33 - A hora de renascer

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Jacó havia me trancado no quarto com alguns pães e uma xícara de café quente. Eu não queria comer ou dormir, apenas pensava em algum modo de libertá-lo da prisão mental de Devon. Eu não queria permanecer parada, à espera de Luca, mas não me parecia certo tentar fugir sem ajudá-lo. Respirei fundo, encarando o vazio. Estava cansada de tudo, talvez eu fosse um peso na vida de Luca, afinal. Talvez eu não fosse o certo, fosse apenas a coisa torta na vida dele. Mas eu realmente queria que nós dois nos endireitássemos juntos. Devon tinha razão, ninguém é completamente bom, mas então, fica a questão: quem é que entra no Paraíso após a morte? Apenas aqueles que não sabem diferenciar bem e mal, ou seja, crianças? Então, qual a lógica de tentar não cometer pecados se iremos para o Inferno no final? Essa pergunta não saía da minha mente, e Luca era parte de outro questionamento. Ele não era, necessariamente, bom, isso eu sabia, mas também não podia ser considerado o vilão da história. Cheguei a pensar que o tinha salvado das mãos de Devon, mas o mal que ele havia implantado nele ainda habitava em seu interior e havia se libertado no dia da arena, quando estava prestes a matar Hector. Eu não sabia como salvá-lo...

Na verdade, não sabia se Luca queria ser salvo.

Observei a cama na qual eu estava deitada, lençóis macios e cheirosos. Travesseiros feitos de plumas, provavelmente, o que me irritou profundamente, pois não concordo que devamos usar animais -ou parte deles- para nosso bel-prazer, afinal, já basta nos alimentarmos deles. Respirei fundo pelo que me pareceu a décima vez em cinco minutos, e caminhei até a cômoda, na qual havia um espelho redondo e sujo, fitei meu reflexo nele por tempo suficiente para descobrir que eu estava horrível, olheiras escuras se encontravam sob meus olhos, meu cabelo parecia mais um ninho e minha boca não passava de uma linha fina e sem expressão. Parecia doente. Talvez eu estivesse mesmo. Minutos depois, a porta se abriu e Jacó entrou.

— Olá, querida.

Não respondi, apenas me afastei dele, gesto esse inútil, já que ele foi até mim rapidamente. Idiotamente, uma lágrima escorreu por meu rosto, então, ele a secou com o polegar.

— Jacó...

— Já lhe disse que fica linda quando chora? — Sorriu. — O tom esverdeado dos seus olhos se intensifica.

— Você não vai sair dessa vivo, Jacó. Pare enquanto pode, Devon nunca vai deixá-lo vivo... — Tentei buscar um pouco da consciência do garoto que ainda havia nele, mas foi inútil.

— Jacó não está aqui. — Respondeu, somente. — Tem algo para você dentro desse baú, abra-o.

Isso com certeza não foi um pedido. Andei até o móvel escuro e grande no chão, ajoelhei-me, respirei fundo e o abri. Havia algo azul dentro dele, parecia um vestido.

— Isso... — Comecei a dizer.

— Pegue.

Peguei o objeto, era mesmo um vestido, muito bonito, por sinal. Era pesado também. Estiquei à minha frente para que eu pudesse vê-lo por completo. Ele era azul com pedrinhas brilhantes que iam desde o busto até o meio da saia, porém, quanto mais abaixo, menos pedrinhas havia.

— Muito bonito.

— Vai usá-lo hoje, em nosso baile. Tome um banho. — Sugeriu, indicando uma porta branca no cômodo. — Dito isso, deu-me as costas, saindo do quarto.

Deixei o vestido sobre a cama e o observei. Com toda certeza ele serviria em mim. Respirei fundo e fui até a porta que Jacó apontara, abri-a. Era uma suíte com uma banheira branca e muito bem limpa. Então, alguém tocou meu ombro. Dei um sobressalto e olhei para trás, surpreendendo-me com quem eu vi bem ali atrás de mim.

Abra os olhos, Anjo (livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora