1984, Janeiro

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Nadia

O dia havia sido monótono, primeiro foi a aula de natação, ficou de conversa com as amigas e acabaram fazendo um pequeno passeio pelo bairro, agora, estava de volta em casa.

Gritou por seu pai, mas, não teve resposta, nada de diferente, ele era segurança, trabalhava por turnos, as vezes cobria alguém, Nadia estava acostumada a ficar sozinha.

Em cima da mesa havia um envelope com seu nome, letra dele, havia dinheiro dentro, ela podia ver pois o envelope era fino, quase transparente, também deveria haver um bilhete.

"Nadia, minha pequena ursinha, papai teve de trabalhar, ou estou passando a noite com minha namorada, se tiver um namorado, traga ele hoje para casa e perca sua virgindade que papai nem vai saber !"

Nadia disso isso alto e ficou rindo de si mesma. Não abriu o envelope, podia fazer isso depois, foi até a geladeira, fez um sanduíche, ligou o som e ficou dançando sozinha na sala. Adorava poder fazer isso, se sentia livre, tinha treze anos e o mundo era seu. A melhor coisa que tinha feito foi ter ido morar com o pai, não aguentava mais as brigas com a mãe, o padrasto com seu ar "sou melhor que todo mundo" e as gêmeas, suas meias irmãs de sete anos, elas a enlouqueciam com suas perguntas sobre tudo, mexendo nas coisas dela, não tinha paz um minuto na casa da mãe.

Com o Pai, tudo era diferente, a casa geralmente era só dela, se não arrumava a casa, o pai não ligava, se arrumava, recebia elogios, quando o pai estava em casa ele era um doce com ela, prestava atenção em Nadia, conversavam, ajudava com os deveres da escola, ou ao menos tentava, pois tinha mais coração do que inteligencia, só que ela nunca deixava seu pai perceber que na verdade a atrapalhava mais do que ajudava a estudar, pois adorava aqueles momentos.

Até da namorada dele ela gostava, justiça seja feita, nunca a levou para dormir lá desde que Nadia chegou, havia um ano e meio. E, quando ela ia, era divertido ter uma mulher mais velha, bonita, arrumada, lhe dando dicas de beleza.

Mas hoje Nadia sabia que teria a noite para si, por isso subiu as escadas para seu quarto, jogou suas coisas na cama, tomou um banho demorado e tirou um livro da Anais Nin de seu esconderijo, debaixo do estrado da cama, ia ler e sonhar com experiencias que nunca havia tido.

Nadia acordou assustada, havia sonhado que era uma artista, pintava um quadro de um modelo vivo, e o modelo era Noiare, um dos colegas de classe, mas, o sonho não importava, tinha certeza que tinha ouvido um barulho.

Foi na ponta dos pés até a escada, e viu dois homens desconhecidos na sala, um deles tinha aberto o envelope que seu pai deixou, lia o bilhete, depois, botou tudo no bolso e e se dirigiu a escada. Nadia correu para seu quarto, trancou a porta, entrou no armário e se enfiou debaixo de alguns casacos. Logo, ouviu passos no corredor. A maçaneta girou.

Nadia não sabia o que fazer, podia correr para janela, mas, as pernas não respondiam, quando forçaram de novo a maçaneta, ela tomou coragem e saiu pela janela, mas eles já tinham arrombado a porta do quarto e um deles correu em sua direção, por sorte, ele era grande e não conseguiu passar pela janela.

Nadia corria pelos telhados, não conseguia gritar, estava apavorada, pulou para rua aproveitando que um dos telhados ia quase ao chão e saiu correndo pelas ruas vazias, até achar um carro de policia.

Parou os guardas, contou tudo a eles, eles foram com ela a sua casa, a deixaram no carro, os dois entraram na casa.

O tempo parecia não andar, Nadia estava tentando ver os policiais pela porta aberta, não tinha coragem de sair do carro. derrepente, seu coração parecia parar, a porta do carro abriu e uma mão tapou sua boca, enquanto outra segurava seus braços. Eram os dois homens, um havia aberto a porta do carro de policia enquanto o outro a imobilizou, agora, os dois a arrastavam para fora, para longe da segurança do carro de policia, para longe dos policiais, para longe de sua casa, fincou os dentes na mão do homem, sentiu o sangue dele nos lábios, mas ela continuou em sua boca, daqui a pouco, sentiu que o braço que lhe segurava o corpo subiu a seu pescoço, aproveitou e tentou chutar, arranhar, mas foi tudo ficando escuro, escuro e em paz.


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Sim, eu não tinha errado de nome de personagem, Nadia existe! rs. Aguardem, tem muita coisa por vir.

A Ordem NegraOnde histórias criam vida. Descubra agora