilmente, fazendo-a se virar em minha direção novamente.

— Qual o seu nome?

Os olhos dela ficaram com um tom levemente violeta. E, céus, como estavam lindos! Então, ela ficou na ponta dos pés, para ficar mais próxima de mim, já que era tão pequena quanto a atendente. Depois, com os lábios próximos ao meu ouvido, disse baixinho:

— Pode me chamar de Angel.

Abra os olhos, Anjo (livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora